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Rua Caramuru (ex-Rua do Fogo) – Por Elmo Elton

Rua Caramuru, antiga Rua do Fogo - Década de 1920

Data do século XVII, sendo que seu primitivo nome assim se explica: Em 1640 os holandeses, que já tinham estado no Espírito Santo, voltaram a atacar a vila de Vitória. Uma esquadra de onze barcos à vela fundeou, a 27 de outubro, na barra do porto, sob o comando do almirante Koin e do conselheiro Newland. Dia seguinte, aquele almirante desembarcou na ilha, em companhia de seiscentos a setecentos homens, exatamente no Porto das Roças Velhas (depois chamado Porto dos Padres), os mesmos se dividindo em colunas, que dirigiram para diversos pontos da vila. Os habitantes, sob as ordens do capitão-mor João Dias Guedes, também auxiliado por outras pessoas gradas, como o vigário Francisco Gonçalves Rios, frei Geraldo dos Santos, os capitães Antônio Couto e Almeida e Domingos Cardoso e com a colaboração de trinta fuzileiros e duas companhias de índios flecheiros, reagiam prontamente ao assalto, conseguindo expulsar os invasores, após três horas e meia de luta renhida.

Registram-se, então, muitas mortes, sendo grande o número de feridos. A casa dos jesuítas "foi o centro de abastecimento e hospital de sangue, para tratamento dos feridos e enterro dos mortos". O caminho, que partia do cais de São Francisco para a parte alta da vila, palmilhado pelos holandeses, naquele avanço de conquista, recebeu, do povo, o nome de rua do Fogo. Após assim denominada, denominação que persistiu durante mais de séculos, eis que, em 1872, a artéria passou a chamar-se Caramuru. Ressalte-se que a mesma, então íngreme, escorregadiça e estreita, com calçamento pé-de-moleque, era também conhecida, pela irreverência dos capixabas, como ladeira do Quebra-bunda, tendo nela funcionado o Liceu Philomático, inaugurado a 28 de dezembro de 1910, sob a direção da Professora Ernestina Pessoa (Dona Nenen). Essa educadora formou os primeiros escoteiros, no Espírito Santo, cuja tropa era comandada, em 1920, pelo tenente Francisco Eugênio de Assis.

Esta viela desapareceu, de todo, no início da década de 30, surgindo em seu lugar uma outra rua com quinze metros de largura, de rampa suave, permitindo rápido e fácil acesso à cidade alta.

Para atingir-se este objetivo, foram demolidas as casas antigas, algumas assobradadas, todas com janelas de guilhotina, os telhados de telha canal, isso depois de prévia indenização aos seus proprietários, parte paga em dinheiro a vista, parte em terrenos. Todas essas desapropriações foram feitas amigavelmente, em ótimas condições, sobretudo para o governo do município, construindo-se, no local, em alguns casos, novos prédios para os primitivos moradores.

Com o fim de fazer as despesas do novo traçado, abriu-se um credito especial de 160.000$000, plenamente coberto com a venda de terrenos cedidos pelo governo do Estado à Prefeitura.

Meu pai, chegado, ainda criança, a Vitória, vindo do Porto do Cachoeiro, atual cidade de Santa Leopoldina, onde nascera, foi residir, com os pais e um irmão menor, na Rua do Fogo, sendo que, no dia da mudança, se encheu de pavor, de um modo jamais experimentado, implorando, então, o levassem, de novo, para o Cachoeiro. É que, ali, naquele mesmo dia, falecera um morador vizinho, portas e janelas se cobriram de crepe negro com debruns dourados, ativo cheiro de velas, de flores, de incenso impregnando a atmosfera, o sino do Convento de São Francisco, nas proximidades, badalando em responsos, choros e gritos de mulheres se ecoando por toda a redondeza. Eram as carpideiras, profissionais, de luto fechado, cabeleiras desgrenhadas, a prantear, histericamente, o defunto, pedindo a Deus, em orações desordenadas, seu descanso eterno, — um costume que vinha de longa data, da Vitória colonial, que perdurou, embora com a reprovação de muitos, até os anos da Guerra de 1914.

Um esclarecimento: A rua recebeu o nome de Caramuru, não em homenagem a Diogo Álvares Corrêa, o chamado Caramboró ou Caramurufilho do fogo, amigo do trovão — mas como alusão aos caramurus, assim apelidados os devotos de São Benedito, então com irmandade no Convento de São Francisco.

 

Fonte: Logradouros antigos de Vitória, 1999 – EDUFES, Secretaria Municipal de Cultura
Autor: Elmo Elton
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2017

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