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A Academia Espírito-santense de Letras na minha vida - Por Francisco Aurelio Ribeiro

Instalação da AEL no Clube Boêmio

Confesso que nunca tive ambições acadêmicas, mas impelido por dois grandes amigos, Miguel Depes Tallon e Renato Pacheco, entrei no IHGES, em 1992, e na Academia Espírito-santense de Letras, em 1993. Naquela época, não se candidatava como hoje, com disputa entre vários candidatos à mesma cadeira. Era mais uma ‘Ação entre Amigos’. Pegava-se o currículo de alguém, levava-se à reunião e aprovava-se o candidato. Hoje, é mais democrático, com edital, divulgação em redes sociais, campanha e, às vezes, rixas entre apoiadores diferentes. Em 13 de dezembro de 1993, dia de Santa Luzia, que nos conserve a visão, tomei posse em sessão presidida pelo então Presidente Cristiano Dias Lopes, no auditório lotado de amigos e colegas de trabalho, no IC2 da Ufes. Fui saudado pelo Carlos Nejar e, talvez, essa tenha sido sua última aparição na AEL, e, em meu discurso de posse, além de relembrar o patrono e antecessores na cadeira 6, como de praxe, me recorri a Italo Calvino, em suas propostas para o novo milênio, já que estávamos findando o século XX, e vaticinei a entrada de minha colega escritora Bernadette Lyra na AEL, como de fato ocorreu, 25 anos depois.

Nos três anos seguintes, 1994 a 1996, pouco participei da vida intelectual da AEL, pois estava à frente da Secretaria de Cultura da Ufes e, de 1997 a 1998, na coordenação do PPGL da Ufes, que tínhamos criado em 1994. Em 1998, ao final do mandato do Presidente Romulo Sales de Sá, fui pego de surpresa pelos mesmos Miguel e Renato, mais o Prof. Aylton e o desembargador Feu Rosa, que me impeliram a concorrer à Presidência da AEL, tendo Dª Maria Helena Teixeira de Siqueira como Vice. Acostumado a desafios, aceitei, mas não sabia a verdadeira situação financeira e jurídica da AEL. Ela tinha um passivo de mais de 30 mil reais com a PMV, por débito de IPTU, dívida trabalhista com uma ex-funcionária e nenhuma receita, pois, mesmo com a implantação do pagamento da anuidade, poucos acadêmicos o faziam. O que ocorre até hoje.

A AEL não podia fazer projeto para nenhuma lei de incentivo cultural, como a Rouanet, ou a Rubem Braga, pois estava negativada em todas as instâncias. No meu primeiro mandato e no de Dª Maria Helena, em que fui Vice, de 2001-2003, trabalhamos muito para sanear financeiramente e legalizar a situação jurídica da AEL. Com a ajuda inestimável do Prof. Aylton Bermudes, conseguimos fazer um acordo com a PMV, a dívida foi fracionada em prestações e paga, religiosamente, muitas vezes com meus próprios recursos, já que nem sempre havia dinheiro em caixa. Apesar de toda dificuldade, conseguimos manter a periodicidade de nossa Revista, lançada em 1991, na comemoração dos 70 anos de nossa instituição, na época do Dr. José Moysés na Presidência. O número seguinte, em 1998, foi pago pelo Dr. Romullo, com todos os recursos que tínhamos em caixa, 3.500,00, o que nos deixou sem um tostão para iniciarmos a administração. No entanto, a Revista saiu, em 1999 e 2000, ainda com o formato A4, e a partir de 2001, na administração de Dª Maria Helena, com projeto gráfico de Ronaldo Barbosa e novo formato, que permaneceu por uns dez anos.

Com a normalização jurídica, a AEL pôde fazer projetos e estabelecer convênios e isso foi feito com vários órgãos que coordenam projetos culturais no Espírito Santo, sobretudo a Secretaria Estadual de Cultura, o Sindicato de Artistas Plásticos Profissionais do Espírito Santo, a UFES, o IHGES, a Secretaria Municipal de Cultura da PMV, a AFEL, a Rede Estadual de Bibliotecas, o Sindicato do Comércio Atacadista e seu Instituto Sincades, dentre outros. Durante alguns anos, fizemos convênio com a Fundação Biblioteca Nacional, durante a existência do Programa Nacional de Leitura- o PROLER.

Com os recursos da Lei Rubem Braga, da PMV, a AEL pôde republicar o livro de Patronos e Acadêmicos, atualizando a edição organiza da por Elmo Elton em 1985, em 2002 e em 2006. Em 2008, juntamente com Thelma Maria Azevedo, publicamos um “Dicionário de Escritores e Escritoras do Espírito Santo”, e, em 2011, republicamos “Esmaltes e Camafeus”, de Guilly Furtado Bandeira, primeiro livro de uma escritora capixaba, ambos com recursos da Lei Rubem Braga da PMV. Em 2014, conseguimos fazer nova edição do livro sobre Patronos & Acadêmicos, com apoio da Lei Chico Prego, da Prefeitura da Serra. Também com a PMV, conseguimos recursos para a higienização e classificação de parte de nosso acervo bibliográfico e para a pintura externa e interna de nossa casa, em 2012.

A partir de 2007, começamos a estabelecer convênio com a PMV para a publicação de livros das coleções José Costa, Roberto Almada e Escritos de Vitória e até 2020 publicamos mais de 50 títulos nessas três coleções, com trabalho voluntário dos acadêmicos na organização desses livros, sendo 18 livros da Roberto Almada, 20 da José Costa e 12 edições da série Escritos de Vitória. De 2010 a 2016, a AEL firmou convênio com o Instituto Sincades para a realização de um concurso literário com colaboradores do setor atacadista, recebendo em contrapartida uma quantia para auxílio de um estagiário e de despesas de manutenção durante a vigência do convênio.

Em 2004, fui novamente eleito Presidente e, em 2008, reeleito. Em 2009, comemoramos, festivamente, o sesquicentenário de nascimento de Afonso Claudio, com uma série de palestras e um número especial de nossa Revista. Fizemos convênio com o Sindicato de Artistas Plásticos, cedendo-lhes, em comodato, o primeiro piso de nossa sede para manutenção da Galeria de Arte Virgínia Tamanini, homenagem à segunda mulher a entrar na AEL. Em 2010, assumiu a Presidência o historiador Gabriel Bittencourt, sendo eu o Primeiro Tesoureiro. Em 2013, fui novamente eleito para Presidente e reeleito em 2017, permanecendo até 2019. Com a eleição da Presidente Ester Abreu, neste ano, fui indicado como Presidente de Honra da AEL, após ter permanecido vinte e um anos na Diretoria, quinze como Presidente, em cinco mandatos, três anos como Vice-Presidente e três como Tesoureiro.

Neste ano, em que a AEL completa cem anos de existência, cabe ressaltar sua importância no cenário cultural capixaba, na presença de cerca de cento e setenta intelectuais, escritores e políticos que fazem parte de sua relação de patronos e acadêmicos neste um século de existência, em sua atuação social na publicação de livros e de revistas, na ida a escolas para divulgação do livro e da leitura em projetos como “Academia vai à escola”, na participação em conselhos, feiras, mesas-redondas, lives e em tantas outras formas de democratização do livro e da leitura, o que confirma seu papel de divulgadora e guardiã da memória da literatura produzida no Espírito Santo.

Enfim, a Academia Espírito-santense de Letras, após um século de vida, continua sua trajetória, sempre em busca de um futuro esperançoso, pois um sonho nos alimenta: ver nosso país socialmente mais justo, mais humano, mais leitor, em que a educação e as artes não sejam usufruídas por poucos, mas por todos.

 

Fonte: Fonte: Revista da Academia Espírito-santense de Letras / 100 anos – Vol 26. (2021) - Vitória
Autor: Francisco Aurelio Ribeiro. Cadeira 6 Presidente de Honra da AEL
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2022

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