A arte de fazer panela de barro
As panelas de barro de Goiabeiras são feitas utilizando uma série de elementos naturais e artificiais (matéria-prima), e procedimentos técnicos específicos.
Matéria-prima
Argila: é extraída de um barreiro do Vale do Mulembá, localizado no bairro Joana D’Arc, município de Vitória. Essa argila foi formada pela decomposição de rochas gnáissicas misturadas com feldspato, mica, argilitos, quartzitos e fragmentos de gnaiss e quartzo. Pelos seus resíduos, principalmente pela sua angulação do quartzo, verifica-se que o aluvião é local e que foi pouco transportado. Desses elementos, os fragmentos de quartzo são de extrema importância na funcionalidade das panelas, pois, juntamente com outros grânulos de areia, captam o calor quando submetidos ao fogo e depois o expande mantendo as panelas quentes por um período longo.
Ao ser extraída do barreiro, a argila recebe o primeiro tratamento com a retirada de algumas impurezas e do material orgânico visível, sendo a seguir transformada em “bolas” que são então transportadas aos locais de confecção. Registros históricos mostram que essa técnica é antiga pois “... a argila era moldada em pequenas bolas, de modo que oito bolas formavam um “bolo” que pesava aproximadamente 50 kilos...” (Pacheco, 1975).
Tanino: produto obtido da casca de uma árvore característica do mangue (Rhizophora mangle).
A sua retirada é feita deixando a metade do tronco com a casca para que a árvore não morra, técnica usada pelos índios. Depois de retirada, a casca é levada para um local apropriado aos procedimentos de extração da tinta. A seguir, é feita uma masseração através de percussão, utilizando-se um batedor de madeira ou ferro até reduzi-la em pequenos fragmentos. Após a masseração são colocadas em um recipiente com água para que haja liberação da tinta.
“... Isso aqui (diz apontando a casca em suas mãos), esse tom escuro da cascado tronco não dá na beira do mangue. Isso dá mais no centro (mangue) e dá muito trabalho de tirar...” “... Se eu bater na árvore e ela estiver fina, amarela, então não continuo a tirar...” (Seu Deco).
O tanino é usado para dar cor e, principalmente, impermeabilizar as panelas depois da queima.
Com a produção tomando um rumo um pouco diferente das técnicas tradicionais, devido à participação de pessoas sem compromisso com a tradição e, consequentemente, não usando os meios compatíveis com a preservação do meio ambiente, as cascas estão sendo retiradas de todo o tronco, fazendo com que as árvores do mangue sofram um processo degenerativo.
“... Se o mangue estiver para morrer, então eu tiro... Nem sempre dá para tirar toda a casca, só quando o tronco está velho, que eu sei que ele vai morrer, aí eu tiro todo...” (Seu Deco).
Madeira: componente que entra na parte final da confecção das panelas, ou seja, na etapa da queima. No passado, a madeira utilizada era a mesma de uso dos fogões de lenha nas cozinhas. Atualmente, com o controle do corte de árvores para venda como lenha, são usadas madeiras recicladas que foram utilizadas pela construção civil.
Fonte: Memória Viva – As paneleiras de Goiabeiras, 1997
Texto e Pesquisa: Celso Pereira, Jaime Roy Doxsey e Roberto A. Beling Neto
Fotos: Edson Ghagas
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2012
GALERIA:
Essa é a versão mais próxima da realidade...
Ver ArtigoComo judiciosamente observou Funchal Garcia, a realidade vem sempre acabar “com o que existe de melhor na nossa vida: a fantasia”
Ver ArtigoUm edifício como o Palácio Anchieta devia apresentar-se cheio de lendas, com os fantasmas dos jesuítas passeando à meia-noite pelos corredores
Ver ArtigoEdifício Nicoletti. É um prédio que fica na Avenida Jerônimo Monteiro, em Vitória. Aparenta uma fachada de três andares mas na realidade tem apenas dois. O último é falso e ...
Ver ArtigoEra a firma Antenor Guimarães a que explorava, em geral, esse comércio de transporte aqui nesta santa terrinha
Ver Artigo