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A capitania do ES em 1811- Por José Teixeira de Oliveira

Vila Velha no início do Século XX, ainda conforme relatou Tovar em 1811

De 1811, isto é, justamente do ano em que Tovar deixou a governança, é um depoimento de Francisco Manuel da Cunha, que apresenta a capitania em estado bem contristador. O comércio de Vitória – a darmos crédito às suas palavras(36) – só negociava em produtos da terra: açúcar, aguardente, café, milho, feijão, arroz e algodão – tudo em pequena escala, pois a agricultura estava como esquecida. As casas refletiam a penúria dos moradores e, se se arruinavam, não eram reedificadas. Não havia divertimentos, devido à pobreza, que era geral. As mulheres enchiam os seus dias fiando algodão, “percebendo deste trabalho unicamente três ou quatro vinténs”. Até o corte de madeira – uma das forças econômicas da terra – decaíra.

A minguada produção agrícola e industrial era transportada em pequenas embarcações, pertencentes aos comerciantes locais, para o Rio de Janeiro e Bahia. Raramente alcançavam Pernambuco ou Rio Grande do Sul. O sonhado intercâmbio com Minas Gerais continuava sendo uma utopia. As canoas que singravam o rio Doce conduziam apenas soldados, armas e munições.(37) A vila capital possuía nove igrejas e dois conventos.

A condição das demais localidades da capitania não era melhor. Referindo-se a Nova Almeida, Francisco Cunha observou: “vejo ali a miséria como no seu foco paternal”. Vila Velha possuía “quarenta casas pouco mais ou menos, e pela maior parte cobertas de palhas”, tendo desaparecido a “antiga navegação que ela nutria diretamente com a Europa e África”. Sobre Benevente, escreveu: “a inércia dos seus habitantes equilibra com os de toda a Capitania”. Por fim, esta observação valiosa: “desde o Rio Doce até Itabapoana a estrada é sempre pela costa do mar, e raras vezes dela se aparta”.(38)

 

NOTAS

(36) - CUNHA, Capitania, 240-7.

(37) - “As embarcações que para ali navegavam são unicamente aquelas que vão por ordem do governador conduzir por conta da Real Fazenda as munições de boca para a Tropa dos Pedestres destacados nos três Quartéis estabelecidos no dito Rio, por ser tanta a desgraça, a inércia, que nem a farinha de mandioca há ali para sustentação dos habitantes: proximamente a sumaca Conceição do Capitão-mor José Ribeiro Pinto apenada para conduzir 500 alqueires de farinha, 342 e ½ arrobas de carne seca do Rio Grande, um barril de pólvora, e o chumbo correspondente, tudo destinado para os Quartéis do Rio Doce, naufragou aí mesmo sem poder salvar-se cousa alguma, perecendo igualmente cinco pessoas, o que pouco antes tinha já sucedido a outra lancha. As margens do Rio Doce prometem as maiores vantagens, mas faltam-lhe braços. A barca que serve no mesmo Rio, e que foi feita na Aldeia Velha por Francisco Gonçalves pela baixa de um seu filho, tem servido, com marinheiros pedestres, para conduzir certos gêneros de negociações particulares” (CUNHA, Navegação, 4-7).

(38) - CUNHA, Capitania, 240-7.

 

Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, junho/2018

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