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A luta continua – Negros no Espírito Santo

São Mateus, 1908. Foto de Euthychio dOliver. Acervo: IPHAN-ES - Fonte: FaceBook, José Luiz Pizzol

Entretanto, fugas, revoltas e quilombos continuaram acontecendo. Em 1855, novamente a região de São Mateus foi agitada pelas manifestações de escravos que, usando o argumento de que já existia uma lei que proibia o tráfico, queriam o fim da escravidão imediatamente. Também essa manifestação foi reprimida, sendo preso e processado o líder, chamado Francisco Mota. Na mesma época, foram presos na Colônia de Santa Isabel vários negros suspeitos de serem fugitivos. Ainda nesse ano, foi noticiado que muitos negros escondiam-se nas matas de Viana, Araçatiba e Mamoeiro. Na Fazenda Palmas, em Santa Cruz, os escravos resolveram, em 1887, parar de trabalhar e protestar, pacificamente e sem armas, contra os maus tratos. Depois de três dias, voltaram ao trabalho sob a promessa de que receberiam um tratamento menos cruel. Porém, o administrador, com raiva, colocou uma turma para trabalhar num morro de difícil acesso e, como alguns escravos reclamaram, convocou seus capangas e promoveu um verdadeiro massacre, matando várias pessoas a tiros, cacetadas e facadas. Alguns sobreviventes foram castigados com chicotadas. Já no início de 1857, na Colônia de Santa Isabel foram encontrados quilombolas querendo comprar pólvora, chumbo, espoletas e espingardas.

Existia em Viana um lugar chamado Morro dos Escravos, onde se escondiam os fugitivos, e em Safra, Itapemirim, houve outra revolta de escravos em 1866 (35).

Como acontecia em todo o Brasil, na Província do Espírito Santo, paralelamente ao processo de ampliação das revoltas escravas, cresciam as manifestações pacíficas da sociedade civil para promover a libertação dos escravos.

Nesse sentido, destaca-se a atuação das sociedades abolicionistas, entre as quais podemos citar a Sociedade Abolicionista do Espírito Santo, criada em 7 de outubro de 1869; a Sociedade Emancipadora Primeiro de Janeiro; a Sociedade Libertadora Domingos Martins, de 1875; a Sociedade Abolicionista Espírito-Santense, de 1884; a Sociedade Abolicionista Literária Peçanha Povoa, de 1881, e a Sociedade Libertadora Beneficente do Rosário, de 1887 (36).

Finalmente, é importante comentar que, apesar da ação de leis, ligas e sociedades emancipadoras, a população escrava teve que continuar sua luta pela libertação e até mesmo intensificá-la. Dessa forma, as notícias continuavam anunciando novas revoltas de escravos. E aconteceu uma nova insurreição de escravos em São Mateus, em 1885, ocasião em que foi morto Cosme Francisco da Mota, considerado o comandante. Além disso, aumentavam as notícias de ampliação do combate aos quilombos, em face do aumento de seu número.

Viana, Araçatiba, Mamoeiro, Timbuí, Conde D’Eu, São Mateus e Cachoeiro de Itapemirim eram, nesse fim de século, apontadas como áreas de influência dos vários quilombos chefiados por Benedito Meia Légua, Nego Rugério e Princesa Jacimba Gaba, todos muito famosos como grandes guerreiros e importantes líderes da luta dos escravos pela liberdade.

Entretanto, a repressão violenta também se ampliava. Esse é o caso da matança de negros escravos em Santa Cruz, em 12 de outubro de 1887, a apenas um ano do fim oficial do regime de escravidão (37).

Concluindo, pode-se dizer que a luta dos escravos pela liberdade deu-se no Espírito Santo da mesma forma que no resto do Brasil. Além disso, o número de quilombos era tão grande que praticamente espalhavam-se por quase todo o território da província. Entretanto, apesar da violenta repressão, a resistência aumentou e foi incorporada pela sociedade livre.

Foi graças aos sacrifícios e lutas dos negros que as autoridades administrativas do Brasil acabaram cedendo às pressões, também internacionais, e foram, aos poucos, criando as leis para o fim da escravidão. Nesse sentido, muitos foram os heróis negros capixabas que lutaram pela liberdade.

Para os negros, o fim da escravidão não significou o fim dos sofrimentos e das humilhações, mas foi o início de novas lutas pelo reconhecimento da dignidade de ser livre; lutas por trabalho, salários justos, comida, saúde, educação e moradia; lutas contra o preconceito de cor, a discriminação racial e o racismo; lutas contra a violência policial, o extermínio das crianças e adolescentes negros; lutas contra a exploração das mulheres negras. Enfim, lutas em defesa dos direitos que a própria Constituição Federal atual estabelece para um cidadão brasileiro livre.

 

GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Governador

Paulo Cesar Hartung Gomes

Vice-governador

César Roberto Colnago

Secretário de Estado da Cultura

João Gualberto Moreira Vasconcelos

Subsecretário de Gestão Administrativa

Ricardo Savacini Pandolfi

Subsecretário de Cultura

José Roberto Santos Neves

Diretor Geral do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo

Cilmar Franceschetto

Diretor Técnico Administrativo

Augusto César Gobbi Fraga

Coordenação Editorial

Cilmar Franceschetto

Agostino Lazzaro

Apoio Técnico

Sergio Oliveira Dias

Editoração Eletrônica

Estúdio Zota

Impressão e Acabamento

GSA

 

NOTAS

(35) Sobre a Insurreição do Queimado existe uma bibliografia sobre a qual se destacam as obras de:CLAUDIO, Afonso. Insurreição do Queimado. Episódio da História da Província do Espírito Santo.Vitória. Editora da Fundação Ceciliano Abel de Almeida. 1979; SANTOS NEVES, Luis Guilherme.Queimado. Documento Cênico. Vitória. Edição do Autor, 1977; e Novaes, sem data, p. 201 a 225.

(36) Novaes, sem data, p. 132 e seg.

(37) Novaes, sem data, p. 138

 

Fonte: Negros no Espírito Santo / Cleber Maciel; organização por Osvaldo Martins de Oliveira. – 2ª ed. – Vitória, (ES): Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2016.
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2020

 

 

 

 

 

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