Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

A República - Por José Teixeira de Oliveira

Antônio Gomes Aguirre

Data de 1887 o primeiro clube republicano na terra capixaba,(7) devido à iniciativa de Bernardo Horta de Araújo, Antônio Gomes Aguirre e Joaquim Pires de Amorim – “os gigantes do pensamento republicano no Espírito Santo”(8)  – assim julgados juntamente com Afonso Cláudio.

A propaganda da nova idéia muito se beneficiou – aqui, como nas demais províncias – com o despeito que a abolição da escravatura provocara entre os fazendeiros.(9) Contando, portanto, com o apoio dos verdadeiros chefes das municipalidades – os proprietários rurais – foi fácil aos republicanos a pregação do seu evangelho e a formação de núcleos por todas as localidades da província.

A dezesseis de setembro de 1888 reuniu-se, em Cachoeiro de Itapemirim, o primeiro Congresso Republicano Provincial do Espírito Santo, que indicou o nome de Bernardo Horta para candidato do Partido no pleito de trinta e um de agosto de 1889, do qual saiu eleito pelo segundo distrito.(10)

À tarde de quinze de novembro chegaram à Vitória as primeiras notícias do que se passava no Rio de Janeiro.(11) No dia seguinte, Afonso Cláudio recebia do Governo Provisório a incumbência de administrar o Estado,(12) empossando-se a vinte no cargo de governador,(13) perante a Câmara Municipal da Capital.

Como no resto do Brasil, o povo não tomou parte nos acontecimentos. Assistiu àquilo “bestializado, atônito, sem conhecer o que significava”.(14) Como nas demais províncias,(15) aqui não houve reação alguma. Uma a uma, as câmaras municipais encaminharam ao novo governo seus protestos de adesão.(16)

Nos primeiros momentos, houve, na Capital, certa e natural confusão provocada pelos boatos. Disso se originou uma corrida de depositantes à Caixa Econômica,(17) ao mesmo tempo em que os habitantes das cercanias de Vitória se punham em guarda, na expectativa de atentados às suas pessoas e bens. Afonso Cláudio se apressou – logo no dia dezessete de novembro – a estampar na imprensa um comunicado que terminava com as seguintes palavras: “Não há motivo para tamanho pânico: a guarnição da Capital, enquanto estiver sob a responsabilidade dos briosos militares cujo patriotismo o país admira, é o mais seguro penhor de ordem que os cidadãos aqui residentes podem possuir e desejar”.(18)

O advento do novo regime foi festivamente recebido pelos republicanos de Cachoeiro de Itapemirim, que promoveram passeatas animadas pelos acordes da Marselhesa. À falta de bandeiras,(19) conduziam estandartes vermelhos.(20)

 

NOTAS

(7) - Fundado na então vila de São Pedro de Cachoeiro de Itapemirim, a vinte e três de maio de 1887. Seu primeiro presidente foi o Dr. Joaquim Pires Amorim – Diário Oficial (do Espírito Santo), de trinta de maio de 1890).

(8) - MATOS, A Comemoração, 49.

– Afonso Cláudio acrescentaria: “o eficaz concurso de evangelistas da pureza e valor de um Coelho Lisboa, a dedicação indefessa de Henrique Deslandes, Eugênio Aurélio, Germano Tiradentes, da família Medina, Joaquim Pinheiro, João Chaves Ribeiro [médico], Antero de Almeida e José Horácio, para não omitir os mais antigos dos iniciadores dessa brilhante cruzada” (Hist. da Literatura, 538).

– Cumpre recordar os jornais que serviram à causa republicana no Espírito Santo: O Cachoeirano, de Cachoeiro de Itapemirim, dirigido por Antônio Gomes Aguirre e Bernardo Horta; e A Tribuna, de Anchieta, dirigida por José Horácio Costa. Ver o artigo de apresentação deste último na nota I deste capítulo. Sua linguagem apaixonada permite avaliar o ardor com que entrou a combater a monarquia.

(9) - É particularmente expressivo o depoimento colhido por Mário Freire entre os papéis que pertenceram a Saldanha Marinho e oferecidos, em 1918, ao Arquivo da Prefeitura do então Distrito Federal. Trata-se de carta assinada por Bento José da Silveira e Sousa, lavrador em Itapemirim, e dirigida àquele eminente republicano. A certa altura, dizia Silveira e Sousa que a monarquia “só serviu para iludir a lavoura”, tendo sido todos “roubados com os pretos, com a má lei de treze de maio”. E concluiu, destilando ressentimento: “ficamos pobres e, por isso, a monarquia tome rumo; o governo deve ser feito pelo povo” (apud FREIRE, A República).

(10) - O segundo distrito eleitoral compunha-se dos municípios de Viana, Guarapari, Benevente, Itapemirim e Cachoeiro de Itapemirim. O primeiro distrito eleitoral compunhase dos municípios de Vitória, Santa Leopoldina do Cachoeiro, Espírito Santo, Serra, Nova Almeida, Santa Cruz, Linhares, cidade de S. Mateus e vila da Barra de S. Mateus (SILVEIRA, Almanaque de 1889, 265).

(11) - FREIRE, A República.

(12) - AFONSO CLÁUDIO, Hist. da Literatura, 536.

(13) - O ofício n.º 1, de vinte de novembro de 1889, em que Afonso Cláudio comunicou ao governo central a sua posse, era dirigido “ao Cidadão Governador Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil” (Pres ES, XX).

– O dia vinte de novembro de 1889 foi considerado de adesão à República; e, pelo decreto de três de dezembro do mesmo ano, passou a ser comemorado como feriado estadual.

(14) - ARISTIDES LOBO, Acontecimento Único (publicado no Diário Popular (de S. Paulo), a dezoito de novembro de 1889, apud AFONSO CELSO, Visconde de Ouro Preto, 398-9).

(15) - CALMON ressalta que “houve vislumbres de resistência na Bahia”. Seu presidente, Almeida Couto, telegrafou que ficava fiel à monarquia e as manifestações republicanas a dezesseis acabaram dissolvidas pela guarda-negra – (Hist. Brasil, IV, 530-1; Antônio Osmar Gomes, A Proclamação da República na Bahia – artigo publicado no Jornal do Comércio (do Rio de Janeiro), a vinte e três de novembro de 1947).

(16) - FREIRE, A República.

– De S. Mateus – pertencente à região em que predominavam as forças monarquistas (AFONSO CLÁUDIO, Hist. da Literatura, 537) – o governador recebeu telegrama em que se lia o seguinte: “Aqui todos republicanos” (Diário do Espírito Santo, vinte e seis de novembro de 1889).

– Poucos dias antes, ao tomar conhecimento do atentado de quinze de junho contra o imperador (autor Adriano do Vale), a Câmara de Nova Almeida lhe endereçara a seguinte mensagem:

“Senhor. A Câmara Municipal da Vila de Nova Almeida Província do Espírito Santo, desde remotos tempos acostumada a respeitar a dinastia reinante, e sempre obediente às instituições juradas a bem de seu monarca em quem reconhece o pedestal da felicidade pública, lastima que brasileiros e estrangeiros dedicados a V. M. Imperial vissem que também coube a nossa história registrar um momento de delírio que armou o braço de um fanático para atentar contra a vida de V. M. Imperial. O vigoroso e uníssono protesto do país e da Europa vingam os nossos corações e de todos os munícipes, dos quais esta Câmara é intérprete e, mais se alvorotou o povo desta parte do nosso idolatrado Brasil quando soube que a louca tentativa teve o insucesso que o TodoPoderoso determinou salvando o preclaro, sábio e justiceiro pai da família brasileira. É por isso que esta Câmara vem dar este testemunho de veneração e alegria pondo no pedestal do trono seus protestos de profunda adesão à monarquia e seu patriotismo à disposição da defesa do chefe do Estado, fazendo votos ao Altíssimo para que longa e feliz seja a preciosa existência de V. M. e da augusta família imperial em proveito de toda a comunhão. Paço da Câmara Municipal da Vila de Nova Almeida, vinte e dois de agosto de 1889” (Pres ES, XX).

(17) - Caixa Econômica e Monte de Socorro criada pelo decreto número 5.594, de dezoito de abril de 1874. Instalou-se, em Vitória, aos quatro de agosto de 1875. Reorganizada pelo decreto número 9.738, de dois de abril de 1887.

(18) - Apud FREIRE, A República.

(19) - O Diário do Espírito Santo, de vinte e sete de novembro de 1889, publicou o seguinte telegrama assinado pelo secretário do ministro da Marinha e dirigido ao capitão do porto de Vitória: “Bandeira republicana federal é a mesma nacional, substituindo somente coroa por estrela encarnada”.

 

Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, outubro/2017

História do ES

Em retribuição a Duarte de Lemos, uma ilha

Em retribuição a Duarte de Lemos, uma ilha

Rocha Pombo acredita que Duarte de Lemos tenha chegado ao Espírito Santo em 1536, ou, quando muito, em princípios do ano seguinte

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

O Espírito Santo na 1ª História do Brasil

Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576

Ver Artigo
O Espírito Santo no Romance Brasileiro

A obra de Graça Aranha, escrita no Espírito Santo, foi o primeiro impulso do atual movimento literário brasileiro

Ver Artigo
Primeiros sacrifícios do donatário: a venda das propriedades – Vasco Coutinho

Para prover às despesas Vasco Coutinho vendeu a quinta de Alenquer à Real Fazenda

Ver Artigo
Vitória recebe a República sem manifestação e Cachoeiro comemora

No final do século XIX, principalmente por causa da produção cafeeira, o Brasil, e o Espírito Santo, em particular, passaram por profundas transformações

Ver Artigo
A Vila de Alenquer e a História do ES - Por João Eurípedes Franklin Leal

O nome, Espírito Santo, para a capitania, está estabelecido devido a chegada de Vasco Coutinho num domingo de Pentecoste, 23 de maio de 1535, dia da festa cristã do Divino Espírito Santo, entretanto... 

Ver Artigo