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A vida de Frei Pedro Palácios

Frei Pedro Palácios - Lápide de mármore. Observe o detalhe da imagem espelhada na foto

Contar a história do Convento de Vila Velha é contar a história do franciscano Pedro Palácios. Era ele espanhol, nascido, na vila de Medina do Rio Seco, próximo da cidade de Salamanca, na Espanha, fervoroso devoto de Nossa Senhora, místico, amante da vida contemplativa, do viver no isolamento em meditação, atento aos fenômenos da natureza... Espécie de imitador do seu Patrono e, como ele, despojou-se de todas as posses para viver na simplicidade, na caridade e no recolhimento. Para realizar seu místico desejo, vestiu o hábito franciscano, ingressando na Ordem Terceira da Penitência para o resto da sua vida, na Província Espanhola de São José de Castela, onde decidiu não estudar Filosofia nem Teologia. Dela, transferiu-se para a Província da Serra da Arrábida, de Portugal, localizada na Península de Setúbal, ao Sul de Lisboa, de onde veio para o Brasil com outros portugueses. No meio dessa gente, uns vieram como povoadores e sesmeiros, outros como faiscadores de riquezas naturais e ele, Pedro, para o santo exercício de “salvar almas”. Por isso, nos seus trabalhos de catequese, sempre falava na “Penitência” a na “Conversão” do ser humano, porque, segundo disse frei Venâncio Willique, o colonizador português, que veio para o Brasil, veio para buscar riquezas, não eram bons cristãos, para em seguida voltar para Portugal e viver vida de rico, limpar sua ficha suja na Justiça do Reino!

Com o intuito de realizar seu piedoso projeto, obteve do frei Damião da Torre, Custódio da Província da Arrábida, permissão para embarcar para o Brasil, terras onde não havia padre.

Inicialmente, desembarcou na Bahia, ainda capital da colônia, onde ficou como coadjutor dos missionários jesuítas. De lá, veio para a capitania do Espírito Santo, encontrando desde o primeiro momento um campo fértil para seu santo projeto, pois naquele primeiro dia, confirmavam-se os desregramentos dos colonos portugueses, viciados, sem qualificação para o trabalho de colonização, malandros, iletrados, pervertidos e banidos da sua terra natal. Homens que prostituíam as índias acenando a elas com o agrado das quinquilharias e, aos jovens mancebos, toda brutalidade por não quererem ajudá-los no eito pesado.

Após sua chegada à Vila do Espírito Santo, afirmam alguns autores antigos que ele só foi encontrado pelos moradores três dias depois, descansando sob uma furna existente no sopé do morro, ali mesmo, na margem da Prainha, lugar que, segundo afirmam, ficou sendo sua primeira morada. Parece ser algo estranho “essa primeira morada” do irmão que acabara de chegar. Preferimos acreditar que ele tomou a gruta existente no pé do morro como eventual abrigo, pois quando desembarcou em Vila Velha, inesperadamente, para quem fez voto de pobreza, não ser nada difícil se proteger, sob uma gruta, até que um novo dia amanhecesse. Um ou dois dias depois, já em companhia de alguns moradores da vila, procurou novo lugar, onde se proteger melhor. Deve ter dado preferência morar no alto do monte, no lugar ao qual deram o nome de “Campinho”, porque viu que nele não havia árvores grandes e onde fez uma tosca cabana: mas continuou morando lá embaixo, por mais um ou dois dias, enquanto a capelinha ao seu patrono não ganhasse cobertura. Nesse desconforto de poucos dias, descia o monte para orar e ensinar o catecismo, em cada entardecer e, ali naquela gruta da Prainha, Pedro se protegia de eventual mau tempo. Essa provisória morada serviu de abrigo e ponto de apoio, durante as horas do catecismo com os habitantes, pois só tinham o frade franciscano porque, a igrejinha do Rosário levantada na vila, muito próximo dali pelo donatário, ainda aguardava sacerdote, por isso ficava fechada.

Diz uma antiga tradição que coube ao guardião Mateus de Cristo fechar essa dita Gruta de cenobita Pedro, com duas paredes laterais e outra parede frontal dotada de grade de ferro para evitar seu frequente mau uso pelos frequentadores da orla da Prainha.

Alguns anos depois foi construído o pequeno Oratório, sobre a pedra contígua à Gruta, para lembrar as tardes de oração e catequese, que fazia o franciscano, da primitiva vila. Era sobre essa segunda pedra, que Pedro Palácios colocava o quadro de Nossa Senhora das Alegrias. Isso era um compromisso diário dele, com os moradores de Vila Velha. Sobre a data da construção desse Oratório, é evidente que foi feito por frei Teotônio de Santa Humiliana, em 1846, quando estava na guardiania do Convento. Por fim, sua gruta ganhou uma lápide de mármore com inscrição, em latim, dizendo:

 

“Ecce Petri Palácios arcta habitatio prima,

Qui Dominam a Rupe vexit a dista loca,

Mirum Coenobium construxit vértice rupis,

Quo tandem Dominae transtulit effigem

Quam magnis meritis vita decessit habet.

Obiit 1570. Jacet in Conv. S. Francisci Victoriae”

F.T.S.H. An. 1864

 

Tradução Aproximada:

“Eis de Pedro Palácios a primeira e estreita habitação,

O qual truxe para estes lugares a Senhora da Penha.

Construiu no cume do monte um admirável  Convento,

Para onde transferiu, finalmente, a Imagem

Onerado de grandes merecimentos passou desta vida,

E já possui os prêmios celestes prometidos aos bons.

Morreu em 1570. Jaz no Convento de S. Francisco de Victória”.

Frei Teotônio de S. Humiliana, ano de 1864.

 

 

Fonte: O Anacoreta – revisitando a história do Convento da Penha, 2008
Autor: Jair Santos
Compilação e fotos: Walter de Aguiar Filho, julho/2012 



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