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Acampando, o crepúsculo às margens do rio - Imigração Americana

Capa do Livro: Nossa vida no Brasil – Imigração Norte-Americana no Espírito Santo 1867-1870 Autora: Julia Louisa Keyes

A ampla corrente parecia cinza nessa hora solitária. Estávamos preocupados e nos sentamos em cadeiras colocadas sobre a grama alta, que crescia próxima ao escarpado e brusco barranco. Mosquitos irritavam-nos. Estávamos cansados e desapontados.

A pequena cabana suja feita de barro que se erguia em meio à longa e vigorosa grama parecia inabitada, mas não era.

Um homem e uma mulher apareceram. Os únicos nativos que nós vimos que pareciam infelizes. Notamos suas faces comedidas e não esperávamos a cortesia usual, mas estávamos enganados. Eles nos ofereceram o abrigo de sua pequena cabana. A Senhora McIntyre, sendo uma inválida, aceitou a oferta, pois todos nós sabíamos que ela não poderia dormir ao relento, sem danos. Quanto ao resto de nós, que estávamos bem e apenas cansados, esticamos uma tenda, feita de lençóis espalhados sobre os remos dos barqueiros, que foram fincados no solo em uma fileira de vês invertidos. Nossa tenda de lona foi deixada para trás, para nosso jardineiro irlandês, que a manteve não apenas para se abrigar, mas para a bagagem, que necessariamente teve de ser deixada na barra. Ele fielmente permaneceu lá, guardando da melhor maneira possível nossas caixas de provisões, roupas de cama e a maioria de nossas malas, mas, a despeito de seu cuidado extremo, não pode preveni-las de molhar sobre a areia, que sempre se encharcava com a maré e chuvas contínuas, que caíam durante o tempo em que lá permaneceram.

Mas, retornemos ao nosso acampamento, os mosquitos estavam picando o bebê e nós não podíamos abaná-los para longe. Uma de nossas garotinhas correu abaixo até nossas canoas para buscar seu cachecol comprido para que pudéssemos agasalhar seus pés.

Um grito amedrontado, no momento seguinte, alcançou nossos ouvidos. O que era que vinha, tão dolorosamente, até nossos corações?

“Papai, papai” em um tom tão violento e pesaroso!

Ao tentar alcançar o cachecol da canoa, enquanto permanecia em outra próxima à margem, elas se separaram e enquanto segurava na lateral do bote, ele rapidamente se afastou, arrastando a pobre criança abaixo para o rio. A água tinha seis metros de profundidade nas margens, mas ela segurou firmemente à canoa até que seu pai, ouvindo seu choro, correu abaixo e a levantou de lá. Ela estava encharcada, já que a água veio até seu pescoço e pálida de medo! Quão desconfortável em sua roupa fria! Mas, que alegria para nós, ela não caiu, já que estava próxima de deixar o bote escorregar de suas mãos.

Que começo! Que aperto nos corações com esse aflitivo susto como cena de abertura!

Nosso fogo queimava de uma maneira tênue, desagradável, não nos dando chama fulgurante e, embora tentássemos toda a noite, secar as roupas molhadas, elas ficaram apenas bem defumadas e parcialmente secas pela manhã. Todas as árvores e pequenos arbustos à nossa volta estavam umedecidas com orvalho. Os lençóis, que estavam esticados sobre nossas cabeças, estavam na mesma condição gotejante e nos sentimos certos de que estávamos em um clima de grande umidade. Isso, entretanto, era favorável, embora desconfortável ao extremo, enquanto estávamos revigorados para nossa jornada.

As crianças eram gratas por estarem sobre seus pés novamente, pois seu sono fora perturbado pelos mosquitos e pela queda de um dos remos sobre suas camas. Felizmente ninguém se machucou.

Não distante da porta da cabana, vimos uma máquina primitiva, ou moinho, para moer cana, cujo caldo usavam para adoçar o café. Ninguém suporia ser essa uma máquina, mas era evidentemente muito útil para essa família. Dois postes fixados no solo, com engrenagens presas, uma delas era movida por uma alavanca, que passava pelo fundo. A cana era colocada entre as engrenagens e o caldo recolhido com uma cabaça abaixo.

Uns poucos pés de café cresciam ao fundo da cabana e próximos à margem do rio, em frente estava uma fileira de laranjeiras carregadas. O único prazer que tivemos estava em comer algumas dessas frutas deliciosas, após empurrarmos as canoas. Nós experimentamos limões doces pela primeira vez, achamos refrescantes e agradáveis, mas não tão bons quanto às laranjas.

Nossas sombrinhas brancas não eram uma proteção suficiente dos raios solares e alfinetamos xales sobre elas, tornando-as tão pesadas que era doloroso segurá-las sobre nossas cabeças, mas teria sido muito mais doloroso sem elas. O segundo dia foi apenas tolerado e, quando a noite se aproximou e pudemos fechar nossas sombrinhas, experimentamos um sentimento de alegria e conforto indescritível.

 

Fonte: Nossa vida no Brasil – Imigração Norte-Americana no Espírito Santo 1867-1870
Autora: Julia Louisa Keyes
Tradução e notas: Célio Antônio Alcântara Silva
Publicação: Arquivo Público do Espírito Santo, 2003



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