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AEI: um sonho de 75 anos

Adelpho Poli Monjardim - Acervo de Eugênio Herkenhoff

01 de dezembro de 1933. Um grupo de intelectuais capixabas se reunia e, comandado por Carlos Nicoletti Madeira, Adelpho Poli Monjardim e Daniel Michael Tickomiroff, fundava a Associação Espírito Santense de Imprensa (AEI), iniciando uma história que já dura 75 e que teve momentos de esplendor, como na inauguração de sua nova sede, no Edifício Aldebaran, e momentos difíceis, como os vividos no início deste novo século, quando ela ficou abandonada e com o patrimônio em perigo. A fundação da entidade foi feita ao abrigo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (Ihges), já que foi na sede deste Instituto a assembléia de fundação.

A história da Associação, apesar de intelectuais e historiadores que dela fizeram parte, não está estruturada. Para saber da vida da entidade, desde sua fundação, é preciso usar fragmentos de suas atividades, a maior parte registrada no Jornal da AEI, que foi publicado de forma ininterrupta por vários anos, mas que tinha um cunho laudatório à própria entidade e seus dirigentes. Registros antigos, ainda preservados, mostram as atividades da Associação, o que fez, posições que tomou e até relatam as brigas em que esteve envolvida, como no caso da disputa com os jornalistas profissionais filiados, primeiro, à Associação dos Jornalistas Profissionais do Espírito Santo (Ajopes) e depois ao Sindicato dos Jornalistas do Estado, Sindijornalistas.

Em momentos de maior atividade a Associação chegou a ter centenas de filiados e o presidente que a comandou por mais tempo, Nahum Prado, dizia com orgulho que ela tinha um ótimo patrimônio, sem igual no Brasil, e que suas finanças eram fortes e equilibradas. Mas nem sempre foi assim e a AEI começou com nenhum patrimônio, a não ser o saber dos seus integrantes. Pela sua direção, até a eleição de Prado, passaram nomes dos mais conhecidos no mundo cultural, executivo e empresarial do Espírito Santo.

Um dos seus primeiros presidentes foi Mário Freire, dono de uma das mais completas bibliotecas do Estado, hoje no acervo da Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Também a presidiu Augusto Estelita Lins e Ciro Vieira da Cunha. O escritor e desembargador Eurípedes Queiroz do Valle foi outro dos seus ex-presidentes, assim como o escritor e professor Nelson Abel de Almeida. Estas direções lutaram para conseguir manter a entidade e dar-lhe ressonância em nível estadual, conduzindo-a até 1961.

Os anos 60 do século passado marcam a mudança na AEI e ela começou partir da eleição para a Presidência de Nahum Prado, que já integrara diretoria anterior como Secretário. Em um movimento articulado, em 1962 a Associação conseguiu do Governador do Estado, Francisco Lacerda de Aguiar, a doação de um terreno na Esplanada da Capixaba para a construção de sua sede. A doação foi confirmada, depois, pelo Governador Asdrúbal Soares, mas a lei que consolidou a doação somente foi promulgada por Hélcio Cordeiro, então Presidente da Assembléia Legislativa do Estado.

Da doação do terreno para o início das obras, entregues a uma empresa tradicional da área de construção, a CEIC, que tinha à frente o empresário Jones dos Santos Neves, aconteceu rapidamente e em 1963 o prédio já tinha sido iniciado. Nas negociações com a empresa, a Associação ficaria com dois andares – o segundo e o terceiro – apartamentos e lojas no térreo. Os apartamentos foram comercializados pela CEIC, nascendo o Edifício Aldebaran, também chamado de Palácio da Imprensa. Além de abrigar a AEI, o edifício tinha lojas comerciais e a Faesa – Faculdade de Administração -. Ela ocupava, alugado, o segundo andar, que pertencia à AEI.

Nahum dirigiu, mediante eleições sucessivas, a Associação Espírito Santense de Imprensa de 1961 a 1986, quando faleceu. Ao lado de consolidar a associação e o seu patrimônio, o então presidente da AEI protagonizou, nos anos 70, uma intensa polêmica com os jornalistas profissionais, que não eram filiados à entidade. Comandados primeiro pela Associação da classe e, depois, pelo Sindicato, em que a Ajopes tinha se transformado, os jornalistas fizeram um momento para assumir a direção da Associação.

O argumento, de parte dos jornalistas, era que de Imprensa a associação não tinha nada, pois os jornalistas, sobretudo os profissionais, dela não participavam. Do seu lado, Nahum Prado, que chegou a fazer uma aproximação com a Ajopes, argumentava que a Associação era de intelectuais, não de jornalistas e que seria mantida assim. Enquanto foi vivo, Nahum manteve a posição e os jornalistas só participaram da Associação incidentalmente, com alguns nomes a ela se filiando.

Com a morte de Nahum Prado um triunvirato assumiu a entidade e a comandou por dois anos. Com o triunvirato, a aproximação que não havia sido conseguida com os jornalistas antes, acabou sendo feita. Em um entendimento entre a AEI e o Sindicato, a associação cedeu um espaço para a sede do sindicato, que funcionou durante vários anos no Edifício Aldebaran. Neste mesmo movimento, um grupo de 26 jornalistas se filiou à Associação, integrando seu quadro associativo e, assim, participando das eleições para a direção da entidade.

O triunvirato, ao final do seu mandato, foi sucedido por um jornalista, Edvaldo Eusébio dos Anjos, o Tinoco, eleito para um novo mandato e com uma Diretoria que tinha, juntos, vários jornalistas e antigos associados da AEI. A nova direção promoveu uma grande mudança nos estatutos da Associação e ampliou o número de associados jornalistas na entidade.

A partir da Presidência de Tinoco a história da Associação está meio difusa. O fato é que, por um período, entre o final do século passado e o início deste a entidade entrou em uma espiral descendente. Manteve, sim, o seu patrimônio, mas ele chegou a ficar ameaçado, já que estava praticamente abandonado, com as instalações deixadas de lado, sujas e sem cuidado, inclusive obras de arte e uma biblioteca com livros que são uma raridade.

Foi nessa época que um grupo de associados, pensando em resgatar a entidade, se uniu e compôs uma nova Diretoria. Dela, fazia parte, dentre outros, o atual Presidente, José Ângelo da Silva Fernandes. Eleita como provisória, a Diretoria, depois de medidas iniciais, promoveu eleição e, nela, foi eleita uma Diretoria definitiva, tendo Ângelo à frente. Ele começou, então, uma ação de recuperação do patrimônio da entidade, limpando-a, quitando dívidas vencidas, limpando a biblioteca, expondo as obras de arte. A Associação começou, também, um programa para esclarecer a situação de vários dos seus imóveis, alguns dos quais alugados, mas que nada rendem para a entidade.

Com uma nova situação, a Associação lançou a revista a´angaba, voltada para a área cultural, cujo segundo número está circulando agora, nos 75 anos de fundação da entidade, e colocou no ar, na internet, o seu novo site, o Jornal da AEI, também voltado para o noticiário cultural. A atual Diretoria espera iniciar novas ações que façam com que a Associação se integre, de novo, à vida do Espírito Santo.

Aos 75 anos, a trajetória da AEI foi do esplender à penúria, mas ao chegar a uma nova idade, a Associação trabalha para se inserir na vida cultural do Estado, alinhando-se à defesa da liberdade de imprensa e de expressão e tornando-se não só a casa dos jornalistas, mas abrigando, também, o movimento intelectual e cultural do Espírito Santo.

 

Fonte: Revista a'angaba AnoI - Número 02 - dez/2008, publicação da Associação Espírito Santense de Imprensa (AEI)
Compilação: Walter de Aguiar Filho que pesquisou no Instituto Histórico e Geográfico do ES, do qual é membro - agosto/2011

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