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Ano de 1539, 1540, 1547 e 1549 – Por Basílio Daemon

Início da Carta Régia de 1549 sobre a doação da Ilha de Santo Antônio a Duarte Lemos, por Vasco Fernandes Coutinho

1539. Neste ano estabeleceu-se Pedro da Silveira nas terras que lhe foram doadas, que julgamos ter sido no município de Itapemirim, no lugar denominado Caxanga,(31) e onde por muito tempo se viam ruínas de antiga povoação. Alguns cronistas querem que fosse esse estabelecimento perto das margens do rio Itabapoana, mas outros o dão a cinco léguas da donataria de Pero de Góis.

1540. Vivendo Pero [de] Góes em sua capitania da Paraíba do Sul, por espaço de dois anos em paz com os índios goitacases e outros, vê-se forçado a romper com eles, visto os contínuos ataques que deles sofria. Refugiando-se em Santa Catarina das Mós, na nova povoação ali levantada a duas léguas do rio Itabapoana, ali mesmo foi incomodado, pelo que, à vista dos muitos prejuízos sofridos, mortes e consternação dos companheiros, deliberou-se a vir a esta capitania em uma caravela que com reforços lhe enviou Vasco Fernandes Coutinho, por saber os apertos em que aquele donatário estava. Aqui demorou-se Pero de Góis algum tempo, seguindo depois para Portugal, tendo Vasco Coutinho prestado a ele e a seus companheiros os recursos de que podia dispor.(32)

1547. Conquanto haja controvérsias sobre as viagens feitas por Vasco Fernandes Coutinho a Portugal, a buscar reforços e utensis(33) para esta capitania, achamos provável ter sido em meados ou fins deste ano que ele fez a primeira àquele reino, e cuja volta foi em 1549, como abaixo se verá; contudo não afiançamos a época por encontrarmos divergências.(34)

1549. Chegando Vasco Fernandes Coutinho de volta da viagem que fizera, e aportando em Santa Cruz, em Porto Seguro, em navio seu, no qual trazia companheiros e objetos para a sua capitania, apresentam-se a bordo e são pelo donatário recebidos alguns indivíduos, que haviam sido presos na capitania dos Ilhéus por crime de pirataria e ainda outros que da prisão onde se achavam puderam se escapar, os quais sabendo da chegada de Vasco Coutinho vieram pedir-lhe homizio, visto ter o mesmo esse direito pela carta de doação. Recebeu-os, pois, a bordo e com eles chegou à sua capitania do Espírito Santo. Parece que nesta viagem é que se entendera com a Corte sobre a doação feita a Duarte de Lemos, e que consigo trouxera a carta régia; o que é certo é ter feito esta viagem e ter aportado a Porto Seguro, como se encontra em alguns cronistas e historiadores.(35)

Idem. Neste ano principiam as diversas hordas de gentios a incomodar os povoadores da capitania, os quais, pelas guerras que entre si continuamente sustentavam, forçavam os povoadores a decidirem-se a favor de um dos lados, quase sempre por aquele com quem estavam em paz, já também motivadas tais guerras pela venda e compra dos índios prisioneiros, que sujeitavam a maus-tratos, o certo é que não cessavam os aborígines de incomodar de quando em vez aos povoadores, pelo ódio que tinham aos dominadores do país, onde sempre gozaram a mais ampla liberdade e domínio.

Idem. Partem da Bahia no 1º de novembro deste ano, a mandado do vice-provincial dos jesuítas, padre Manoel da Nóbrega, e recomendação do governador geral do Brasil, os padres jesuítas Leonardo Nunes e Diogo Jácome que iam em direção à capitania de São Vicente a catequizar os índios que viviam como que abandonados de conhecimentos religiosos, e uma grande parte como escravos.(36) Aportando a esta capitania o navio, desembarcam os dois padres; demorando-se alguns dias fazem provisões, tomam consigo alguns índios, recebendo ainda aqui por noviço um moço ferreiro de nome Mateus Nogueira, que posteriormente tornou-se célebre como padre jesuíta.(37) Embarcados todos, prosseguiram viagem para São Vicente, onde principiaram a levantar uma casa colegial; ali Mateus Nogueira, afora os misteres do sacerdócio, ocupava-se em pedir esmolas e em trabalhar numa ferraria, fazendo anzóis, cunhos, facas e outros utensis, cujo produto aplicava ao sustento dos meninos, que frequentavam as aulas do seminário dos jesuítas, e ao fornecimento de provisões aos indígenas

 

Notas

 

31 O topônimo consagrou-se como Caxangá.

32 (a) “Rebentou então a guerra, que durou cinco anos […] Fracos e inteiramente desanimados estavam os colonos: começaram a clamar que se abandonasse o estabelecimento, e Góis teve de ceder a seus clamores. Do Espírito Santo se obtiveram navios para conduzi-los, e extingiu-se o nome da capitania.” [Southey, HB, I, p. 67]. (b) Neste ano de 1540, devido à relevância do fato, deveria ter sido incluído um parágrafo com a informação de, em agosto, ter sido assinada, perante o notário geral da Corte em Lisboa, a escritura de doação da ilha de Santo Antônio a Duarte de Lemos. O donatário definiu limites precisos e restabeleceu suas prerrogativas do título real de doação. A estadia de Coutinho em Portugal pode ter-se prolongado até 1547 ou 1548. “...e porque ele, Duarte de Lemos, lhe pede que lhe faça sua escritura e carta de doação conforme ao dito alvará” [Escritura de confirmação de vinte e dois de agosto de 1540, in Baião, A., e Malheiro, C., HCP, III, p. 266, apud Oliveira, HEES, p. 44, nota 36]

33 Plural de utensil, forma em desuso de utensílio.

34 Daemon parece ter-se equivocado quanto às datas relacionadas com a primeira viagem do donatário, pois já em 1540 ele estaria em Lisboa para firmar doação da ilha a Duarte de Lemos, e em 1547 ou 1548, segundo documentos citados por Teixeira de Oliveira, ele já teria retornado: “Talvez o regresso se tivesse verificado em 1547, na frota mencionada na carta de Fernando Álvares de Andrade, ou pouco depois.” [HEES, p. 53]

35 A escritura de doação foi firmada ainda em 1540 (ver nota 32 acima), no entanto apenas em 1549 o monarca assinaria a carta de confirmação dela a pedido de Duarte de Lemos. [Carta de confirmação de doação de uma ilha grande ou lesíria que está da barra para dentro, e que se denominava “Santo Antônio”, datada em Almeirim aos oito dias de janeiro de 1549]

36 (a) Nery, Carta pastoral, p. 77. (b) Copia de unas cartas, índice 11. (c) Freire, Vitória e a capitania, RIHGES, n. 8, p. 4-5.

37 Vasconcelos, S., Crônica, I, p. 40, apud Oliveira, HEES, p. 62, nota 4.

 

 

Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2019

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