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As Fazendas Muribeca, Itapoca, Araçatiba e Carapina

O Santuário das Neves, em Presidente Kennedy, foi construído entre os anos de 1707 a 1759, pelos Padres Jesuítas

A fundação do Colégio e o seu funcionamento trouxeram em consequência a organização das grandes fazendas inacianas da Capitania, que Alberto Lamego cita apenas em número de três: Muribeca, Itapoca e Araçatiba, mas que efetivamente foram quatro, com a inclusão de Carapina, cujas ruínas estão agora sendo motivo de estudos arqueológicos pelo Patrimônio Histórico e Artístico da União, sempre bastante interessado em fazer essas pesquisas.

No desejo de manter o Colégio de Vitória farto de alimentos para os seus neófitos, cujo número deve ter sido enorme, levando-se em conta a grandeza do edifício, os jesuítas não se detiveram no que apenas plantavam em Vitória e arredores, ou seja, as pequenas culturas.

Foi então quando se voltaram para o interior, organizando as grandes fazendas de Muribeca destinada à criação de gado; Araçatiba, destinada à fabricação de açúcar, criação de gado e plantação de cereais; Itapoca, reservada ao plantio de hortaliças em grande escala e Carapina, para a policultura. Data daí, portanto, o início da nossa agricultura organizada em moldes adequados, visando melhores perspectivas de produção e à implantação no estado de um novo sistema de trabalho agrícola a que podemos denominar de diferenciação econômica com o objetivo de estabelecer entre eles e os colonos a harmonia indispensável à conquista do elemento selvagem.

Com a exclusão da fazenda de Araçatiba, que era a mais central de todas, inclusive suas aldeias e missões, construíram os jesuítas suas instalações na orla marítima ou dela aproximadas.

Muribeca: Em princípio era Muribeca o centro de todas as atividades rurais da Companhia no Espírito Santo e estava situada à beira do mar no território hoje pertencente ao município de Itapemirim, medindo mais ou menos oito quilômetros de terra adentro. Conta-se que foi fundada pelo padre jesuíta Almada, acompanhado de “alguns fidalgos deportados e não poucos aventureiros” (Cezar Marques, Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Espírito Santo, p. 184).

Tendo prosperado muito a princípio, chegando a possuir cerca de 2.000 cabeças de gado, tinha uma igrejinha que ainda existe até hoje dedicada a N. S. das Neves, a qual em 1771 estava filiada a Matriz da Povoação das Minas do Castelo, passando depois para a paróquia de N. S. do Amparo de Itapemirim.

Itapoca: Fazenda Itapoca, fundada no século XVIII, estava nos terrenos hoje pertencentes aos município de Viana e Cariacica, à margem do rio Formate, que era o seu meio de transporte, por ele descendo até alcançar o Jucu e daí descendo para Vitória através do canal do Marinho.

A sede da povoação, onde existia a igrejinha, hoje desaparecida, estava no município de Cariacica, onde foi criada uma escola por lei nº 04 de 19 de julho de 1856.

Era destinada ao cultivo de legumes e grande foi sua contribuição para o suprimento completo e absoluto da catequese, principalmente no Colégio de São Tiago.

Araçatiba: o começo de sua história, segundo revelações do padre Serafim Leite, teve lugar no ano de 1716, quando já era uma residência inaciana. A professora Stella de Novaes (História do Espírito Santo, p. 31) diz ter sido fundada pelo padre Brás Lourenço em 1556, ajudado pelo cacique Piraogib, como chefe dos Tupiniquins, não sabemos se com a intenção de contrariar o que a respeito escreveu Serafim Leite. Ao que me parece, há aqui um equívoco, pois indica que habitavam nesta região os Botocudos, a menos que estes se dividissem em Tupiniquins.

Foi fundada pelo padre Rafael Machado que ali promoveu a construção de um grande engenho e residência, ajudado por Jorge Fraga, abastado fazendeiro do lugar. Quando Jorge Fraga morreu em 1721, deixou uma das fazendas para o Colégio de Vitória, em forma de capela, mediante o compromisso, por parte dos jesuítas de uma missa anual na festa de Santo Inácio.

O engenho incendiou-se naquele ano, mas como ficava dento dos limites da fazenda, os padres pediram ao Padre Geral que aceitasse o legado, o qual foi assinado a 19 de junho de 1722, pelos padres João Pereira reitor, João Martins Falleto, Manoel Leão e Tomas de Aguiar, consultores (Basilea, 4, p. 222).

Em 1719, o padre Rafael Machado foi substituído como provincial da Companhia do Espírito Santo, mas deixara tudo organizado e dirimidas as questões até então existentes com os vizinhos.

Não foi fácil aos padres inacianos valorizarem as terras de Araçatiba, até tornarem-na a maior fazenda da costa brasileira, com cerca de 850 serviçais no seu trabalho, entre negros, escravos e índios. Para o conseguirem, tiveram que sanear os grandes pantanais então existentes, inclusive abrir um longo canal de 12 quilômetros de extensão, ligando o rio Jucu a Vitória, a fim de encurtar o longo itinerário do rio pela Barra do Jucu. Este canal aberto em 1740 foi o primeiro construído no país.

Produzindo açúcar em grande escala, com extensas plantações de cana, que abrangiam toda a baixada, foi sequestrada em 1760, com todo o seu acervo e objetos de arte religiosa, que desapareceram totalmente.

Além do trabalho agrícola, apresentava outras especialidades que a tornaram a mais falada de toda a região. Estava dividida em quatro fazendas de gado ou currais, além de sete datas de terras, estendendo-se até a Barra do Jucu e Ponta da Fruta, no município de Vila Velha; Campo grande no município de Cariacica, medindo quase dois mil alqueires de terras, no território hoje pertencente a Viana, onde estava localizada a sede, com igreja, residências e senzalas.

O seu transporte, que era feito pelo rio Jacarandá, afluente do rio Jucu e por este até Vitória, aproveitando o canal de Camboapina (também conhecido por rio Marinho) tinha um trapiche bem montado em Araçatiba, para embarque e desembarque de mercadoria.

Em fins de 1815 lá esteve o príncipe Maximiliano Weid Newvied, notável naturalista alemão, que explorou as imponentes florestas durante dois meses, colhendo raríssimos exemplares zoológicos, que ainda hoje existem no Americam Museum of Natural History de New York, que os adquirira de seus descendentes, em 1870.

Hospedado em Barra do Jucu, viajava quase diariamente dali para Araçatiba, seduzido pelos cenários magníficos de suas matas.

Carapina: Originou-se esta fazenda, que era destinada à policultura por estar entre algumas das principais missões inacianas, de uma doação de Miguel Pinto Pimentel aos jesuítas, que aí construíram, no tempo do padre Brás Lourenço e com a ajuda do padre Fabiano Lucena e ajudado pelo índio Gato Grande (Maracaiaguaçu) uma residência e uma capela que existiu até anos atrás, sendo observada por D. Pedro II quando em viagem por Linhares, passou pela estrada de Laranjeiras com destino à Serra, no dia 10 de dezembro de 1860, fazendo disto menção no seu caderno de viagem.

Os limites dessa fazenda começavam na barra do rio da Passagem em Maruípe e estendiam-se até a ponta de Camburi, onde havia um marco. Tomando rumo norte, iam até o rio Carapebus Mirim, seguindo do marco aí assentado até Malha Branca do Mestre Álvaro, de onde prosseguia rumo sul com diferentes marcos, no travessão do Jucuí ao Porto Velho (que ficava à beira da estrada para Vitória) em direção novamente do rio da Passagem no ponto onde se encontrava o primeiro marco.

Como se observa, foi grande o concurso que prestou ao Colégio, para o desenvolvimento da agricultura no estado, praticada por meio de processos até então desconhecidos pelos fazendeiros da época. Foi um importante centro de irradiação do nosso trabalho de catequese no setor agrícola, preparando homens para o seu desenvolvimento futuro e soldados para a defesa do território, sobretudo depois de iniciada a difusão entre eles, do ensino primário, do qual foram os jesuítas os pioneiros.

Como já tinha ocorrido na Bahia, em 1549, com a chegada do primeiro governador geral Tomé de Souza, através do padre Manuel da Nóbrega, também no Espírito Santo, com o padre Afonso Brás, estas escolas foram de grande utilidade para a catequese, não obstante a relutância do índio em aceitar alfabetizar-se e cristianizar-se.

Durou mais de três séculos esta luta sem tréguas contra a barbárie entre nós. E hoje, apenas descendentes de índios aqui ou ali são encontrados dentro do território capixaba.

 

Fonte: A Obra dos Jesuítas no Espírito Santo, 2012
Autor: Heribaldo L. Balestrero
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2012 



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