Bandas de congo

Um Congo apresentou-se, em 1854, numa festa em Queimado, região do município da Serra, ocasião em que foi celebrada uma missa. Entretanto, nesse mesmo ano, em Nova Almeida, havia sido aprovada uma lei que proibia os Batuques, Danças e ajuntamentos de escravos(78). Por outro lado, em 1888, em Cachoeiro de Itapemirim, já havia um Pagode de Reis que reunia grande número de Pretos(79).
Presentes em todo o Estado e em grande número de regiões da Grande Vitória e municípios do norte, as Bandas de Congos são grupos que utilizam instrumentos sonoros muito simples, feitos de madeira oca, barris, taquaras, pele de cabra ou de boi, latas ou outros materiais. Podem ser tambores, bumbos, cuícas, chocalhos, ferrinhos ou triângulos de ferro e pandeiros. Ao som desses instrumentos, as vozes, finas e grossas, claras ou fanhosas, de homem e de mulher cantam antigas ou novas músicas, nas quais são feitas referências a fatos do passado, como a escravidão, a guerra do Paraguai, os santos da devoção popular, os Orixás relacionados aos elementos da natureza, como o mar, as estrelas, o vento, a chuva, ou ao ser humano, cobrindo desde amor e morte até fatos políticos e sociais.
Essas músicas podem ser alegres ou tristes, mas quase sempre são cantadas de forma semelhante, onde se destaca o fato de alongarem-se as sílabas finais dos versos.
Do instrumental desses conjuntos típicos da tradição cultural afro-capixabas faz parte um tipo de reco-reco, também chamado de casaca, casaco, cassaca, cassaco ou canzaco. É um cilindro de pau, de 50 a 70 centímetros de comprimento, escavado numa das faces, em que se prega uma lasca de bambu ou taquara com talhos transversais, sobre os quais se atrita uma vareta. Na extremidade superior desse reco-reco é esculpida, na própria madeira, uma cabeça grotesca, de pescoço comprido, por onde é segurado o instrumento. No lugar dos olhos, representando-os, põem-se, por vezes, búzios, sementes coloridas, pequenas esferas ou partículas de chumbo. São pintados olhos, bocas e faces, ou todo o reco-reco, com tinta comum ou de frutas do mato. Alguns trazem inscrições ou letras indicativas de frases ou do nome do seu dono.
Os tambores são tocados com as mãos, e, enquanto o tocador caminha, eles ficam pendurados a tira-colo. Entretanto, quando a Banda para em algum lugar para tocar, geralmente os batedores sentam-se sobre o tambor como que o cavalgando. Podem participar pessoas de todas as idades. As mulheres, separadas em ala específica, sustentam os cantos, enquanto os homens sustentam o ritmo. Todo o grupo participa de evoluções coreógrafas comandadas pelo organizador, às vezes chamado de Capitão, enquanto uma ou mais mulheres vão à frente conduzindo uma ou mais bandeiras que identificam a Banda e/ou sua procedência e/ou o seu Santo Protetor(80).
Entretanto, todas as Bandas têm devoção a São Benedito.
NOTAS
(78) Novaes, sem data, p. 223.
(79) Novaes, sem data.
(80) Santos Neves, 1978, p. 57 a 61. Ver também BIARD, Auguste-François. Viagem à Província do Espírito Santo. Vitória. Cultural – ES. 1986. p. 68 a 72, com texto e ilustração.
GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Governador
Paulo Cesar Hartung Gomes
Vice-governador
César Roberto Colnago
Secretário de Estado da Cultura
João Gualberto Moreira Vasconcelos
Subsecretário de Gestão Administrativa
Ricardo Savacini Pandolfi
Subsecretário de Cultura
José Roberto Santos Neves
Diretor Geral do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo
Cilmar Franceschetto
Diretor Técnico Administrativo
Augusto César Gobbi Fraga
Coordenação Editorial
Cilmar Franceschetto
Agostino Lazzaro
Apoio Técnico
Sergio Oliveira Dias
Editoração Eletrônica
Estúdio Zota
Impressão e Acabamento
GSA
Fonte: Negros no Espírito Santo / Cleber Maciel; organização por Osvaldo Martins de Oliveira. – 2ª ed. – Vitória, (ES): Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2016.
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2021
Essa é a versão mais próxima da realidade...
Ver ArtigoComo judiciosamente observou Funchal Garcia, a realidade vem sempre acabar “com o que existe de melhor na nossa vida: a fantasia”
Ver ArtigoUm edifício como o Palácio Anchieta devia apresentar-se cheio de lendas, com os fantasmas dos jesuítas passeando à meia-noite pelos corredores
Ver ArtigoEdifício Nicoletti. É um prédio que fica na Avenida Jerônimo Monteiro, em Vitória. Aparenta uma fachada de três andares mas na realidade tem apenas dois. O último é falso e ...
Ver ArtigoEra a firma Antenor Guimarães a que explorava, em geral, esse comércio de transporte aqui nesta santa terrinha
Ver Artigo