Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

Cais do Avião

Cais do Hidroavião, 1950

Entre as histórias contadas pelos antigos moradores de Santo Antônio, consta a do avião das 14 horas, cuja pontualidade acabou sendo uma referência

Projetado pelo arquiteto Ricardo Antunes foi construído em 1939, no bairro Santo Antônio, o hidroporto que ficou popularmente conhecido em Vitória como "Cais do Avião". Na época governava o Estado o interventor João Punaro Bley, que esteve à frente do Governo de 1930 a 1945. O cais constituía uma das primeiras ligações aéreas de Vitória com outras capitais do País. A edificação dispunha de instalações para embarque e desembarque de passageiros e carga e descarga de mercadorias.

ÁGUAS CALMAS E POSIÇÃO DO VENTO

Santo Antônio foi escolhido para abrigá-lo por causa da calmaria de suas águas e da topografia do bairro, que se localiza contra o vento nordeste e está próximo ao Centro de Vitória.

Além desses fatores, o bairro já contava, desde 1910, com uma linha de bonde que o ligava ao Centro da cidade. No Cais do Avião, em meio a figuras anônimas como cafeicultores de Santa Leopoldina, Santa Teresa e Colatina, desembarcavam grandes personalidades trazidas pelas asas da Panair (empresa americana) e da Condor (alemã).

Ali desembarcaram astros hollywoodianos como Tyrone Power e o boxeador gigante conhecido com Primo Carnera, além do ex-presidente Getúlio Vargas.

Após a Segunda Guerra Mundial e a queda de Getúlio Vargas, na década de 50, a "Cais do avião", já integrado então à rotina dos moradores de Santo Antônio, foi fechado. A empresa alemã Condor, que explorava o local, após a guerra passou para o domínio americano sob o nome de Cruzeiro do Sul. O cais foi desativado com a construção do aeroporto de Vitória, em Goiabeiras, que exigia menor custo de manutenção.

Depois do advento do aeroporto, após tempos de glória, o hidroporto ficou abandonado. Anos depois passou a ser utilizado pela Legião Brasileira de Assistência, foi sede do Caiçaras Clube e, posteriormente, ambulatório médico.

Até o final de 1984, o prédio que abrigava o cais pertencia à Aeronáutica, mas foi doado posteriormente para o Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel), que pretendia instalar no local uma estação de rádio.

O "Cais do Avião" é um exemplar da arquitetura produzida no Brasil no início do século XX, possuindo características funcionais e estéticas de vanguarda arquitetônica internacional.

No Brasil, apenas as cidades de Salvador e Rio de Janeiro possuem cais desse porte, todos tombado: pelo Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O processo de tombamento do Cais do Avião está em estudo desde 1999 e conta com o apoio, da Marinha, da Secretaria de Estado da Cultura e Esportes e da Secretaria Municipal de Cultura de Vitória.

RECUPERAÇÃO

O "Cais do Avião" passou por uma série de reformas realizadas pela Prefeitura de Vitória a partir de 2001 e hoje se encontra totalmente recuperado e remodelado, de acordo com o projeto arquitetônico original. Ele possui um restaurante de comida típica capixaba, além de lojas de artesanato, de produtos de papel reciclado, um posto de informações turísticas e um museu sobre o cais.

A reforma do prédio, situado na Avenida Dário Lourenço de Souza, é uma obra do Projeto Terra, Poligonal 8 e teve investimento de cerca de R$ 450 mil. De acordo com o secretário municipal de Obras da época, José Arthur Bermudes, as instalações elétrica, hidrossanitária, telefônica e de gás foram totalmente refeitas.

Bermudes destacou que o prédio estava deteriorado pela maresia e exigia um trabalho minucioso de recuperação de sua estrutura. Nos ambientes internos foram feitos reparos e pintura.

O cais possui flutuante para atracação de barcos. As esquadrias, janelas, portas e detalhes foram reconstruídos de forma a compor o ambiente arquitetônico da época.

TRAJETÓRIA

O "Cais do Avião" operou por nove anos aproximadamente e foi uma das grandes atrações de Vitória. Durante o tempo de operação, ele mantinha uma movimentação constante. Segundo depoimento de habitantes antigos de Santo Antônio, diariamente hidroaviões aportavam naquele cais, desde simples monomotores a pesados quadrimotores de carga e passageiros.

Cada aeronave tinha capacidade de transportar até 60 passageiros que, devido ao baixo preço das passagens, sempre enchiam os aviões. Na época, três empresas operavam o cais: a Condor Sundikat, de origem alemã, que logo foi transformada em empresa nacional com o nome de Sindicato Condor; a Panair do Brasil e a Cruzeiro do Sul.

A elite da cafeicultura capixaba de Santa Teresa, Santa Leopoldina e Colatina utilizavam as atividades comerciais do cais, além de turistas de outros Estados que chegavam com destino ao balneário de Guarapari.

Relação com a comunidade

Havia uma relação muito forte entre os moradores e as atividades do cais. A pracinha em frente ao prédio ficava movimentada, com pessoas que iam apanhar e levar passageiros, bem como contemplar as manobras das aeronaves.

Havia também o ponto final do bonde em frente ao cais e, mais à direita do prédio, o chamado cais das barcas, que era utilizado para o deslocamento de pessoas que trabalhavam ou iam visitar pacientes no hospital que ficava na Ilha da Pólvora, no meio do canal.

HISTÓRIAS QUE O POVO CONTA

Habitantes antigos do bairro lembram ainda com nostalgia, a época das atividades do "Cais do Avião". O bairro Santo Antônio só não se desenvolveu mais, devido ao curto tempo das operações do hidroporto, cujo edifício era dotado de instalações modernas e luxuosas para a época.

Ainda hoje, a geração mais antiga comenta sobre o hidroavião das 14 horas, muito popular por sua pontualidade permanente, chegando a servir de relógio para os habitantes.

 

Fonte; Jornal A Gazeta, 100 anos do Porto de Vitória, 31/03/2006
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2015

Portos do ES

A queda do Porto de São Mateus – Por Fernando Schwab Firme

A queda do Porto de São Mateus – Por Fernando Schwab Firme

Projetos não são problemas e sim a definição de sua utilidade e sua elaboração em resposta a uma demanda efetiva

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

Prático: atividade tem momentos de perigo

Os práticos escalados para atuar são acionados pelo Centro de Coordenação de Operações e chegam até os navios conduzidos pelas lanchas de apoio

Ver Artigo
Cais do Avião

Projetado pelo arquiteto Ricardo Antunes foi construído em 1939, no bairro Santo Antônio, o hidroporto que ficou popularmente conhecido em Vitória como "Cais do Avião"

Ver Artigo
Pequena suíte para Vitória-Porto em cinco movimentos

Quando Vasco Fernandes Coutinho desembarcou em vila velha no dia 23 de maio de 1535

Ver Artigo
A história moderna do Porto de Vitória

Os primeiros estudos sobre o porto de Vitória foram feitos pelo engenheiro norte-americano Milnor Roberts, em 1879

Ver Artigo
Construção do Porto de Vitória

Apesar da construção do porto ter sido iniciada em 1906, suas obras só foram definitivamente concluídas em 1940, com a inauguração do Cais Comercial

Ver Artigo