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Capitania logo procura as esmeraldas

Ilustração Genildo Ronchi

Vasco Fernandes Coutinho trouxe na comitiva um espanhol entendido em mineração. O Espírito Santo chegou a ter Bandeiras com quase 500 pessoas. As expedições subiam os rios Doce, São Mateus e Mucuri, ao Norte

A expansão da fé deveria ser, de fato, um dos grandes objetivos da Coroa portuguesa nos projetos de colonização das terras descobertas.

Grão-mestre da Ordem de Cristo, el-rei estabeleceu, na carta de doação e no foral, a cobrança de dízimos, cujo produto deveria ser empregado nos trabalhos de conversão dos nativos à religião cristã.

Entretanto, terras sem fim para a atividade agrícola não poderiam representar motivos suficientes para trazer da metrópole um grupo de homens destemidos. Aos criminosos — cuja vinda para a Colônia representava, em primeira instância, a liberdade — as dificuldades das terras longínquas poderiam ser até benéficas. Esses fora-da-lei, chamados degredados, tinham, afinal, uma razão plausível para o desterro.

Donatários, funcionários reais e demais membros das expedições que chegaram às terras brasileiras — e nesse juízo estão incluídos até mesmo os degredados — teriam como meta o sonho dourado dos metais preciosos.

José Teixeira de Oliveira cita, em sua História do Estado do Espírito Santo, dois depoimentos esclarecedores. O primeiro, de Brás do Amaral e o segundo, do Padre Ponciano Stenzel dos Santos. Leiamos o que diz José Teixeira de Oliveira a respeito do primeiro documento: "Ao organizar a comitiva que o acompanharia ao Brasil, Vasco Coutinho nela fez incluir Felipe Guilhem, a respeito de quem Brás do Amaral informa: tinha vindo com Vasco Fernandes Coutinho, donatário da Capitania do Espírito Santo, um espanhol chamado Felipe Guilhem, que se supõe fora boticário na Andaluzia e que era entendido em matéria de mineração... " Felipe Guilhem exercia cargos de vereança quando foi chamado por Tomé de Souza, o primeiro governador-geral, para servir no descobrimento de minerais."

Leiamos a respeito do segundo documento: "Pelos começos de junho do mesmo ano de 1535, alguns povoadores dos mais destemidos, embarcados em lanchões, deram-se a investigar os arredores. Subindo pela barra, julgaram que o mar fosse um rio e, apesar de incomodados pelos índios, conseguiram desembarcar, no dia treze de junho, no campinho próximo ao lugar, depois chamado Caieiras. Como era dia de Santo Antônio, deram à nova ilha o nome de Ilha de Santo Antônio, nome que ainda hoje se dá ao arrabalde de Vitória que está situado no lugar do desembarque. "Pelo fim do mês outros exploradores por terra foram abrindo picadas, sertão a dentro, em direção ao Mestre Álvares, chegando até aos arredores do lugar onde está hoje a cidade da Serra".

A idéia fixa das pedras preciosas movimenta Bandeiras pioneiras no Espírito Santo.

Cerca de quatrocentos homens subiram o Rio Doce, entre 1571 e 1573, em busca dos sonhados tesouros. Alguns documentos registram também jornadas pelo Rio São Mateus.

Chefiava a expedição Sebastião Fernandes Tourinho, que regressou ao litoral com pedras verdes e foi considerado o "descobridor das esmeraldas".

Um ano depois, por volta de 1574, sob a chefia de Antônio Dias Adorno, nova expedição foi organizada visando a encontrar as esmeraldas tão propaladas por Tourinho. Cento e cinqüenta portugueses e quatrocentos índios, com a assistência religiosa de dois jesuítas, embrenharam-se pelo Rio Mucuri, ao norte da Capitania.

Mas as pedras verdes eram falsas esmeraldas e o sonho continuava inatingível. Historiadores registram essa expedição como uma Bandeira das terras do Espírito Santo.

 

Fonte: Jornal A Gazeta, A Saga do Espírito Santo – Das Caravelas ao século XXI – 19/08/1999
Pesquisa e texto: Neida Lúcia Moraes
Edição e revisão: José Irmo Goring
Projeto Gráfico:Edson Maltez Heringer
Diagramação: Sebastião Vargas
Supervisão de arte: Ivan Alves
Ilustrações: Genildo Ronchi
Digitação: Joana D’Arc Cruz     
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2016

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