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Capitania melhora com a vinda de missionários

O mau comportamento dos colonos e dos grupos indígenas determinou a vinda dos missionários, uma direção espiritual para a Capitania - Ilustração: Genildo Ronchi

Primeiro foi Frei Pedro Palácios, franciscano. Depois vieram os padres jesuítas. Surgiram para combater as idéias de Lutero, mas o rei pediu sua ajuda para civilizar colonos e índios no Brasil

A Companhia de Jesus teve uma ativa participação na colonização do Brasil. Ordem religiosa criada pelo Padre Inácio de Loyola, tinha ideais renovadores e o objetivo de divulgação dos dogmas da Igreja Católica, na tentativa de atrair mais e mais irmãos leigos para as práticas divinas.

Na época áurea dos descobrimentos, a Companhia de Jesus assumiu a causa dos nativos das terras conquistadas, numa obra missionária de ensinamento das doutrinas cristãs.

Os arquivos históricos registram que aos jesuítas recorreu D. João III, Rei de Portugal, para que o auxiliassem na tarefa de colonização do Brasil. Dessa maneira, junto ao primeiro governador-geral, em 1549, aportou em terras brasileiras um grupo de jesuítas, sob a chefia do Padre Manuel da Nóbrega.

Mais tarde, na frota que trouxe o segundo governador-geral, D. Duarte da Costa, vieram outros, entre os quais o Padre José de Anchieta. Desembarcaram na Bahia e logo iniciaram os trabalhos da obra missionária.

No movimento religioso da Contra-Reforma, quando a Igreja Católica enfrentou a Reforma Protestante, a Companhia de Jesus exerceu papel de grande importância.

O Padre Inácio de Loyola exigia dos membros da  sua Companhia uma formação rigorosa, fundamentada em princípios rígidos. E traçara-lhe a estrutura funcional: "O homem é a medida de todas as coisas", dedicado a um Deus e Salvador que tudo envolve.

Era um modelo muito antigo, o princípio básico da própria cristandade: a subordinação. A subordinação do cosmo e de tudo o que nele estivesse — desde as pedras e a terra inanimada até as plantas, os animais, os seres humanos, anjos e arcanjos, dentro de um princípio hierárquico de ser — à Trindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Inferiores e superiores. Hierarquia de partes ordenadas; indivíduos destinados, cada um deles, a complementar o outro. Há integração de cada parte no todo na medida em que cada parte seja subordinada à que lhe é superior.

Dentro desse sistema hierárquico de ser e existir, cada objeto tinha o seu lugar. O Criador pôs tudo numa certa harmonia e ordem. Foi isso o que Cristo revelou em toda a plenitude. É essa a base da antropologia cristã.

Padre Inácio desejava que sua Companhia fosse reprodutora daquele princípio hierárquico segundo o qual o "subalterno se submete ao superior" e no qual todos os elementos estão unidos no reconhecimento da autoridade maior e, portanto, prontos a obedecer. Ele pretendia a união de sua Ordem por uma integração mística de orações, corações e vontades, em subordinação voluntária, sujeitos aos superiores, os superiores ao geral, o geral a toda a Sociedade dos Jesuítas, a Sociedade inteira ao Papa, o Papa a Cristo, de quem ele é o representante terreno.

Era uma pirâmide de autoridade, muito simples em sua estrutura. E, desde o início, o Padre Inácio havia insistido para que a Companhia de Jesus fosse diferente de todas as ordens religiosas até então sancionadas pelo papado. Seus membros não eram obrigados a cantar o ofício divino juntos, em coro, por exemplo; e não tinham trajes que os distinguissem, como as ordens mais antigas, tais como os beneditinos, os carmelitas e os dominicanos. Tampouco havia entre eles a prática de castigos corporais como forma de penitência.

O tema da vida de cada jesuíta devia ser a glória de Cristo e uma entrega de si mesmo, segundo esta oração favorita:

"Aceitai, Senhor, e recebei

Toda a minha liberdade, minha memória, meu intelecto,

E toda a minha vontade.

Tudo isso tenho e possuo,

Vós me destes tudo isso.

A vós, Senhor, eu devolvo:

É tudo vosso.

Disponde de tudo, segundo a Vossa vontade.

Dai-me Vosso amor e Vossa graça.

Para mim, serão o bastante."

O corpo da Sociedade dos Jesuítas era composto de quatro categorias, ou graus, como eram chamados na Sociedade. Os membros eram distintos, de maneira geral, pelo grau de acesso às importantes posições de governo e direção do pessoal e dos recursos da Sociedade. Na prática, isso significava a sua proximidade ou distância do Geral, na pirâmide de autoridade e poder.

Os padres professos eram aprovados em rigorosos testes escolásticos — um sistema da ciência de Deus, da religião das coisas divinas e da filosofia que surgiu nas escolas Idade Média (caracterizava-se pela coordenação entre teologia e filosofia) — e nas provas de sua qualidade religiosa: faziam três votos solenes: de pobreza, de castidade e de obediência: e um voto especial de obediência ao Papa.

Em 1541, o Padre Inácio fora eleito, por unanimidade, o primeiro padre-geral da Sociedade. Quando morreu, em 1556, havia quarenta padres professos, de um total de 1.000 jesuítas.

A obra de Serafim Leite é, sem dúvida, uma das mais autorizadas e completas sobre as atividades dos jesuítas no Espírito Santo. De acordo com este autor, eles instalaram-se no litoral, mas algumas vezes se embrenharam sertão a dentro, em busca de índios para a catequese (ensinamento das doutrinas cristãs).

Chegaram a possuir amplas fazendas, como por exemplo, Itapoca (especializada na fabricação de farinha) e Muribeca (criação de gado). Suas aldeias e fazendas distribuíam-se pela orla marítima.

 

Fonte: Jornal A Gazeta, A Saga do Espírito Santo – Das Caravelas ao século XXI – 19/08/1999
Pesquisa e texto: Neida Lúcia Moraes
Edição e revisão: José Irmo Goring
Projeto Gráfico: Edson Maltez Heringer
Diagramação: Sebastião Vargas
Supervisão de arte: Ivan Alves
Ilustrações: Genildo Ronchi
Digitação: Joana D’Arc Cruz    
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2016

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