Carta ao meu cumpade Almando Azevedo (Aribiri, Vila Velha)

CLEMENTINO de BARCELLOS – 13-06-1937
CARTA AO MEU CUMPADE ALMANDO AZEVEDO (ARIBIRÍ, VILA VELHA)
I
Meu cumpade que sódade
que vontade de chora,
quando me alembra das noiques
que ensaiemo no Celestiá,
foi só pra toma amizadi
com o cumpade do Arraia.
II
O cumpade todo infruido
percurando o tocado
começava logo a quadria
de baxaré e doto,
de gente tão inducada
que nunca cumigo zangô.
III
Inté que chego o dia
da festa de Santo Antonho
o terrero do cumpade
tinha gente cumo demonho,
cumpade quando imagino
inté me parece um sonho.
IV
Logo cedo lá em casa
foram as cumades custurá,
os vestidos novo e com fita
pra festa do Arraia,
e eu só pensando na hora
da ta quadria marca.
V
Na última hora cumpade
comprei pra meu fio Jonzinho
uma carça pra ele dansá
com a muié do meu sobrinho
que é a cumade Joconda
casada com Duartinho.
VI
De noique tumemo os bonde
pra pega a condução,
era gente nas carçada,
parecia inté procissão,
as cumade tudo cantando
que grande sastifação!
VII
O meu cumpade Romério,
fio do Desimbargadô,
sortô um buscapé pro à,
que emveis de ir vortô,
meteu-se de bonde a dentro
só uma moça queimou.
VIII
O bicho vortô danado,
cumpade fiquei cum medo,
meteu-se pelos cabelo
de Dona Ivonha Azevedo,
pedi descurpa a menina,
e terminô todo inredo.
IX
Passou-se viemos simbora,
Cumpade, pra seu arraia,
Quando avistamos Aribirí
Cumecemos logo a cantá
Aquela tuada bunita,
No sertão se faz lua.
X
Di repente aparo os bonde
apareceu vancê, cumpade,
qui estava cum as mão cheia
di coisa de ilitricidade,
pedindo que num sartace,
oh, que home de bondade.
XI
Dispois decemo no ponto
pra tumá as condução,
o cumpade Manequinho
tinha tudo a dispusição,
chamou logo os impregado,
pois tudo em nossa mão.
XII
Tinha carro e tinha carroça,
tinha cavalo pra muntá
entremos nas condução
e fumo logo prô Arraia,
o nosso amigo Zizinho
bateu parma pra nos sarvá.
XIII
Quando cheguemo que beleza,
tinha moça da cidade,
tinha tanto amurfadinha
que nem parece verdade,
dansando uma certa dansa,
que rezei, creio em Deus Pade.
XIV
Tinha musga de sordado,
tocando lá na varanda,
quando passemo cumpade,
ficou tudo de cara banda
dizendo são da quadria,
ouviu a cumade Armanda
XV
Passemo lá pro terrero,
pra nossa quadria dansá,
meu cumpade deu a luz
sem mesmo ninguém espera,
pru causo de uma bomba
que veio a lampa apaga.
XVI
Meu cumpade assubiu na mesa
começo a discursá,
ficou tão tusiasmado,
que fez de novo a lampa apaga,
cum mais trabaio botô
o arame no lugá.
XVII
Cumpade eu vim simbora,
sem de você despedi,
falei só cum a cumade Irena
que eu vinha pra casa drumi,
que tinha de bem cedinho
o meu Moreno assubi.
XVIII
Adeus cumpade e cumade,
que trago no meu coração,
tarveiz que nós se encontre
nas noiques de São João.
abraços do cumpade Quelemente
com toda famiação
Fonte: Francisco Mascarenhas de Barcellos, filho de Mestre Clê
Compilação: Walter de Aguiar Filho, 15 de junho de 2005
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