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Construindo fortificações

Planta e fachada do Forte São João em Vitória

Em 1726, o vice-rei conde de Sabugosa comissionou o engenheiro Nicolau de Abreu Carvalho para vir construir as fortificações, julgadas necessárias, na baía do Espírito Santo.66 Dessas obras, como vimos, dependia a liberdade dos capixabas de tentarem os descobrimentos. Asseveram os cronistas que Nicolau de Abreu levantou a fortaleza de São João “na garganta que faz a baía acima da Vila do Espírito Santo”; 67 os fortes de Nossa Senhora do Monte do Carmo, “entre o cais grande e a praia do peixe na marinha da cidade [de Vitória]”; de S. Tiago, “dentro dela [da vila de Vitória]”; de S. Inácio, ou S. Maurício, “na marinha da cidade; dentro da cerca que foi dos regulares jesuítas”.68

Aproveitando a presença do engenheiro na terra e atendendo aos pedidos do povo e às próprias necessidades do culto, o capitão-mor-governador Dionísio Carvalho de Abreu69 mandou orçar as obras de reedificação da igreja-matriz de Nossa Senhora da Vitória, mais parecida com “caza de armazem, que lugar dedicado para a celebração dos officios divinos”.70 Só em 1731 foi baixada a ordem régia determinando a execução das obras,71 iniciadas, afinal, em 1749.72

NOTAS DO TEXTO

Em 1723, dirigindo-se aos oficiais da Câmara da vila da Vitória, o governador geral assim se exprimia: “atendendo a representação que me fazem acerca da impossibilidade com que se acham os moradores daquela capitania lhes concedo um ano, somente, de espera para a inteira satisfação da finta que lhes foi lançada” (DH, LXXI, 223).

66 - Nicolau de Abreu estava no Espírito Santo em 1724 e era esperado na Bahia em agosto daquele ano (Carta do vice-rei Vasco Fernandes César de Menezes, datada da Bahia, vinte de agosto de 1724, apud AMARAL, Notas, II, 365).

67 - F. A. RUBIM, Memórias para Servir. Enganou-se o memorialista. O forte de S. João já existia desde meados do século XVII (ver foot-note n.º 49, do capítulo VIII). Nicolau de Abreu fez apenas algumas obras, melhorando a antiga construção (ver foot-note seguinte [68] deste capítulo).

68 - RUBIM, Memórias, 245. – Cumprindo ordem de nove de abril de 1734, do vice-rei, Nicolau de Abreu e Carvalho (cf. Ms. abaixo citado) informou o seguinte, aos vinte e um daquele mês e ano: “Exm.º Snr. Obedecendo a ordem de V. Excia. com toda a individuação e clareza expendo as obras e reparos, que mandei fazer na Capitania do Espírito Santo quando nela estive por ordem de V. Excia. No Forte de São Francisco Xavier ou de Pertenimga [sic], chamado também da Barra mandei levantar seus parapeitos por estarem muito demolidos; fazer sua esplanada, uma garita [sic], casa de pólvora de abóbada, quartel para os soldados, reparar outro, sua alpendurada [sic], reformar sua portada e entrada, ou subida. No Forte de São João aperfeiçoar seus parapeitos, entulhá-los, fazer dois lados para se fechar em um torreão antigo, sua portada, entulhar bastante parte para assentar a esplanada, banqueta, uma garita, casa de pólvora de abóbada, cobrir uma casamata, em que aquela se fez, e a outra porção que era bastantemente grande para servir de quartel, desentulhá-la. No Forte da Vila reparar seus parapeitos, esplanada, alpenduradas e porta. Casa de pólvora principal de abóbada e seu átrio e reedificar a casa velha que ficou servindo de casa das armas para alguns petrechos mais. Estas são as obras que mandei fazer naquela Capitania e ficaram inteiramente capazes de todo o exercício militar e ainda com a perfeição necessária. Assim que me parece ter satisfeito a ordem de V. Excia” (Doc. n.º 251 do Códice I-5, 2, 29, da Seção de Manuscritos da BN).

69 - Antônio de Oliveira Madail foi substituído na governança do Espírito Santo por Dionísio Carvalho de Abreu, em 1724 (DAEMON, Prov. ES, 151; ASSIS, Governos, XII). Por despacho régio de cinco de agosto de 1726, foi nomeado capitão-mor e governador Antônio Pires Forsas (Gazeta de Lisboa, cinco de agosto de 1726, citada por GARCIA, Notas à HG, de VARNHAGEN, V, 375). Não encontramos um só documento dirigido a Pires Forsas ou por ele assinado na qualidade de administrador do Espírito Santo. EUJÊNIO DE ASSIS não o incluiu em Governos do Espírito Santo. Contudo, ALBERTO LAMEGO alude a uma determinação do conde de Sabugosa a Pires Forsas, em 1731, para que este colhesse informações do estado dos serviços de Pedro Bueno (Terra Goitacá, II, 274). Também Pedro Bueno Cacunda, na Carta dirigida ao rei aos oito de setembro de 1735 (apud ALMEIDA, Inventário, VII, 201), refere-se a ele. – A quinze de março de 1727, em ato dirigido ao provedor da Fazenda da capitania, o soberano português informava que foi “servido conceder a Antonio Pires Forças [sic] por empréstimo 150$000 para com elles se haviar para ir para essa Capitania para onde o tenho nomeado por capitão-mor para que o sirva por tempo de tres annos, por conta dos soldos, que ha de perceber” (DH, I, 4). – Equivocou-se o Sr. Rodolfo Garcia quando incluiu Antônio Vás da Silva no rol dos administradores capixabas (Notas à HG, de VARNHAGEN, V, 375), pois Vás da Silva teve provisão de capitão-mor para o distrito de São Mateus, dada por Antônio de Oliveira Madail (F. A. RUBIM, Memória Estatística, 167; DAEMON, Prov. ES, 150-1). – Em 1732, a capitania estava sob a direção do capitão-mor Silvestre Cirne da Veiga (LAMEGO, Terra Goitacá, II, 275; e DH, XC, 42-5 – (VER NOTA I ABAIXO NO FIM DESSE CAPÍTULO)  – Pedro Bueno Cacunda, Carta dirigida ao rei em oito de setembro de 1735, (apud ALMEIDA, Inventário, VII, 200).

70 - Da Informação do provedor da Fazenda do Rio de Janeiro (ALMEIDA, Inventário, VII, 133- 4). São da Informação retro mais as seguintes valiosas achegas: “Tem o corpo desta Igreja cento e vinte palmos de comprimento, e achando os ditos engenheiros ter de largura somente cincoenta e três lhe deram mais sete, que fazem sessenta, para ter a proporção dupla ao comprimento ... As paredes que são feitas de pedra e barro e muito arruinadas, escassamente chegão a ter vinte palmos de altura. Tambem lhe derão pouco mais fundo e largura na capella mór, por ser mui pequena”.

71 - “Sou servido por resolução de vinte e dois do prezente mez e anno, em consulta do meu Conselho Ultramarino, que do rendimento dos mesmos dizimos se tirem todos os annos 400$000 rs. para a factura da Egreja e que os Freguezes concorrão igualmente com outros 400$000 rs. todos os annos para o corpo della, cujas contribuições durarão athé se prefazerem os ditos 10:000 cruzados, em que foi orçada a dita egreja, que hade ser feita na forma da dita planta” (ALMEIDA, Inventário, VIII, 103).

72 - “Certidão em que o Escrivão da Fazenda Carlos José Ferreira declara ter ficado deserta a arrematação das obras da reedificação da referida egreja e terem principiado as mesmas obras sob a direcção do Provedor da Fazenda e da Camara. Vila de N. Sa. da Victoria, cinco de fevereiro de 1749” (ALMEIDA, Inventário, VIII, 103).

 

NOTA 1 PÁG 203.

“O Capitão-mor da capitania do Espírito Santo, Silvestre Cirne da Veiga, em carta de 15 de outubro de 1732, dá conta a Vossa Majestade, por este Conselho, de que ele chegara àquela capitania em 9 de janeiro do dito ano e em 12 do dito mês tomara posse do governo dela, sendo o motivo desta demora a dilatada doença que teve na cidade da Bahia, da qual viera a completar nove meses na vila da Vitória, representando que aquela capitania, segundo o que entende, é uma das melhores que tem a América e merece todo o cuidado e atenção por sua barra, altura e grandes conveniências que permitem a sua situação e que sem embargo de Vossa Majestade ser servido metê-la na coroa, se acha na mesma forma de que era donataria, pela confusão das ordens dos governadores gerais, que principiaram no primeiro Capitão-mor João de Velasco Molina, ao qual deu o Marquês de Angeja umas instruções para se governar por elas enquanto Vossa Majestade resolvia mandar novo regimento, mas como fossem sucedendo outros governadores se não observaram, antes se tinha tirado o governo comum aos capitães-mores, tendo para si que estão em lugar de capitães como era em tempo do donatário, e assim é que lhe dão o tratamento de que se tem seguido a pouca decência com que foram tratados, e não menos prejuízo grande à Fazenda de Vossa Majestade, sendo certo que tiradas as intendências aos capitães-mores hão de ser infalíveis as desordens.

Que nas visitas que fizera aos armazéns vira duas casas mui diminutas à tal denominação, a da pólvora com pouca disposição contra a corrupção deste material e a das armas sem nenhuma para o tratamento e comodidade delas e de seus petrechos e a este respeito tudo o mais com notável incapacidade, principalmente nas armas que estavam dadas ao consumo nas quais fizera exame e achara entre estas cinqüenta e oito capazes de serviço de que fez advertência ao almoxarife para que logo as mandasse limpar e pôr coronhas, como também se fizessem cabides para o tratamento delas e que como aos capitães-mores lhes falta a jurisdição para o exame ordinariamente dizem não há dinheiro para estes aparamentos precisos.

Que daquela vila do Espírito Santo será uma légua pelo rio abaixo que fica perto da barra, e em toda esta distância se acham três fortalezas e que somente a que chamam de São João era a que se lhe podia dar este título, assim na formatura dela como no material, a qual se fez no tempo do Marquês de Angeja e se acha com vinte e três torneiras e não tem mais artilharia que onze peças montadas; e a fortaleza de Nossa Senhora do Carmo tem nove torneiras, cada uma com sua peça montada, mais quatro pedreiros de bronze que estavam debaixo de telha, e a de São Francisco Xavier da barra tem onze torneiras com nove peças montadas; e que para renovar estas fortalezas e armazéns viera um Capitão Engenheiro da Bahia com seu ajudante e as obras que o dito Capitão-mor achara nelas não correspondiam à despesa que lhe dizem se faz.

Que esta praça tem uma companhia de infantaria paga, que consta de um capitão, dois ajudantes e um alferes e todos estes postos providos, porém não os soldados de sua lotação, porque destes somente serviam a Vossa Majestade vinte e oito, porque uns têm passado a postos da ordenança e os que menos têm fogem da praça por falta de vestido, porque se lhes não dá farda nem o socorro passa de 640 réis cada mês, razão por onde estes soldados precisam que Vossa Majestade lhes faça mercê que das fardas que sobejam dos terços que há na Bahia se lhes dêem porque estas se metem no armazém e lhe consta que ordinariamente se perdem pela traça que lhes dá e só desta sorte poderia estar a companhia completa.

E que tem passado mostra geral às ordenanças de toda aquela capitania, que na vila de Nossa Senhora da Vitória há doze companhias, com todos os seus oficiais maiores com armas suas e suficientes e na vila do Espírito Santo há duas companhias mal completas com suas armas e que passando à vila de Nossa Senhora da Conceição de Goraparim, distante daquela doze léguas passara mostra a duas companhias superabundantes, com boas armas, em uma das quais metera de posse um capitão criado de novo por uma patente do Governador Geral.

Que também achara uma companhia de artilheiros com trinta e seis homens que não vencem soldo, a qual foi criada com um ajudante condestável e capitão pagos, e que estando um Matias da Costa Torres (já defunto) servindo este posto de capitão mais de vinte anos depois de outros lhe mandara dar baixa o Governador Geral, sem mais causa do que não ser o dito posto necessário naquela praça e que a ele capitão-mor lhe parece ser este o mais preciso, pela falta que lhe faz este posto à artilharia e exercício que se deve fazer aos artilheiros, o que não sabem pela falta de os administrarem, e que para o cargo do dito posto de capitão se acha naquela praça o capitão Manuel Ferreira Viana, no qual achava os requisitos necessários.

E ordenando-se pela Provisão inclusa ao Vice-rei do Brasil informasse com seu parecer satisfez com o que consta da sua resposta, que com as cópias que nela acusa sobe tudo à real presença de Vossa Majestade.

Ao Conselho parece o mesmo que ao Vice-rei do Estado do Brasil o Conde de Sabugosa, para que Vossa Majestade seja servido ordenar que para a capitania do Espírito Santo se mande um oficial prático no exercício da artilharia para que possa pôr em bom método de serviço os artilheiros dela e que também se reencha logo a companhia de infantaria, cujo pagamento se lhe fará na forma que o mesmo Vice-rei aponta e enquanto ao mais se proceda também na conformidade do parecer do dito Vice-rei.

E enquanto à artilharia necessária para a defensa daquela capitania se passa ordem pelo expediente do Conselho, para que ele Vice-rei informe do número de peças que são necessárias e de seus calibres e põe o Conselho na real presença de Vossa Majestade que esta capitania-mor se acha consultada, cuja consulta não tem baixado resoluta e será conveniente ao serviço de Vossa Majestade o querer tomar resolução nela.

Lisboa Ocidental, 4 de julho de 1735. Abreu. Sousa. Varges. Galvão. Metelo.

À margem – Como parece, e nomearei governador.

Lisboa Ocidental, 14 de abril de 1736. Com a rubrica de Sua Majestade” (DH, XCI, 42-5).

 

Planta e fachada da fortaleza de São João

“Planta e Fasada da Fortaleza de Sam Joam, huma das principais, que defende orio da Capitania do Espirito Santo na sua garganta. A Figª. 1.ª mostra a Planta dela, e se ve que A he aporta da sua entrada, B explanada, C quartel baixo. D quartel alto com suas tarimbas, para a Comodasam da guarnisam E caza de polvora, F caza de palamenta miuda, G escadas que sobe para o aterrado antigo, que servia em outro tempo de castelo com suas ameias. A Fig.a 2.ª mostra a Fasada da dita Fortaleza. Sobre o seu portico tem huma pedra, a qual mostra que tinha incrisam: porem otempo consumio todas as Letras, de sorte que senam percebe. Esta Fortaleza tem 10 pesas montadas em suas carretas.

Toda a sua muralha que hé batida das marés foi reparada de novo, e igualmente todo o seu parapeito reparado, e feito denovo com outros concertos miudos, que nela se fizeram, com asistencia do Capitam Engr.o Josê Antonio Caldas, no ano de 1765, que foi mandado aesta deLigencia pelos Governadores interinos da Bahia, e prezentemente foi mandado pelo Ilm.º e Exm.º S.r Conde de Azambuja Gov.or e Capitam General demar eterra desta Capitania a outras deLigencias na qual tirou esta Planta que foi Copiada por Josê Francisco de Souza Academico com partido na Aula Real das Fortificasoens desta Cidade da B.ª aos 8 de 8br.º de 1767.”

 

Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3edição, 2008 
Coordenação editorial: Fernando Antônio de Moraes Achiamé
Revisão e atualização do texto: Reinaldo Santos Neves
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2015

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