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Corsos de Vila Velha

Clementino Barcellos e Lúcio Bacelar com trajes carnavalescos, no portão velho de Convento da Penha, na década de 1920

Levantamos uma pontinha do que seria o Carnaval em Vila Velha quando nos reportamos aos “Zé Pereira” e à ornamentação dos clubes dos Democráticos e Fenianos, feita em sigilo. O banho de mar a fantasia na praia da Sereia contava com a presença da alegoria da sereia em carro alegórico. Mas a animação do Carnaval ia além dos limites de Vila Velha, alcançando Vitória. Os clubes dos quais já falamos, com os seus foliões devidamente fantasiados, não se continham nos salões de festa à noite. Formavam blocos como o dos “Renegados”, do clube dos Democráticos, e, ao cair da tarde, subindo em carros enfeitados, tanto de carroceria como automóveis de passeio, dirigiam-se a Vitória um atrás do outro e lá ficavam circulando pelas ruas e em redor das praças, cantando animadamente, gesticulando em movimentos ritmados, de acordo com as marchinhas escolhidas, enquanto jogavam sobre a assistência confetes e serpentinas, não faltando os esguichos do gostoso, cheiroso e inofensivo lança-perfumes. A esse gesto de alegria e de cumprimento, o povo, embaixo nas calçadas, à passagem do corso retribuía jogando confetes, atirando serpentinas e espargindo jatos de lança-perfumes. Essa reciprocidade animava e agitava o Carnaval de rua em Vitória.

Em um trança-trança para cá e para lá, voltas por ali, contornos da praça acolá, seguindo sempre um carro atrás de outro. A esse movimento chamava-se corso. Nos tríduos de Momo era comum dizer-se: “Amanhã vamos fazer um corso em Vitória.”

Desses corsos, um marcou época. Quem nos contou isso foi o nosso amigo Walter de Aguiar, filho do inesquecível festeiro Miguelzinho Aguiar. Segundo ele, o Clube dos Democráticos, com muito esmero, preparou um carro alegórico para marcar época no corso que se faria a Vitória como costume. Fizeram uma alegoria mais alta e mais atraente do que as dos anos anteriores. Com certeza a sua passagem por Vitória, apoteótica e arrebatadora, levantando o público em aplausos, marcaria época. Seria inolvidável. Só restava aos foliões chegar à passarela da glória. Vibrante e com muita alegria, o caminhão do Augusto Italiano, assim enfeitado, começou a percorrer a rua Luciano das Neves, ganhando a velha estrada de rodagem para Vitória, a única existente unindo o continente à ilha. De súbito, em Cobi, em frente ao viaduto da Estrada de Ferro da Leopoldina, o motorista breca o carro. Caminhão e alegoria não conseguiriam passar simultaneamente. O momento foi frustrante, e de alegres os nossos brincalhões passaram a tristes e de tristes a decepcionados. O idealizador da bela alegoria não levara em conta as medidas do viaduto, e para prosseguirem o jeito seria mexer na alegoria. Desmontaram-na e ela não foi mais a mesma. Quando chegaram a Vitória receberam os aplausos do público pelo animado bloco, sem que se tomasse conhecimento dos restos mortais da alegoria que se pretendia bela. Bela e arrebatadora!

 

Fonte: Ecos de Vila Velha, 2001
Autor: José Anchieta de Setúbal
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2013 

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