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Espírito Santo: uma visão logística

Mapa Rodoviário do ES

Muito se fala que o Espírito Santo é um estado eminentemente voltado para serviços, em especial: logística e turismo.

De fato esses dois campos são importantes em nossa economia e com grandes possibilidades de crescimento; no entanto não podemos nos esquecer que somos um estado com empresas de porte como: CVRD, CST, Aracruz, Samarco, Polo de Confecções no norte, Extração mineral, e uma área rural extremamente modernizada com altos índices de exportação.

Nesse sentido gostaríamos de colocar inicialmente que a logística deve ser uma atividade geradora de mais recursos para o estado, mas sozinha não será a única fonte de crescimento do estado.

O Espírito Santo ao longo de sua história desenvolveu uma infra estrutura logística muito boa na área portuária, ferroviária e rodoviária. Ainda carecemos de armazéns, aeroportos e fluxo de carga mais equilibrado, importação e exportação, o que discutiremos mais a frente.

Hoje o Espírito Santo possui 11 portos operacionais, citando os mais importantes temos: Tubarão, Praia Mole, TVV, Peiu, Cais de grãos, Paul, Comercial Vitória, Samarco, CPVV, Barra do Riacho. Vale ressaltar que todos esses portos vem recebendo fortes investimentos nos últimos anos.

Aliados a isso temos a ferrovia EFVM que chega ao estado e a FCA que se conecta a EFVM em Belo Horizonte, ambas administradas pela CVRD e que juntas levam as cargas de nossos portos por aproximadamente 7.200 km para dentro do Brasil.

Temos as rodovias federais BR-101 que cruza o estado de norte a sul e nos conecta com todo o país, temos ainda a BR-262 que nos leva a oeste, ambas em razoável estado de conservação.

A nossa estrutura de armazéns, apesar dos investimentos feitos nos últimos anos ainda carece de um crescimento maior para realmente poder atrair carga.

O nosso aeroporto ainda é muito modesto, tanto para cargas nacionais quanto internacionais. Temos investimentos já alocados e com data de início para o 1º trimestre de 2003, projetando-se o término das obras para os próximos 5 anos, viabilizando, assim, o fluxo de cargas nacionais e internacionais para o Estado.

Apesar de toda essa infra-estrutura nos perguntamos: porque ainda não conseguimos atrair a quantidade de carga necessária para viabilizar grandes volumes para o estado.

Levantamos, a seguir, algumas questões:

Nossos portos não receberam durante três décadas investimentos a altura de um porto comercial privado, ficando obsoleto e caro, e somente nos últimos dois anos que investimentos altos, TVV, Peiu e Paul vem realizando tais investimentos, Exceção seja feitas aos portos privativos da CVRD, CST, Aracruz que por suas próprias iniciativas e para manuseio de suas próprias cargas vem investindo recursos para a melhoria contínua dos mesmos.

A falta de tais investimentos é explicada pela falta de nosso estado ter maior poder nas camadas políticas federais, não conseguindo alocar verbas para nosso estado.

Essa falta de investimento fez com que nossas operações portuárias se tornassem caras e com isso afugentassem as potenciais cargas.

No âmbito ferroviário a estrada de ferro FCA, até meados da década de 90, pode se dizer, era inoperante para cargas comerciais, totalmente falida em infra estrutura e equipamentos rodantes, o que limitava nossa hinterlândia a Belo Horizonte, inviabilizando cargas do interior que chegassem aqui com preços competitivos.

Aliado a isso o foco da EFVM era prioritariamente o transporte de minério de ferro da CVRD para exportação e carvão importado para as usinas siderúrgicas de Minas Gerais. Somente no início da década de 90 é que a EFVM começa a dar enfoque em cargas diversas e de terceiros.

Percebemos pelo cenário acima traçado, que temos, uma infra-estrutura de 50 anos atrás e como nada, ou muito pouco foi feito, a nossa tão falada infra-estrutura, não é mãos do que uma memória do passado, e para recuperarmos o tempo perdido, somente com investimentos maciços em todas as áreas.

Após a privatização e a concessão de alguns serviços, tais investimentos começam a surgir, no entanto investimentos em infra-estrutura são demorados e nós só começaremos a ver expressivos resultados daqui a cinco ou dez anos, Isso caso sejam mantidos os investimentos e que todas as áreas públicas sejam privatizadas ou concedidas.

Baseado nesse cenário percebemos que fora algumas grandes empresas, que já foram citadas, o estado do Espírito Santo não tem um mercado consumidor grande, e os grandes mercados estão localizados a aproximadamente 600 km, Rio de janeiro, a 900 km, São Paulo e a 750 km, Belo Horizonte.

Nesse cenário todo pensamos que nosso maior foco devem ser os estados que não possuem saída para o mar, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Distrito Federal, que obrigatoriamente deverão fazer uma escolha entre os portos do Espírito Santo, Bahia (Ilhéus e Salvador), Rio de Janeiro ou São Paulo (Santos).

Antes de prosseguirmos, devemos destacar o que se entende por logística. Logística, no conceito atualmente aceito, pode ser definida como as atividades totais que compõem desde a aquisição de matéria prima até a entrega do produto final ao cliente, sendo que essa entrega deve ser feita no prazo, na qualidade, na quantidade, no local e no custo previamente combinados.

Assim sendo quando falamos de logística, não estamos falando somente em transportar, mas também na liberação de carga para importação e exportação, no cálculo do estoque, na armazenagem, no manuseio da carga no fluxo de informações para acompanhar todo o processo.

Se o Espírito Santo operar dentro do conceito de logística, podemos, eventualmente, ganhar carga de outros portos e aeroportos através da qualidade do serviço prestado, mesmo que o custo total da operação seja maior.

O problema é que no Espírito Santo, poucas empresas estão oferecendo serviços logísticos completos, e portanto temos pouca competitividade para atrair mais cargas.

Algumas ações do Espírito Santo vem ajudando a atrair cargas para o estado, dentre elas o sistema FUNDAP que tem incentivado as importações com redução de alíquotas, Como somos o único estado, a ter essa opção, nossos custos tornam-se mais competitivos.

Apesar de o FUNDAP existir, o mesmo só se aplica a importação. E assim mesmo temos um desequilíbrio enorme entre a importação e exportação. Eminentemente somos um estado exportador, destacando: café, pedras, minério de ferro, siderúrgicos, celulose, grãos.

Após traçarmos o perfil do estado, gostaríamos de pontuar algumas ações que poderiam reverter a situação atual do estado, tornando-o um grande centro de atração e manuseio de carga.

Inicialmente deveria ser composto um comitê de empresários, governo estadual e municipal, para ações serem traçadas em conjunto em que o estado como um todo seja vendido como uma opção logística para o Brasil central e porque não Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia.

Algumas ações desse nível foram traçadas e levada a frente, mas não conseguiram resultados expressivos, consistentes para o estado. Mas indubitavelmente foram muito importantes, dentre várias citamos o Corredor Centro Leste.

Poderíamos imaginar que em vez de irmos a outro estado buscar carga, poderíamos ter nossas cargas cativas dentro do próprio estado. Para tal precisaríamos atrair indústrias que consequentemente usariam nossos portos.

As cargas que viriam a ser atraídas teriam um custo marginal, tendo em vista a carga do próprio estado já pagar o custo da infra-estrutura montada. Como exemplo citamos o Terminal de Placas de Praia Mole, onde os siderúrgicos por si já pagam os investimentos, e portanto qualquer outra carga (granito, carro e outros) só são uma receita adicional tendo um custo marginal.

O estado não tem sido muito feliz nos últimos anos em atrair muitas empresas, perdendo inclusive algumas atualmente instaladas aqui para outros estados.

Outra ação a ser tomada seria continuar com consistência o processo de privatização e concessão dos portos e aeroportos a fim de criarmos um maior aporte de capital para investimentos em infra-estrutura.

Incentivo a preparação de profissionais para atuarem nas áreas de logística e comércio internacional, a fim de se formar uma cultura de serviços em logística dentro do estado.

Incentivo a criação e/ ou atração de empresas de trading para o estado, criando-se assim mais opções para potenciais clientes.

Ações mais integradas das bancadas federais para carrear mais recursos para o estado e investi-los em infra-estrutura.

Nisso tudo que expomos até o momento, podemos concluir:

O estado do Espírito Santo tem tudo para ser um grande player, em operações logísticas, dentre os estado brasileiros, no entanto, como já foi visto, muitas ações novas devem ser tomadas e as atuais ações em andamento, devem ser preservadas e continuadas.

A logística não deve ser vista como uma ação milagrosa no estado, pois nós só seremos grandes prestadores de serviço de logística, caso tenhamos um estado com economia forte, com indústrias instaladas no estado.

Sem um forte trabalho institucional de marketing do estado, fica muito difícil para este ações isoladas visando torná-lo maior e melhor.

Só poderemos esperar resultados efetivos dessa melhoria imaginada, considerando tudo acima exposto, daqui a cinco a dez anos. Prazo que imaginamos ser o mínimo para que sejam executadas as melhorias na infra-estrutura.

Se conjugarmos a atração de novas indústrias e melhoria/ aumento da infra-estrutura, podemos com certeza, afirmar, que não haverá melhor escolha para o fluxo de cargas das regiões hoje sem acesso ao mar e porque não para os estados que tenham acesso ao mar, mas não consigam ser competitivos.

 

Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Nº 56. 2002.
Rodrigo de Alvarenga Rosa
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2012 

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