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Família Caliman

Família Caliman

Dos irmãos Caliman que vieram para o Espírito Santo, Vicenzo é o que se estabeleceu na fazenda Lavras ou Lavrinhas; pertencia, na Itália, a mesma Comuna de “Treviso” Santa Lucia e todos moravam em comunidades vizinhas. Vicenzo nasceu em 1838 e aos 51 anos de idade, no ano de 1889, com a esposa e os filhos (Miguel, Angelo, Angelina, Antônio e Piero), chegou ao Brasil, no Espírito Santo, indo ocupar o quinhão de terras doado pelo Governador Imperial, em São Pedro de Araguaia, perto da Estação de Leopoldina Railway de Matildes. Foi nesta localidade que se concentrou a maioria das famílias dos imigrantes que, a partir do final do século passado até o ano de 1910, descobriram Venda Nova. Em São Pedro de Araguaia, na propriedade de Vicenzo Caliman, a comunidade, formada pelas famílias Falqueto, Zandonadi, Perim, Breda, Zambom, Camata, Altoé (os de Jaciguá), Delarmelina, Modolo e Busatto, uniu-se na construção da capela sob a invocação de São Pedro. O patrimônio foi cedido pelos Caliman e o lugar era tão montanhoso que tiveram que escavar barrancos para dar lugar a duzentos metros da capela, e foi ali que nasceu titio Fioravante Caliman e minha saudosa mãe, Dona Rosa Caliman Zandonadi. Ali viveram perto de 20 anos. Os Zandonadi eram amigos chegados dos Caliman, e papai já namorava a filha caçula. Tinham comprado parte da fazenda Lavrinhas e antes de fazerem a mudança, insistiram para que os Caliman e os Falqueto comprassem o restante da fazenda. Os Caliman e os Falqueto, vizinhos da Capela de São Pedro e líderes do lugar, a muito custo foram ver o lugar oferecido. Junto com os Zandonadi, por picadas no meio da mata, percorreram toda a área de 225 alqueires. Ficaram maravilhados, pois nunca tinham visto uma floresta tão bela e terras tão férteis. As duas famílias Caliman e Falqueto logo efetuaram a compra, combinando que os dois filhos, Pedro e Antônio, juntamente com o construtor de casas, Jacinto Catelan, ficariam com a incumbência de erguer a primeira moradia para abrigar toda a família Caliman.

Como disse anteriormente, não foi fácil para a família Caliman ter que deixar São Pedro de Araguaia, agora São Pedro de Matildes. Em São Pedro, a família era o centro religioso, social e cultural da comunidade, empenhada em conservar todo o patrimônio de belas e importantes tradições trazidas, zelosamente, da Itália. Na capela local, dirigiam as rezas dominicais e davam aulas de catecismo. Quando vinha o vigário Padre Marcelino Marroni, ou algum sacerdote, ou m,esmo na ocasião da visita do Bispo Diocesano, Dom Fernando Monteiro, era no aconchego do solar dos Caliman que eles permaneciam, Este solar também foi o berço dos corais de música sacra, que se espalharam para todas as capelas e comunidades da região do Alto Castelo. No salão do casarão, os ensaios noturnos reuniam membros de todas as famílias do lugar. Foi deste humilde berço que, mais tarde, vieram os consagrados mestres da música (Antônio Caliman e seus filhos Vicente Caliman; Angelo Caliman; José Vicente e Dionísio Falqueto; as irmãs Maria, Luiza e Mônica Caliman; Pierina Falqueto Briosque; Francisco, Pio e Miguel Zandonadi) e fundadores do célebre coral de veteranos de São Pedro de Venda Nova, predecessores do renovado Coral de Santa Cecília que, atualmente, pelo seu entusiasmo e projeção, dignifica o esforço dos gloriosos antepassados.

Vicenzo Caliman/ Maria Chiesi, vindos da Itália, já contavam com os filhos Miguel, Angelo, Angelina, Antônio e Pedro. Na comunidade de São Pedro do Araguaia, completaram a família com o nascimento dos dois caçulas, Fioravante e Rosa. O irmão mais velho, Miguel, casado na Itália com Tereza Breda, não chegou com o resto da família em Venda Nova. Logo ao chegarem ao Espírito Santo, havia um caminho para imigrantes ocuparem terras férteis, via Cachoeiro de Itapemirim/ Castelo e de lá para o planalto de Alto Castelo. Miguel, esposa e filhos compraram uma propriedade em São Manoel, a uns 30 quilômetros além da Estação de Castelo e ali sustentaram a numerosa família de João, Francisco, Genoveva, Luiza, Carolina e Maria.

Antônio Caliman/ Angélica Breda, casal que ficou na casa construída para abrigar os Caliman, veio com os filhos Vicente, Eliza, Maria e Eugênio. O casal ficou bastante tempo no casarão paterno que foi construído a uns 500 metros do córrego Lavrinhas. OO descendente Marino, filho de Eugênio, reside no casarão, conservado intacto, só tendo sido mudada a cobertura que era de tabuinhas e, agora, de telhas francesas. O Sr. Antônio era um músico apaixonado e liderava a cantoria dos veteranos. O casal fez nascer em Venda Nova, além dos cinco filhos mencionados, Francisco, falecido aos nove anos, de picada de cobra surucucu. O garoto estava na lavoura de café e subiu num mamoeiro para apanhar um mamão maduro. Quando desceu, pisou com força na cobra que estava ao pé do mamoeiro. Os outros filhos: Tereza, que casou com Ernesto Altoé; Santa, casada com Afonso Altoé (de Jaciguá), tendo falecida no primeiro parto; Amélia, casada com Agostinho Falqueto, este, falecido em Marilândia, em 1988. Ela ainda é viva; e Pascoal, esposo de Ozília Camata, tendo falecido bastante jovem de câncer deixando a mulher à frente de numerosa família formada pelos seguintes filhos: Orlando, ex-secretário das finanças do governo do Dr. Gerson Camata; Padre Cleto (Cletinho), sacerdote Salesiano e teólogo de renome; Tereza, uma moça prendada, muito culta, que jovem e noiva, morreu vítima de um tumor maligno; Ademar, catedrático, lecionando no Colégio Marista de Vila Velha (ES); as irmãs da Congregação da Santíssima Eucaristia, Talita (Ana) e Idalete; Olga, casada com Gelásio Delpupo; Antônio, herdeiro da sede, em cuja pequena área se desenvolve, plenamente, uma produção diversificada; Padre Geraldo, sacerdote Salesiano, atualmente, estudando teologia em Roma; Jésus; e, finalmente, Vicente, técnico agrícola que na primeira eleição do município de Venda Nova do Imigrante, foi eleito vereador. O casal Pascoal e Ozília, dentro da comunidade Vendanovense, era o que mais se preocupava com os grandes projetos futuros do lugar.

Dos filhos do casal Antônio/ Angélica, o mais velho dos homens, Vicente Caliman e sua esposa Catarina Falqueto foram um casal baluarte, principalmente à frente do coral veterano. Ele ocupou o lugar do pai como maestro. Foi uma pena que, após tantos anos em Venda Nova, deixassem o lugar para se instalar com a família no meio da mata virgem no Alto Patrão Mor, no Norte do Estado. O segundo filho, Sr. Eugênio Caliman, casado com Verônica Zandonadi, viveu até a morte em Venda Nova. Os dois formaram um casal exemplar. Ele era um exímio tocador de sanfona de oito baixos e era sempre convidado para os casórios, A filha Eliza casou-se com Ferdinando Delarmelina e morou quase toda a vida na última propriedade da fazenda Lavras ou lavrinhas, Maria, casada com o Sr. Angelo Falqueto, viveu e faleceu, recentemente, na fazenda bananeiras, tendo criado e educado uma família numerosa. Além dessas, nascidas em Venda Nova, a Mônica, casada com Narcizo Lourenção; os dois, ainda vivos, em São Pedro de Marilândia, fazendeiros e empresários. Teonila, a caçula, casada com Vitório Pagotto, com uma família grande, vive no centro urbano de Venda Nova. São proprietários da rede de supermercados Pagotto.

Pedro Caliman/ Pierina Caliman. Ela não era parente do marido. Casados em São Pedro do Araguaia, na paróquia de Alfredo Chaves, o casal veio para Venda Nova apenas com o filho mais velho, Vitorino. Aqui, nasceram Angelina, Romeu e Ricardo. Dos casais veteranos, Foi o de família menos numerosa. O Sr. Pedro faleceu bem novo, em 1919, de tifo, na mesma época que o irmão Antônio. O Sr. Pedro se distinguiu como hábil marceneiro e foi sempre encarregado da construção de casas, primeiro dos Caliman e depois dos Falqueto, em Lavrinhas.

No livro de minha autoria “Venda Nova, um Capítulo da Imigração Italiana”, destaquei o trabalho do Sr. Vitorino Caliman como fundador e primeiro presidente da Cooperativa Agrária de lavrinhas, em 20 de setembro de 1947. Ele soube dirigi-la com amor, prudência e, sobretudo, honradez. Tinha grande experiência de comércio na Seção de Consumo: as compras eram feitas por ele, no comércio varejista do Rio de janeiro. A filha Angelina, casada com meu primo Fioravante Zandonadi, vive na propriedade perto do centro urbano de Vila Betânia. Romeu teve seu primeiro casamento com Erzia Lourenção, que teve curta duração, pois ela faleceu com poucos meses de casada. Ele casou-se, em segundas núpcias, com Ezebina Bragatto, e faleceu no bairro Grama, em Afonso Cláudio. Já Ricardo casou-se com Cecília Lourenção, vivendo muitos anos em Afonso Cláudio. Mais tarde, com os filhos formados, residindo em São Paulo, capital, e ocupando altos postos em empresas privadas, o casal foi morar também naquela cidade, onde o Sr. Ricardo trabalhava em casas de religiosos Verbitas. Veio a falecer anos atrás.

O terceiro casal, Angelo Caliman/ Carolina Camata, com os filhos que vieram para Venda Nova na mudança: Abel, Davi, Josefina, Brígida, Elias, Egídio, Isaías e Jeremias; nasceram em Lavrinhas: Regina, Remígio, Serafina, Eugênia, Fernanda, Elizeu e Ilda. Brígida foi a primeira a deixar Venda Nova para seguir a vida religiosa na Congregação dos Santos anjos, o mesmo acontecendo com as manas, Irmã Fernanda e Serafina (Irmã Maria Eymard). A propriedade que foi do casal Angelo Caliman/ Carolina Camata está em posse do filho caçula, o Sr. Elizeu Caliman. Ele conserva, ao lado de sua casa, o casarão centenário, do qual cuida com muito zelo.

O Sr. Angelo Caliman junto com os sobrinhos João e Guerino Camata, filhos de Teodoro Camata, foram os primeiros colonizadores de Marilândia, tendo comprado, em 1925, propriedade que hoje, limitam-se com o povoado de São Pedro de Marilândia. Naquela época, atravessaram o rio Doce de canoa; entraram na mata abrindo picadas de foice e facão até o atual São Pedro de Marilândia, onde armaram um rancho. Foi preciso que um deles vigiasse, à noite, para não serem atacados por animais ferozes – onças, por exemplo – e também por silvícolas que rondavam aquela vasta região de mata. Compraram o que atualmente é a sede e área circunvizinha ao centro de São Pedro de Marilândia. As famílias de Angelo Caliman e de João e Guerino Camata foram as primeiras a residirem naquela rica região. Um dos genros do Sr. Angelo Claiman, casado com a filha Josefina, Sr. Pedro Mascarello, foi também um dos pioneiros na colonização de São Pedro de Marilândia.

A numerosa família do Sr. Angelo trabalhou na propriedade de São Pedro de Marilândia até a metade do século. Venderam-na e compraram, a maioria deles, fazendas no arredores de Linhares e no Estado da Bahia. Abel e Remígio se instalaram dentro de Marilândia. Isaías explorou hotelaria em Colatina.

Casal Fioravante Caliman/ Marieta Carnielli: o caçula dos homens, Fioravante, chegou solteiro a Venda Nova do Imigrante. Em São Pedro de Matildes, foi um líder dos jovens. Contava-me a mamãe, filha mais nova do casal Vicenzo/ Maria Chiesi, que a família, familiarizada com a música, presenteou o filho com uma sanfona trazida da Itália. Amante das reuniões e bailes noturnos, titio Vante era vigiado pelos pais que não gostavam que ele fosse a bailes à noite. Entretanto, tinha sua estratégia: como dormia no andar superior, em um quarto só para ele, ficava bem á vontade. Aos sábados, fingia que ia dormir e, no quarto, amarrava os lençóis, fazendo uma espécie de corda que, presa na janela do lado de fora, se projetava quase até o chão. Com a sanfona a tiracolo, descia pela corda, ganhava a estrada e a noite era certa e movimentada.

O casamento com Marieta Carnielli reverteu o assanhamento: não permitia bailes em casa e era, na comunidade, o inimigo “Número um” dos bailes. O casamento foi um dos primeiros realizados em Venda Nova e nesse dia, a alegria deu lugar a uma profunda tristeza. Um primo do casal, o Sr. Pedro Caliman, residindo na fazenda do Centro, foi convidado para ser o festeiro. Na chegada da comitiva nupcial à sede, houve fogos de artifício e foi entregue ao Sr. Pedro umas dinamites trazidas de Matildes (da construção da estrada). Ao acender o estopim de um deles, descuidou-se e o mesmo estourou em sua mão arrancando-lhe o braço, ao mesmo tempo que um estilhaço cegou-lhe a vista. Acabou a festa! De imediato, foi improvisada uma maca e o Sr. Pedro, envolvido em lençóis e carregados por robustos homens, escolhidos entre os convidados, numa distância superior a 40 quilômetros, através de uma picada estreita. Levaram-no até Castelo, onde recebeu os cuidados médicos da terapeuta D. Genoveva. Foi salvo e sem um braço e cego de uma vista ainda defendeu o seu sustento, abrindo um pequeno comércio na localidade de Santa Isabel, perto da fazenda do Centro.

Com o casamento, o lar de Fioravante e Marieta foi exemplo vivo de educação de uma família grande, de 14 filhos (um falecido com nove meses), sempre voltada para a ajuda aos mais necessitados dentro de uma vivência cristã.

Os filhos: Padre Cleto, primeiro sacerdote Vendanovense, a quem, com sua virtuosa vida como Salesiano, dediquei peculiar atenção em meus três livros publicados; Irmã Anita, religiosa Salesiana; Padre Leandro, diretor da Escola Técnica-agrícola de Silvânia (Goiás); Domingos, pai de 16 filhos, sendo duas filhas religiosas. Atualmente, está enfermo, com membros paralisados e sem fala; Jordelina, casada com meu primo Caetano Zandonadi; Clementino, casado com Arlinda Falqueto, cujo lar é um destaque na comunidade. Família numerosa, uma das filhas, inclusive, é a Primeira Dama do município de Domingos Martins. Na paróquia de São Pedro de Venda Nova, Clementino é o auxiliar direto do vigário; Agostinho, casado com D. Tecla Falqueto, outra família grande. Moram na sede da propriedade e um dos filhos, Domingos Sávio, é o diretor da Escola de 1º e 2º graus Fioravante Caliman, ex-colégio Salesiano de Venda Nova; Benito, casado com D. Izabel Feitosa. Ele foi gerente da Cooperativa dos Cafeicultores de Venda Nova e dirigiu a escola do Mepes, em Guarapari; Cacilda, casada do Máximo Lourenção, casal fundador, junto com o Padre Cleto Caliman, do Festival da Polenta, que ano após ano ganha maior brilhantismo, revivendo as tradições italianas trazidas a Venda Nova pelos imigrantes; Aniceta, casada com José Altoé, com numerosa família e de uma excepcional vivência de trabalho ligado à cultura; Irmã Glória, da Congregação de Jesus na Santíssima Eucaristia; Enedina, casada com o Sr. Plínio Briosque, casal vizinho e com dom de empresário empreendedor. O casal fundou a Associação dos Alcóolatras Anônimos de Venda Nova, que conseguiu leva rum bom número de viciados para o caminho do amor, da família e do trabalho; já Euclides, o caçula, é alto funcionário do BANDES, em Vitória. Sem dúvida, o sucesso cultural de Venda Nova do Imigrante, ao comemorar o centenário de colonização, deve muito à família do casal Fioravante/ Marieta.

 

 

Fonte: Venda Nova do Imigrante – 100 anos da colonização italiana no Sul do Espírito Santo,1992
Autor: Máximo Zandonadi
Compilação e Escaner: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2011



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