Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

Impostos e taxas – Por Ormando Moraes

Praça Jeronimo Monteiro em Cachoeiro de Itapemirim, no começo do século passado

No período áureo das tropas no Espírito Santo, foi mínima a intervenção e a participação do Estado na atividade tropeira. Ao contrário de hoje, em que a livre iniciativa se aproveita de toda a sorte de benefícios, incentivos e créditos oficiais, sempre capitalizando os lucros e muitas vezes socializando os prejuízos, naquele tempo a livre iniciativa caminhava com suas próprias pernas (ou com as pernas dos burros...).

Até mesmo a conservação das estradas, que não eram propriamente estradas, mas simples caminhos e picadas abertos na mata, era feita pelos tropeiros, que, solidariamente, tratavam de reparar uma ponte destruída, remover pedras e lastrear atoleiros. E, por falar em pontes, elas só existiam sobre cursos d'água estreitos. Nos rios mais caudalosos nada havia e, nesses casos, os animais tinham que ser descarregados para fazerem a travessia a nado, enquanto a carga era atravessada em canoas. Em suma, era a epopéia das tropas e dos tropeiros no Espírito Santo.

A respeito de impostos e posturas relativos a animais, as informações mais antigas foram obtidas através do volume de "Leis da Província do Espírito Santo - 1878/79", do Arquivo Público Estadual.

Por exemplo, a Lei nº 12, de 4.5.1877, diz, em seu Artigo 3º:

— A Câmara da cidade da Serra é autorizada a estabelecer e arrecadar o seguinte:

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

§ 2º — Por animal que se empregue na condução de gêneros e mercadorias, por exercício, dois mil réis.

Já a Lei provincial nº 1, de 13.11.1878, estabeleceu o seguinte, nos artigos abaixo:

Art. 26 — É proibido vagarem pelas ruas animaes soltos, de qualquer espécie. Os que forem encontrados serão recolhidos ao curral do conselho, pagado seos donos a multa de um mil réis por cabeça de cabra ou carneiro e dous mil réis por cabeça de porco e animal vaccum, cavalar e muar, alem da despesa que se fizer com apprhensão e sustento.

Art. 28 — Exceptuão-se das disposições do art. 26 os animais de tropa, sempre que os seos donos ou conductores forem avizados e os retirarem incontinenti das ruas e praças, os cães que acompanharem tropas e carros enquanto destes não se afastarem, e os cães de estimação cujos donos os conservarem com colleiras, tendo previamente licença da Camara pela qual pagarão annualmente quatro mil réis.

Ainda uma outra lei provincial, de 8.5.1879, estabelecia:

Art. 1º — Fica concedido o privilégio por 100 annos à pessoa que construir uma ponte pelo melhor e mais seguro systema, que ligue esta capital com o centro, dando firme e seguro transito do Porto Velho ou do Itaquary para ella.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Art. 3º — Concluída a ponte, o privilegiado cobrará o pedágio pela forma seguinte:

Por pessoa a pé   $ 200 (duzentos reis)

Idem montada   $ 500

Animal vaccum  $ 500

Idem cerdum   $ 500

Qualquer outro animal  $ 200

Cavalo ou burro caregado  $ 600

Carro vazio puxado por até duas juntas de bois ou bestas. .1$600 (4)

Em épocas mais recentes, a cobrança de imposto sobre muares era bem modesta. Paulo José do Carmo, por exemplo, diz que, na década de 20, as tropas pagavam um pequeno imposto ao município, mas não especificou a quantia.

Enquanto isto, a poetisa Argentina Tristão informa que, na década de 30, em Afonso Cláudio, as tropas estavam sujeitas ao imposto municipal de dezesseis mil réis por ano.

Hoje em dia; quando se fala de imposto ou de dinheiro, logo se pensa em inflação e em emissão de papel-moeda. No tempo das tropas, a inflação era mínima e só de longe em longe surgia uma cédula nova e de valor mais alto. A respeito, conta o excelente informante Elias Simão, de Alegre, que, na década de 20, "quando apareceram as cédulas de quinhentos mil réis (notas grandes, bem maiores que as de valor mais baixo), foram logo apelidadas pelo povo do interior, de,"capa de cangalha", numa alusão àquelas coberturas de couro cru enfeitadas com tiras de baeta de cores variadas, sobre as cargas dos muares, resguardando-as das intempéries".

 

Nota (4): A ortografia e a moeda são as da época

 

Fonte: Por Serras e Vales do Espírito Santo – A epopéia das Tropas e dos Tropeiros, 1989
Autor: Ormando Moraes
Acervo: Edward Athayde D’ Alcantara
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2016

Curiosidades

Curiosidades de Colatina

Curiosidades de Colatina

A fundação de Colatina data de 1833 e os imigrantes eram italianos em sua maioria

Pesquisa

Facebook

Matérias Relacionadas

Tropeiros percorrem em 20 dias 650 quilômetros de história

Ao longo de 20 dias, um grupo de 13 capixabas está revivendo parte da história do Brasil Colônia ao refazer os passos de Dom Pedro pelo interior do Estado

Ver Artigo
Atividades dos Tropeiros – Por Ormando Moraes

O seleiro era um artesão de muita habilidade na fabricação de selas e de todo o arreamento necessário ao animal de carga

Ver Artigo
Roubo de animais no tempo dos Tropeiros – Por Ormando Moraes

Essa prática criminosa tinha mais a característica de furto, visto que os animais eram levados sorrateiramente, às escondidas

Ver Artigo
Medicina tropeira – Por Ormando Moraes

A medicina tropeira voltada para os animais e não para os tropeiros

Ver Artigo
O comércio de muares – Ormando Maraes

Os comerciantes de muares eram chamados muladeiros e eles vendiam tanto animais chucros para serem adestrados pelos compradores, quanto muares já preparados e arreados

Ver Artigo
Amores de Tropeiros – Por Ormando Moraes

Um desses amores nasceu lá pelos lados da região de Arataca. Um jovem tropeiro despertou o coração da filha de um abastado fazendeiro

Ver Artigo
Os cometas - Por Ormando Moraes

Os "cometas", assim denominados os viajantes comerciais, porque apareciam nas cidades do interior de tempos em tempos

Ver Artigo
As Tropas – Por Ormando Moraes

Não havia outra alternativa senão o uso de burros e bestas, agora de forma organizada e metódica, com características de empresa

Ver Artigo
Linguajar do tropeiro – Por Ormando Moraes

Por influência do mineiro, que colonizou grande parte do interior do Espírito Santo, a palavra mais usada por nossos tropeiros em todas as ocasiões, era a interjeição uai

Ver Artigo
Os Tropeiros - Por Ormando Moraes

A chegada dos tropeiros aos pontos de parada, era uma festa para os moradores das imediações

Ver Artigo
O Burro em Vitória – Por Ormando Moraes

Entretanto, burros, mulas e bestas foram presença importante em nossa ilha para serviços nas antigas fazendas de Jucutuquara, Maruípe e Santo Antônio 

Ver Artigo
Por que o nome Burro? - Por Ormando Moraes

Seja burro, mula ou besta, os muares sempre foram e ainda são de extrema utilidade ao homem, para o transporte da carga em larga escala, agrupados nas tropas, para puxar carroças nas áreas urbanas mais modestas

Ver Artigo