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Início foi na oposição – Imprensa Capixaba

Mário Tamborindeguy, meados de 1950

Depois da redemocratização do Brasil, em 1945, o Espírito Santo viveu oito anos sob a dominação do Partido Social Democrático (PSD). Naquele período, os jornais que havia em Vitória eram A Tribuna e A Gazeta, até 1945 pertencente a um integrante da União Democrática Nacional (UDN), mas comprada em 1946 por Carlos Lindenberg, um dos dois grandes líderes do PSD capixaba na época. O outro era Jones Santos Neves, governador do Estado entre 1951 e 1954.

Na eleição de 1954, o candidato de Jones era Eurico de Aguiar Salles, que foi derrotado por Francisco Lacerda de Aguiar (Chiquinho), um ex-deputado federal do PSD. Preterido pelo partido, Chiquinho filiou-se à UDN e criou a Coligação Democrática, vencendo seus antigos correligionários.

Quando a vitória de Chiquinho ficou patenteada, os seguidores de Jones sentiram a necessidade de fundar um jornal para defender a administração que estava terminando. Não podiam contar com A Gazeta porque esse jornal estava mais ligado à facção pessedista que representava os interesses agrofundiários, enquanto o Governo de Jones teve um perfil menos conservador, lançando algumas das bases para o desenvolvimento econômico do futuro, mais urbano que rural.

Dessa forma, Christiano Dias Lopes Filho, Eurico Rezende e Alvino Gatti se uniram e, esperando o auxílio de integrantes do PSD em todo o Estado, criaram O DIÁRIO. O jornal foi instalado no número 450 da Rua Sete de Setembro, onde funcionara antes a Folha do Povo, fundado pelo então deputado José Buaiz (do Partido Trabalhista Brasileiro-PTB) e que circulou durante cerca de um ano. O DIÁRIO começou ali, em 1955.

Como o novo jornal era dirigido por pessedistas que perderam a eleição, dizia-se que ele serviria para veicular o recalque dos derrotado contra os vencedores e surgiu um trocadilho infame: comentava-se que o nome do jornal era "Odiário”, relativo a ódio. Como lembra Christiano Dias Lopes Filho, tentou-se montar um esquema financeiro. "Poucas respostas tivemos. Quem perde eleição, perde mesmo. E até a porta de antigos companheiros fica de difícil acesso. Mas o nosso entusiasmo não arrefeceu com essas dificuldades. Tínhamos comprado o acervo da Folha do Povo de um cidadão chamado Berling - se não me engano ele tinha a patente de capitão. Negociamos um preço razoavelmente alto, assinamos os títulos, fizemos os contratos, registramos o jornal, e partimos para a edição do primeiro número".

Havia uma expectativa muito grande sobre como seria o jornal. Ainda segundo Christiano, "quando saiu o primeiro número a opinião pública verificou, a 7 de julho de 1955, que O DIÁRIO não seria apenas um jornal político, nem uma fonte de revanchismo, nem uma idéia tresloucada, e sim um órgão destinado a prestar extraordinários serviços à imprensa e à cultura do Estado".

Ele aceitou ficar à frente do empreendimento, como diretor: "não que fosse o melhor do grupo. Mas, no mandato de deputado estadual pelo PSD, era mais fácil para mim dirigir o jornal. Minha condição para assumir essa responsabilidade foi que Alvino Gatti dirigisse a redação.

Foi mobilizado um grande número de jovens. José Carlos Monjardim Cavalcanti, que já tinha trabalhado na Folha do Povo, atendeu o chamado deles, assim como Duarte Jr, Clóvis Mendonça, Frederico Teixeira Filho, Renato Pacheco, Arthur Carlos Gerhardt Santos e José Guterres. A tesouraria do empreendimento ficou com o sr. Otávio Lisboa, a chefia da gráfica foi confiada a Peri Melo e o jornal começou a circular, com seis páginas.

Tinha política, sociedade, informação nacional de todo gênero, comércio, cultura. Arthur Carlos era comentarista de cinema, com o pseudônimo de Clousot. Quem fazia a parte de sociedade era José Carlos Monjardim Cavalcanti, substituído depois por Aref Assreuy e mais tarde por Hélio Dórea. Esporte era com Clóvis Mendonça e Glicério Duarte Jr. Renato Pacheco escrevia nesse tempo uma coluna diária chamada Dedo de Prosa, uma entrevista semanal chamada Conversa a Dois e passou a editar também o suplemento Letras da Província.

Outro que integrava a equipe era o advogado José Carlos Fonseca, que, como secretário do jornal, foi encarregado de captar recursos entre os pessedistas do interior capixaba. Conforme palavras do próprio José Carlos, ele visitou vários municípios, "para desespero do velho Lisboa, que me pagava as despesas de viagem. Tudo embalde, tudo em vão, como na velha canção popular. Apenas Carlyle Passos, em Baixo Guandu, e Frederico Pretti, em Santa Tereza, compraram algumas ações.

Os demais me receberam muito bem mas alegavam não dispor de recursos naquele momento. Enquanto isso os títulos iam vencendo, inexoravelmente. Por pouco Christiano não teve que adiar seu casamento. Anúncios, nem pensar. Jornal de oposição, naquela época, em Vitória, era como o diabo e a cruz. Lembro-me até de um comerciante que se propunha a ajudar, desde que não fosse publicado seu anúncio”.

Impossibilitados de continuar tocando o jornal, seus dirigentes o venderam para um empreiteiro carioca ligado ao governador Francisco Lacerda de Aguiar, Mário Tamborindegui, cuja empresa estava construindo a estrada entre os municípios de Guaçuí e Alegre (chamada pela oposição “a estrada de ouro”, devido a seu custo).

 

Fonte: O Diário da Rua Sete – 40 versões de uma paixão, 1ª edição, Vitória – 1998.
Projeto, coordenação e edição: Antonio de Padua Gurgel
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2018

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