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Jerônimo Monteiro, o presidente brilhante

Na foto, os pais de Jerônimo respectivamente, Francisco de Souza Monteiro e Henriqueta de Souza

Jerônimo Monteiro assumiu a presidência do Estado no dia 23 de maio de 1908, tendo governado até 23 de maio de 1912. Foi um dos mais brilhantes administradores do Espírito Santo. Suas realizações modificaram as condições de vida dos habitantes de Vitória e deram ao Estado oportunidade de crescimento econômico.

Jerônimo de Souza Monteiro nasceu no dia 4 de junho de 1870, na casa grande da Fazenda Monte Líbano, próxima a Cachoeiro do Itapemirim. Sua ascendência era portuguesa, pois seus bisavós paternos nasceram na região de Braga, norte de Portugal, e também português era seu avô materno. Seus pais, Francisco de Sousa Monteiro e Henriqueta Rios de Sousa, tiveram 11 filhos, dos quais dois foram presidentes do Estado (Jerônimo e Bernardino), e um foi bispo (D. Fernando), que exerceu a função episcopal durante o governo de Jerônimo Monteiro.

Francisco e Henriqueta foram desbravadores de uma região inculta, coberta de matas, onde o casal construiu um pequeno rancho. Essa terra, Henriqueta trouxera como dote para o casamento. Francisco a transformou na próspera Fazenda Monte Líbano, com enorme casa-sede. luxuosamente mobiliada e decorada, que dispunha de finas louças, pratarias e cristais. Com o passar dos anos, a fazenda tornou-se auto-suficiente e todos comentavam que os fazendeiros só compravam sal e querosene. Além dos cafezais e outras culturas, ali foram instalados engenhos de cana e café, serraria, olaria, forno de cal, aviários, currais, pocilgas, colméias.

Em 1885, Jerônimo viajou com os irmãos para estudar do colégio dos padres Lazaristas, no Caraça, Minas Gerais, distante 15 dias a cavalo da fazenda Monte Líbano. Mas não se adaptou, tendo ali estudado apenas um ano. Foi então para o colégio São Luís, em Itu (São Paulo), e depois para São Paulo (capital), cursar a Faculdade de Direito, tendo se formado em 1894. Em 1895, elegeu-se deputado do Congresso Estadual do Espírito Santo.

No dia 25 de março de 1897, casou-se com Cecilia Bastos, filha do comendador Cícero Bastos, em Piracicaba. Em janeiro daquele mesmo ano foi eleito deputado federal. Por incompatibilidade com o grupo político do presidente Moniz Freire, foi excluído da chapa de deputados federais para a Legislatura de 1900-1904. Inconformado, fundou o Partido da Lavoura, que teve como candidato à presidência do Estado o coronel Ramiro de Barros Conceição, em oposição ao próprio Moniz Freire.

Vencido, foi para Monte Líbano, onde adoeceu de tifo, depois de pesquisar ouro e pedras preciosas no Córrego do Macaco. Quase perdeu a vida, mas, restabelecido, exerceu a advocacia em Cachoeiro até 1903, quando se transferiu para Santa Rita de Passa Quatro, em Minas Gerais, também para advogar.

Trabalhou ainda como jornalista na redação da União Municipal. Já tinha então quatro filhos: Francisco, Henriqueta, Jerônimo e Darci. Depois, nasceram Dail, Zoé e, no período presidencial, Nice. Cícero foi o oitavo filho do casal. No dia 2 de fevereiro de 1908, foram realizadas as eleições em que era candidato a presidente do Estado. Foi eleito e tornou posse no dia 23 de maio de 1908, no Congresso Legislativo. Assumiu um Estado com difícil condição financeira (a receita menor que as despesas) e com toda sorte de problemas. Vitória possuía, na época, cerca de 12.000 habitantes. E o Espírito Santo, 250.000, presumivelmente. Vitória era desprovida de rede de esgotos, água encanada, iluminação pública adequada, energia elétrica. A falta de saneamento provocava surtos de cólera, febre amarela, bubônica, varíola.

As primeiras tarefas de Jerônimo Monteiro foram reorganizar a máquina administrativa e sanear as finanças, o que o obrigou a tomar medidas impopulares. Visando a equilibrar as finanças, diminuiu em dez por cento o ordenado dos servidores públicos, impediu o acúmulo de cargos públicos, fez demissões.

Uma das mais importantes obras de Jerônimo Monteiro foi a reforma da educação, que teve como principal alvo a escola primária. Para isso, convidou o educador Carlos Gomes Cardim, de São Paulo, para o cargo de Inspetor de Ensino. Tudo foi reformulado: edifícios, disciplina, metodologia, magistério. O número de escolas cresceu de 125, em 1908, para 271 em 1912.

Em 1909, fundou a Biblioteca Pública e a Escola de Belas Artes. Fundou também o Arquivo Público. Foram feitas a catalogação e a classificação de grande número de documentos e papéis importantes, que se encontravam amontoados em dependências da antiga Igreja de São Tiago.

Fez a drenagem e o aterro da região do Campinho (atual Parque Moscoso). Essa área era invadida pela maré alta e ficava inundada em épocas de chuva. Depois de aterrada, foi entregue a Paulo Motta para ser ajardinada e enfeitada com lagos, pontes, fontes luminosas. A rua da vala, próxima ao Parque Moscoso, transformou-se na Avenida República, tendo sido coberto o canal com concreto armado. Foi feito também um novo hospital no mesmo local da antiga Santa Casa, que passou a ter oito pavilhões.

O engenheiro paulista Augusto Ramos foi contratado para a execução da rede de água e esgoto para Vitória e para a construção da hidrelétrica do rio Jucu. Organizou-se também o serviço regular de limpeza pública. Vitória foi embelezada com jardins, parques, arborização, desapropriação das matas fronteiriças à Rua Sete de Setembro para sua preservação, alargamento de ruas, novos edifícios, iluminação pública. Um dos mais importantes auxiliares de Jerônimo Monteiro foi Ceciliano Abel de Almeida, que ocupou o cargo de Diretor da Repartição de Obras e Empreendimentos Públicos. Ele se tomaria o primeiro prefeito da cidade, quando foi criada a Prefeitura Municipal de Vitória, em 1908.

No dia 25 de setembro de 1909, inauguravam-se os serviços de água e de luz substituindo os lampiões por energia elétrica. No dia 29 de junho de 1910, o presidente Nilo Peçanha esteve em Vitória para o lançamento da pedra fundamental das obras do porto que, até então, não tinha atracadouro para navios.

Em 21 de junho de 1911, foi inaugurado o serviço de bondes elétricos, com duas linhas: uma de Santo Antônio ao Suá, e outra, circular, que unia a cidade baixa à cidade alta. No dia 1º de maio de 1912, foi aberto o cemitério de Santo Antônio, e estabeleceu-se o enterro feito com bonde, com um carro levando o caixão e outro, os acompanhantes. Logo se estabeleceria também o casamento de bonde.

Jerônimo Monteiro incentivou a agricultura. Organizou a Fazenda Modelo Sapucaia, próximo a Cariacica, onde meninos pobres recebiam assistência e orientação para o trabalho no campo, e os agricultores, sementes selecionadas, empréstimo de reprodutores de raça para o melhoramento do rebanho bovino, e orientação para a mecanização da lavoura e manejo de máquinas agrícolas. Jerônimo Monteiro reduziu o preço de terras públicas e simplificou o processo de medição e demarcação. Distribuiu pequenas propriedades em volta de Vitória, com o objetivo de incentivar seus proprietários a fornecer legumes e frutas para a população da cidade, formando o que mais tarde seria chamado de cinturão verde.

Para combater as epidemias, além das obras de saneamento, contratou um técnico, o médico Jorge Verney Campelo, para montar o Gabinete de Bacteriologia, anexo ao Departamento do Serviço Sanitário. Foi organizado também um serviço de visitas para desinfecção e inspeção em domicílio. A 1° de junho de 1911, foi inaugurado o Banco Hipotecário e Agrícola do Espírito Santo, que encampou os serviços de água, luz, esgotos, e depois o de bondes. Abriu estradas, desobstruiu rios e canais, remodelou o serviço policial, tendo criado o Departamento de Segurança Pública, e fez grande reforma no Quartel Central de Polícia.

Seu programa desenvolvimentista, porém, o levou a demolir templos e antigas obras de arquitetura de valor histórico, para a construção de novos edifícios. Assim, desapropriou a Igreja de São Tiago, anexa ao Palácio, para a ampliação da sede do governo. O antigo Convento do Carmo, fundado em 1591, foi todo remodelado, perdendo a sua forma original. A igreja da Misericórdia foi demolida para a construção do edifício da Assembléia Legislativa, em frente ao Palácio, só para citar os principais.

Jerônimo de Souza Monteiro deixou o governo no dia 23 de maio de 1912. Dedicou-se à advocacia e depois ao comércio, com uma papelaria e a tipografia Santa Helena. Ainda em 1912, foi nomeado representante da Fazenda Nacional junto à Inspetoria dos Portos, Rios e Canais. Em 1913, elegeu-se deputado estadual e, em 1914, deputado federal. Em 1918, foi eleito senador. Foi candidato derrotado ao Senado, em 1927. Elegeu-se deputado federal em 1933, mas não chegou a exercer o cargo, tendo falecido no Rio de Janeiro, no dia 23 de outubro desse ano.

Como última homenagem, o desembargador Augusto Botelho, presidente do Tribunal Eleitoral, não quis receber oficialmente a notícia do óbito, a fim de poder entregar o diploma de deputado ao procurador de Jerônimo Monteiro.

 

Fonte: Jornal A Gazeta, A Saga do Espírito Santo – Das Caravelas ao século XXI – 18/11/1999
Pesquisa e texto: Neida Lúcia Moraes e Sebastião Pimentel
Edição e revisão: José Irmo Goring
Projeto Gráfico: Edson Maltez Heringer
Diagramação: Sebastião Vargas
Supervisão de arte: Ivan Alves
Ilustrações: Genildo Ronchi
Digitação: Joana D’Arc Cruz    
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2016

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