Luiz Buaiz: Atuação política intensa - Um grande professor - Diplomata de posições firmes

O presidente do Conselho Regional de Medicina, Aloísio Faria, é mais um exemplo de amigo de longa data. Ele fala disso, da personalidade do amigo e de sua atuação na política:
“A minha amizade com o Dr. Luiz é uma amizade hereditária, porque os nossos pais já eram amigos. Num momento em que precisei dele, ele se lembrou dessa amizade e me atendeu de uma forma que só ele sabe atender. O Dr. Luiz Buaiz vive para fazer o bem. É uma pessoa extremamente carismática, amigo dos amigos. Sabe cultivar uma amizade extremamente sincera. Ele é um exemplo como ser humano e como médico que atua dando muito de si aos seus pacientes.
Foi o primeiro presidente do CRM. Ele também teve uma atuação política intensa. E sempre voltada a fazer o bem. O médico em si já tem uma exposição política muito grande e o lado humanístico de Luiz Buaiz inevitavelmente o levou à política.
Sou suspeito para falar do Dr. Luiz Buaiz porque eu gosto muito dele. Tenho por ele uma gratidão muito grande. Não tenho mesmo palavras para defini-lo. O nosso dicionário é muito pequeno para definir o que é Luiz Buaiz.
Ele teve uma participação importantíssima na criação da Emescam, uma faculdade que surgiu de uma necessidade de mercado, idealizada pelo Dr. Aloysio. A Universidade Federal do Espírito Santo formava um número reduzido de médicos. Havia uma grande demanda reprimida que a Emescam veio atender.”
Um grande professor
Hoje renomados médicos no cenário capixaba, Francisco Tardin e Luiz Buaiz se conheceram ainda na faculdade de Medicina, no Rio de Janeiro. Já formado, Tardin enfrentou um problema grave em família. O sogro, Orly Dessaune, pai da sua primeira esposa Maria Helena, foi acometido de um câncer no estômago que em pouco tempo entrou em metástase e se espalhou pelo fígado e outros órgãos.
Sabendo desse problema, o Dr. Luiz procurou Tardin e disse: “Você tem uma sogra de filha única. E com o que você ganha aqui no Rio de Janeiro não é possível pagar nem um apartamento. Larga tudo e vem para Vitória que eu te ajudo”, prometeu.
Sobre a vinda para o Espírito Santo, Francisco Tardin não hesita em creditar ao amigo a atuação em terras capixabas. “Estou aqui hoje, e o responsável é ele. Estava bem no Rio e até quis voltar para lá depois. Tinha mais de um emprego e aqui tive de atuar fora da área. Depois de pegar umas férias e voltar ao Rio de Janeiro, observei que tudo estava muito mudado. Nesse momento vi que meu lugar era aqui”, lembra.
A boa recepção e a indicação para trabalhar na Emescam são apenas alguns dos motivos que levam o Dr. Francisco Tardin a agradecer a Luiz Buaiz. “Ele ajudou todo mundo aqui. Como era de muita importância política, ele ajudava mesmo. Alguns não reconhecem, mas comigo é até que a morte nos separe”, declara Tardin.
Além de fazer indicações profissionais, e até deixar Tardin atuar em seu próprio consultório, o Dr. Luiz fez mais ainda. Assim que o Dr. Francisco Tardin se casou, Buaiz emprestou-lhe o carro para ir passar a lua de mel com a esposa. Até o motorista Dr. Luiz fez questão de ceder ao amigo, para facilitar a viagem.
Com 74 anos, Francisco Tardin faz questão de recordar a boa vontade do veterano Luiz Buaiz, 90, com os mais novos. “Depois ainda descobri que ele era um grande professor de Biologia, muito querido pelos alunos. Ele é uma pessoa admirável mesmo”, elogia. Sobre a atuação política de Luiz Buaiz, Francisco Tardin diz que votou no amigo nas oportunidades que teve. Mas lamenta o fato de a classe médica não ter abraçado a causa como deveria. “É uma pena”, resume.
Diplomata de posições firmes
Rogério Andião e sua esposa, Suely Arantes Andião, têm o Dr. Luiz Buaiz como padrinho de casamento. Ele é médico ortopedista e ela, oftalmologista. Sobre o Dr. Luiz Buaiz ele recorda um fato, também lembrado por César Hilal:
“O Dr. Luiz era presidente regional do Instituto de Aposentadoria e Pensão do Industriário (IAPI) e a direção era no Rio. Ele sempre ia pela manhã e voltava no final da tarde, às vezes passava mais de um dia lá. Dessa vez ele pernoitou no Rio e ia voltar para Vitória cedo, num Convair da Cruzeiro do Sul. Mas chegou atrasado, colocaram um padre em seu lugar, e ele perdeu o voo. Voltou para o hotel, pediu uma ligação para Vitória. Nesse tempo o interurbano era feito através de telefonista e demorava horas. A telefonista avisou: quatro horas para completar a ligação. Ele foi ao cinema, na Senador Dantas. Nesse meio-tempo o avião, chegando a Vitória, quando fazia a curva para pousar, caiu na altura do que hoje é o Bairro de Fátima. Morreram todos.
Foi um desespero e em relação ao Dr. Luiz Buaiz, um abalo muito grande, porque ele era uma pessoa muito conhecida e muito influente. A família, consternada, estava no seu velório simbólico, quando saiu a ligação. Quem atendeu foi seu empregado Levi, um ajudante de ordens que passava dia e noite com ele. Quando Dr. Luiz Buaiz disse que era ele, Levi, indignado, pensando ser um trote, retrucou: ‘O que é isso? Respeita a dor da gente!’
Desfeita a confusão, de novo em Vitória, o Dr. Luiz Buaiz nunca mais quis viajar de avião. Voltou a fazê-lo apenas quando foi eleito deputado federal.”
Ainda sobre o amigo Luiz Buaiz, Rogério Andião diz:
“Existem pessoas que dizem que o Dr. Luiz Buaiz é culpado de uma porção de coisa errada, mas o fato é que a Medicina, aqui no Espírito Santo, se divide em antes e depois do Dr. Luiz Buaiz.
Ele foi muito importante, por exemplo, na época em que a Emescam abriu. Ele foi o patrono da primeira turma. Eu fui da primeira turma.
A Emescam tinha autorização para funcionar, mas não estava reconhecida, ainda. Ele foi uma das pessoas a alavancar isso e puxou o CRM para nos apoiar. Devemos muito a ele. E depois de regularizado o nosso CRM, a Emescam foi regularizada.
Como amigo, nunca ouvi o Dr. Luiz dizer um não.
O Governo do Estado, o CRM e a Associação Médica ouviam muito o Dr. Luiz. O Governo não nomeava um Secretário de Saúde sem ouvir o Dr. Luiz Buaiz.
Tem uma coisa interessante, sobre a maneira de agir do Dr. Luiz Buaiz: quando um amigo o procurava dizendo ‘Tou precisando de um negócio’, ele respondia: ‘Espera um pouco. Você é meu amigo, pode esperar.’ Se a pessoa retrucava: ‘Mas Dr. Luiz, você atendeu, arrumou pra ele’, ele respondia: ‘Mas ele não é meu amigo. Esse não pode esperar.’ Ele é um diplomata. Dono de posições firmes, que às vezes incomodavam, mas um diplomata.
E ele sempre soube reconhecer a capacidade, sabe respeitar o valor dos desafetos. Quando eu me formei, eu tinha sido aluno de um médico que não era exatamente um amigo do Dr. Luiz. Eu pensava em sair daqui para fazer uma especialização fora, e me aconselhei com ele, que me disse: ‘Você tem perto um dos melhores cirurgiões do Brasil. Você vai tê-lo pegando na sua mão para operar. Vai te acompanhar, te ensinar. Fica aqui!’
Quando ele é seu amigo, é seu amigo. Ele é incapaz de esquecer os amigos. Eu não estava no Brasil quando minha mãe morreu e ele foi à missa de sétimo dia. Ele tem uma memória fantástica. Lembra-se do nome de todas as pessoas, lembra-se dos compromissos.
E ele é um dos médicos mais antigos de Vitória. O CRM do estado tem uma inscrição. Depois passou a ser numerado. O número do CRM do Dr. Luiz não foi por ordem de inscrição. Ele escolheu o número dele: 55. Podia ser um dos primeiros. Aliás, o número 1 é do Dr. Otorino Avancini. Mas entre os contemporâneos do Dr. Luiz estão Arthur Ornellas; Luiz Castelar; Alzir Bernardino Alves; Franklin Alves de Carvalho; Manuel Gomes Meira; José Moisés; Afonso Bianco; Laélio Lucas; Jolindo Martins.
Dr. Luiz Buaiz vive pela Medicina. A Medicina para ele é um sacerdócio. Quando ele cursou Medicina você fazia porque gostava. Para atender. Quanto iria ganhar era uma consequência.
Eu trabalhei com ele na Santa Casa, de 1975 a 1995. E posso dizer que, como médico da Santa Casa, ele aprendeu a trabalhar, mas não a ganhar dinheiro. E o atendimento melhorou muito com ele lá. Hoje, quem vai para a Santa Casa é do INSS ou indigente. Não deveria ser assim, a Santa Casa de Misericórdia de Vitória é a segunda do Brasil, a primeira é a de Salvador. O primeiro lugar onde funcionou foi o prédio da cidade alta, próximo ao palácio Anchieta, onde por muitos anos foi a Assembleia e está abandonado.
O Dr. Luiz Buaiz sempre foi muito inquieto. Quando ele atendia diariamente, ele atendia depressa, às vezes muitas pessoas ao mesmo tempo, mas de graça, e era sempre preciso nos diagnósticos.
A comparação que posso fazer entre os médicos que se formaram mais recentemente, e os mais velhos, é a comparação entre os velhos jogadores, que sabiam jogar, amavam jogar e o time a que pertenciam, e os jogadores de hoje, que são apenas atletas que jogam, não têm amor ao time, trocam de escudo com frequência.”
PRODUÇÃO
Copyright by © Luiz Buaiz – 2012
Coordenação do Projeto: Angela Buaiz
Captação de Recursos: ABZ Projetos
Texto e Edição: Sandra Medeiros
Colaboraram nas entrevistas:
Leonardo Quarto
Angela Buaiz
Ruth Vieira Gabriel
Revisão: Herbert Farias
Projeto e Edição Gráfica: Sandra Medeiros
Editoração Eletrônica: Rafael Teixeira e Sandra Medeiros
Digitalização: Shan Med
Tratamento de Imagens: TrioStudio; Shan Med
Fonte: Luiz Buaiz, biografia de um homem incomum – Vitória, ES – 2012.
Autora: Sandra Medeiros
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2020
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