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Mandioca, trigo, linho e sericicultura na Adm. Rubim

Índio botocudo - Foto de Walter Garbe - Livro: Índios Botocudos do Espírito Santo no século XIX, do autor Paul Ehrenreich

Voltando aos primeiros dias da administração Rubim, cabe citar a desobstrução, por ele determinada, do canal de Camboapina, aberto pelos jesuítas para a ligação do rio Jucu com a baía do Espírito Santo. De sua iniciativa foi, também, a determinação de se plantar mandioca para a fabricação de farinha nas propriedades e quartéis estabelecidos nas margens do rio Doce. (VI) Persuadira-se o governador Silva Pontes de que a cultura daquela euforbiácea atraía maior curiosidade dos botocudos para os estabelecimentos dos colonos. Daí a proibição – que vigorou durante onze anos – causando consideráveis prejuízos, tanto aos cofres públicos como às bolsas particulares, já de si tão mofinas. Tal o volume das plantações realizadas que, escrevendo ao conde de Linhares, o governador Rubim referia-se às suas esperanças de economizar um conto de réis em farinhas no começo do seu governo.(52)

As culturas de trigo e linho foram incentivadas oficialmente e a sericicultura ensaiada com otimismo por Antônio José Vieira.(53)

 

NOTAS

(52) - Carta do governador Francisco Alberto Rubim dirigida ao Conde de Linhares (apud BRÁS DA COSTA RUBIM, Memórias, 278). Ver nota VI deste capítulo.

(53) - A documentação oficial relativa à seda indígena pode ser lida na obra de JOSÉ MARCELINO, Ensaio sobre a História e Estatística da Província do Espírito Santo. – Ver foot-note n.º 33 do capítulo XIII.

VI - “Ilm.º e Exm.º Snr.

Tendo Ordem o primeiro Governador desta Capitania Antônio Pires da Silva Pontes de dar execução à grande, e feliz abertura do Rio Doce com Minas Gerais, e povoar aqueles lugares, se persuadiu, que para não chamar a eles à maior atenção dos Índios bravos Cuistes, vulgarmente chamados Botecudos, devia proibir aos novos Colonos a plantação de mandiocas: o que teve efeito durante os quatro anos do seu governo: seu sucessor, e meu antecessor Manoel Vieira de Albuquerque Tovar seguiu quase o mesmo parecer, e muito pouco ou nada permitiu semelhante plantação durante os sete anos que governou. Tomando posse deste governo observando que daquelas providências só resultavam prejuízos à Real Fazenda por quanto as guarnições dos diferentes Destacamentos do Corpo de Pedestres eram socorridos de farinha dos Armazéns Reais desta Vila, a qual era remetida por mar em Lanchas, ou Canoas, resultando além dos fretes de condução ter de fazer novas remessas pela que se avariava durante a viagem, outras vezes se perdia farinha, e Embarcação tendo de pagar a Real Fazenda tudo: os soldados não recebiam seus vencimentos de soldo em dinheiro, pois depois da Real Fazenda satisfazer os Prest se remetia em gêneros, o que cada um mandava pedir; persuadido, que onde é desprezada a Agricultura, e não gera o dinheiro a população, e fontes de indústria, e Comércio não podem ter aumento, e que sem abundância de mantimentos tudo cai na languidez, e no ócio, no vício, determinei a todos os Comandantes dos Destacamentos que não só fizessem com toda a atividade a plantação de mandiocas, e que igualmente esta fosse feita pelos soldados, que estivessem de descanso ou folga: igualmente obriguei a todos os habitantes a fazerem a mesma plantação a qual naquele lugar produz com muita rapidez, pois a mandioca de seis meses é mais abundante do que a de dois anos em qualquer outro lugar desta Capitania: determinei, que o vencimento de soldo se desse em metal a cada soldado, lembrando-me, que logo, que constasse que os soldados tinham dinheiro não faltariam especuladores que para lá mandassem vender os gêneros, de que eles precisassem, o que não só teve o efeito desejado, como igualmente para os de Minas, que este ano tem descido àquele lugar em maior número a vender seus efeitos, e muitos mais desceriam se ali encontrassem maior abundância de sal de venda: A plantação de mandioca tem chegado a tal aumento que a Fazenda Real há cinco meses a manda lá comprar para dar os vencimentos aos soldados poupando fretes de conduções, há três meses com o corrente, que a Fazenda não dá Farinha a três Destacamentos, e já se sustentam de suas plantações, e este mês a deixa de dar a mais um estes mesmos Destacamentos têm dado por ordem minha, farinha para se vender para se comprarem Fornos, Rodas, mais precisos, para cada um deles, e outros que deles precisavam, a fim de que nos Quartéis desmanchem as mandiocas, e as reduzam a farinha tendo encarregado deste serviço a Inácio Pereira Duarte Carneiro, Tenente da Companhia de Linha, e Comandante interino do Corpo de Pedestres Oficial de quem faço muita confiança por ser muito honrado, e ativo. Mais conto com a Real Fazenda no ano venturo poupar a quantia de um conto de réis em farinhas, que deixa de pagar a diferentes Destacamentos por terem para se sustentarem de suas plantações.

A Povoação de Linhares no Rio Doce tem tido este ano um aumento de sessenta, e duas pessoas brancas de ambos os Sexos, os homens lavradores, e úteis pois tendo arribado a este Porto o Bergantim Espanhol, mercante, denominado Santo Agostinho Palafox, mestre Sebastião Álvares com duzentas e vinte duas pessoas de ambos os Sexos, vindo da Ilha de Lançarote uma das Canárias, e seguia viagem para Montevidéu, abordaram aqui cheios de fome, e misérias, e por esta razão não seguiram viagem quarenta, e cinco pessoas / além de trinta que lhe morreram durante a sua demora / destes, onze se agregaram em diferentes Fazendas do termo desta Vila, por causa de suas famílias serem em número pequeno, e os que tinham maior número os Fazendeiros os não quiseram admitir apesar das persuasões, que lhes fiz, vendo-os andar todos em número trinta, e quatro mendigando o sustento por esta Vila os remeti para Linhares a entregar ao habitante mais poderoso João Felipe Calmon, a fim de os repartir pelos mais, e aproveitarem-se naquele lugar em aprender a trabalhar de arado, e com o socorro destes fazerem as plantações de Trigo, e Linho, para cujo fim remeti juntamente sementes; porem o zelo, e patriotismo daquele habitante fez com que recebesse todos em sua Fazenda, onde os conserva, fartos, e satisfeitos, o que me dá fortes motivos além de tudo mais quanto tem feito pelo aumento daquela Povoação de o recomendar à proteção de V. Exa. Igualmente de Campos com minhas persuasões já pude conseguir dezoito pessoas de ambos os Sexos, estes têm escrito a seus parentes, e amigos fazendo-lhe ver as férteis, e lindas terras que ali há e espero para Março venturo bastantes Casais. Mais o Guarda mor José Tomás de Aquino Cabral desceu das Minas com nove pessoas de sua família para se estabelecer naquele lugar. Com tudo a lembrança de que ali não há Igreja, e que lhe falta um Pároco que lhe administre os Sacramentos lhe causa grande vexame, pois o mais próximo, que lhe fica é o Vigário da Vila Nova de Almeida que está distante para o Sul dezoito léguas: Seria muito para desejar ver ali sempre, mas muito mais no princípio daquela Povoação um Sacerdote exemplar, e político: assim como para sua Regência um Militar, Comandante daquele Distrito cheio de honra, retidão, e inteireza, que com sábias determinações possa encaminhar os que esquecidos, ou ignorantes do seu dever, não cumpram as suas obrigações, dirigindo seus fins a benefício da Sociedade, com o bem do Estado, pois este lugar, que de seu berço teve a criação da liberdade, o ócio, a depravação de costumes, merece toda a atenção.

O que tudo levo ao conhecimento de V. Exa. para que subindo à Real Presença do Príncipe Regente Nosso Senhor haja de dar aquelas sábias Providências que julgar mais a bem do Seu Real Serviço, aumento desta População, e de seus fiéis vassalos. Deus Guarde a V. Exa. Vila da Vitória 3 de Novembro de 1813. / Ilm.º Exm.º Sr. Conde de Aguiar. / a) FRANCISCO ALBERTO RUBIM” (Gov. ES, I).

 

Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, junho/2018

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