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Martina Toloni

Praça da Bandeira - Fonte: Casa da Memória

Esse nome passou a chamar a atenção de quem passa na rua Luciano das Neves, na Prainha, em Vila Velha, a partir de uma placa que passou a permanecer na esquina com a rua Frei Pedro Palácios, de onde avista-se o Cantinho, informando que pôr ali funciona o Centro de Formação Martina Toloni.

Esse trecho de rua na verdade chamava-se rua Cel. Freitas, conforme consta na planta cadastral de Vila Velha, de 1894 elaborado pelo engenheiro Antônio Francisco de Athayde, mas que nunca havia sido urbanizada, e ficou tomada pelo mato até meados dos anos 50 quando do então Prefeito Municipal Antônio  Gil Veloso elaborou um projeto de lei que foi aprovado pela Câmara Municipal, dando em Jaburuna o nome de rua  Cel. Freitas a logradouro mais destacado, e denominando rua Frei Pedro Palácios o prolongamento ainda que não perfeitamente alinhado com a assim já denominada num primeiro trecho, que nasce transversal da rua Antônio Ataíde.

Ocorre que Martina Toloni é o nome civil da falecida Irmã Madre Gertrudes de São José, fundadora da Congregação das Irmãs de Jesus na Santíssima Eucaristia, conhecidas muitas vezes em Vila Velha  como as Irmãs da Prainha, onde tem um convento, que não podem ser confundidas com as Irmãs do Colégio São José, situado na mesma rua Luciano das Neves, que são Vicentinas, ou seja da Sociedade das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo.

A homenageada nasceu em 1875 no vilarejo de S. Luiz, perto de Sondrio, Capital de Valtellina, na região da Lombardia, perto de Milão,  Itália.

Ficou órfã de mãe ao nascer e foi criada inicialmente pôr uma ama de leite, sendo criada depois pôr suas irmãs mais velhas e pôr seu pai.

Quando estava com idade para iniciar os estudos, seu pai a internou num colégio de freiras da cidade de Como, também no norte da Itália, pertencente a obra Casa da Divina Providência, fundada por Dom Luigi Guanella.

No início da idade adulta entrou para a Congregação das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, em Viareggio na Toscana, Itália, que a Madre Clélia Merloni fundava naquela época, mas devido a uma crise teve de encaminhar umas irmãs para conseguir sobreviver no Brasil, em São Paulo, para onde uma grande massa de imigrantes italianos seguia.

No Brasil, a Martina Toloni, viu condições de passar, com as devidas licenças para a Congregação de São José, fundada em Chambery - França, e nessa obra fez o noviciado em Itu, São Paulo, entre 1910 até 1926.

Mas passou a observar que seria mais adequado existir no Brasil uma congregação de religiosas mais adaptada a realidade do país e que facilitasse o ingresso de moças de pouco ou nenhum recurso, já que muitas vezes algumas congregações mantinham tradição antiga de que a família da interessada tinha de pagar um dote, já que seria semelhante o casamento da mesma com a Igreja, e que esses recursos eram fundamentais para a sobrevivência da postulante que ali iria complementar seus estudos e da própria instituição que passaria ser responsável pela sua sobrevivência. Com isso a maioria das moças originárias de classes mais pobres não podia ingressar na vida religiosa.

E aí, em 1926 passou com as devidas autorizações para a Congregação das Irmãs Servas de Maria, que havia chegado ao Brasil e que parecia adequada aos seus ideais.

Nessa época assumiu nova atividade e veio parar em Carangola MG, para dirigir um colégio. Assim casualmente estava chegando perto do Estado do Espírito Santo.

Nesse ínterim,  Cachoeiro do Itapemirim, que com o desenvolvimento que vinha tendo, devido à interligação ferroviária ter sido completada com Vitória e Rio de Janeiro,  crescia muito em população, e  um grupo de senhoras da sociedade acharam que na cidade deveria surgir um colégio dirigido por freiras, para dar oportunidade adequada de estudos às moças, evitando que tivessem de ser internas no Colégio do Carmo em Vitória, ou em Anchieta, ou em outro centro mais importante.

Como a Congregação das Servas de Maria, a que pertencia à irmã Gertrudes era mendicante, ou seja, também encaminhava as mesmas para percorrer as cidades e a área rural, vieram a ter a oportunidade em Cachoeiro do Itapemirim, quando encontraram com as ditas senhoras, que se comprometeram a apoiar o surgimento do sonhado colégio nas mãos dessas Irmãs.

Destarte a Congregação das Servas de Maria foram atraídas para Cachoeiro do Itapemirim e entre elas se destacava a Irma Gertrudes de São José, que logo conseguiu do então Bispo da Diocese do Espírito Santo, D. Benedicto Paulo Alves de Souza, em 15.7.1927, um Decreto Eclesiástico, autorizando a irmã sair da congregação que pertencia e fundar outra que passaria a chamar-se Congregação de Jesus Cristo Rei, e fundar um colégio para a educação das crianças em Cachoeiro do Itapemirim.

 

A Congregação tem o seguinte objetivo, de forma sumária:

Revelar ao mundo a Compaixão do Pai na alegria, no acolhimento, na simplicidade, e na solidariedade, junto aos pobres, jovens, crianças e doentes.

A agremiação religiosa passou oficialmente a chamar-se Congregação das Irmãs de Jesus na Santíssima Eucaristia, com a fundação oficializada em 10.10.1927, acontecendo tudo isso muito rápido.

Depois de imensas dificuldades, a Congregação e o Colégio foram tomando forma, e surgiram às primeiras noviças, e em dezembro de 1933 conseguiu do Bispo a transferência do então Vigário de Vila Velha, Pe. Odorico Malvino, para ser o primeiro capelão da referida Congregação, que com o passar do tempo acabou não dando muito certo, o que por azar veio a repetir-se com o Pe. Luiz de Almeida.

O Colégio Cristo Rei passou a ter grande aceitação da comunidade local, com ingresso de meninos inclusive, sendo que um deles era um menino prodígio chamado Roberto Carlos Braga, que mais tarde virou um cantor popular de renome nacional e até internacional, que chegou ganhar de uma de suas ex-professoras, um medalhão de Cristo Rei que traz sempre no peito, e tem sido alvo de divulgação constante pela imprensa.

Em Vila Velha a Congregação resolveu nos anos 50 instalar um noviciado, e assim adquiriram da família Arens Langen o imóvel que era proprietária na Praça da Bandeira, vizinho da residência de Milton Caldeira. Tal imóvel tinha um quintal enorme, com muitas fruteiras plantadas, e com estátuas que adornavam seus jardins, conforme o gosto da esposa do Cônsul da Alemanha que ali residia.

Há de se registrar que em face  da suspeita do colaboracionismo dos alemães residentes com a Marinha Alemã na segunda grande guerra mundial, que intensificava em 1942 o torpedeamento de embarcações brasileiras, houve uma tentativa de quebra quebra da referida residência consular, que teve de ser contida por força policial.

A criançada da Prainha, freqüentemente pulava o muro do pomar para furtar mangas e goiabas, e numa dessas travessuras, uma conhecida pessoa quando menina, certa noitinha, levou um susto ao confundir uma dessas estátuas com um fantasma...

Essas estátuas como não eram de interesse dos novos ocupantes, um belo dia foram doadas para um residente em Vitória.

Na época que com muita dificuldade um ou outro fazendeiro abastecia Vila Velha com leite, e como ficava difícil para as irmãs obterem a quantidade que precisavam, elas chegaram ter vacas leiteiras, que pastavam também no sítio do Pe. José na encosta do Morro do Convento da Penha.

Até o Concílio Vaticano Segundo, encerrado em 1965 as irmãs usavam um hábito característico das freiras, sendo que a partir de então ficou liberado para as que quisessem poderiam trajar roupas tradicionais da comunidade em que vivem, para facilitar o entrosamento e a quebra de um certo falso poder eclesiástico.

A Madre Gertrudes, faleceu em 07 de agosto de 1962, com 87 anos de idade.

Nos anos 80 a Congregação de posse de maiores recursos reformou totalmente a antiga sede da Praça da Bandeira, em Vila Velha sob a direção de um engenheiro italiano residente em Vitória, e construiu o Centro de Formação Martina Toloni na parte de trás, que tem como objetivo sediar eventos, seminários, congressos, de grupos, empresas, sindicatos, e etc, bem como oferecer meios de hospedagens a passantes, na maioria com a alguma ligação com a Igreja Católica.

Lá tem havido reuniões de treinamento de diversas entidades, que consideram o local muito sossegado e ventilado e adaptado a esses tipos de atividades, apesar de haver dificuldade de achar-se o endereço do referido imóvel, pobremente sinalizado.

Em 1996 a Congregação fez pequena expansão, adquirindo o imóvel que fica justamente no Cantinho, de membro da família Caldeira (da falecida Rosélia, irmã de Milton), para ali funcionar como residência das Irmãs que estão em plena atividade, ficando a parte mais antiga da Praça da Bandeira, como residência das Irmãs mais idosas e que se aposentaram.

No complexo da Prainha também funciona, a atividade de fabricação de artigos litúrgicos de interesse da Arquidiocese de Vitória, e outras.

Existe ainda ali a Obra Social Santa Zita (padroeira das empregadas domésticas) que oferece pequenos cursos de datilografia, pintura, corte e costura, e de terapia alternativa, mas que está para ser reformulada.

A Irmã Gertrudes, passou a ter o título de Madre, por ser a Presidenta da Congregação que fundara, e seu trabalho foi elogiado pelo falecido Arcebispo Metropolitano de Vitória, D. João Batista da Mota e Albuquerque, sendo que a Congregação cresceu e espalhou pelos seguintes Estados além do Espírito Santo: Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro, tendo em 1970 alcançado em número  de 249 (duzentas e quarenta e nove ) irmãs professas.

 

Autor : Roberto Brochado Abreu -  membro da Casa da Memória de Vila Velha - 6.3.99, atualizado em 2011
Fontes : Dados Biográficos de Madre Gertrudes de São José-  por Irma Ilda Maria Alochio - Belo Horizonte- segunda edição - 1986
Irma Enédia da Congregação de Jesus na Santíssima Eucaristia - 1999
Anuário Católico do Brasil - 1970/1971-CERIS



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