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Material radioativo de Guarapari está armazenado em latas nos EUA

Empresa Mibra em Guarapari, principal exploradora das areias

Afinal, o que teria acontecido com as toneladas e mais toneladas de tório exportados para os Estados Unidos principalmente durante a Guerra Fria? No final das contas, o que restou delas agora é encarado como problema de segurança nacional e opinião pública.

Pouco mais de 1.500 quilos de Urânio-233 criado a partir do tório – e que chegou a ser testado em bombas e reatores na década de 1950 – está agora armazenado em latas e tubos em um depósito do governo americano no estado de Tennessee.

Novas tecnologias nucleares mais seguras tornaram obsoleta a pesquisa com U-233 há várias décadas. Sem serventia, o governo decidiu transportar esse material para um túnel de armazenamento de lixo nuclear em Nevada, justamente onde as bombas atômicas eram testadas, perto de Las Vegas.

A iniciativa, com custo estimado de 500 milhões de dólares, mobiliza a opinião pública nacional e sobretudo da população de Nevada, sendo alvo constante de protestos de ativistas. No entanto, testes para o transporte foram iniciados em maio de 2015, e o envio pode acontecer a qualquer momento. O urânio-233 armazenado é considerado de “baixo nível de risco” pelas autoridades americanas.

Robert Alvarez, especialista em estudos políticos e consultor do Departamento de Energia dos Estados Unidos durante o governo de Bill Clinton, estima que 200 toneladas de u-233 foram produzidas a partir de 800 toneladas de tório entre 1954 e 1970, nos EUA. O custo dessa produção pode variar entre US$ 5,5 e US$ 11 bilhões de dólares.

A constatação de diversos especialistas americanos é de que a corrida nuclear durante a Guerra Fria acabou gerando estoques de matéria-prima e materiais processados que hoje geram apenas dor-de-cabeça para o governo. Um exemplo emblemático disso é justamente o tório enviado das praias brasileiras e o urânio de laboratório produzido a partir dele.

Algumas correntes chegam a especular sobre o perigo desse material radioativo nas mãos de nações ou grupos com interesses bélicos. Outros cientistas defendem a teoria de que reatores de tório podem ser soluções viáveis para a geração de energia elétrica atualmente. De qualquer modo, a constatação de que toneladas e mais toneladas de areia exportada durante décadas acabam por se tornar um problema envolvendo latinhas de lixo radioativo é, no mínimo, curiosa.

Paralítico, secretário de Minas se curou

Na década de 80, o prefeito de Guarapari Graciano Espíndula lembra que uma história de infância o marcou profundamente e serviu como estímulo para entrar na briga contra a exploração da areia monazítica na cidade.

“Lembro-me que vi um homem completamente paralítico descer de um barco e sendo transportado para o outro lado da cidade, quando ainda não havia a ponte de Guarapari. Depois descobri que se tratava do secretário de Estado de Minas Gerais, vítima de reumatismo crônico, em busca da cura nas areias monazíticas”, declarou Graciano.

O prefeito ainda completou: “Ele estivera na Europa para tratamento, sem resultado. Meses depois, vindo da escola, vi aquele homem descer de um bonde, aqui mesmo em Vitória, sem a ajuda de ninguém, e seguir rua afora. Essa imagem ficou gravada na minha memória”.

Curiosidades

1. Foi na época de bastante movimento no porto de Guarapari que foram criados os hotéis Torium, Radium e Monazita. O Radium foi um cassino muito frequentado na década de XX, e símbolo de ostentação da classe mais abastada do Espírito Santo. Hoje está desativado.

2. Boris Davidovitch é nome de rua na Praia do Morro, em Guarapari, exatamente a mesma onde funcionava a antiga Inaremo. Não é possível precisar a data exata da criação da lei, na Câmara dos Vereadores da cidade, que dá à rua o nome do empresário russo

3. Augusto Frederido Schmidt, além de proprietário da Orquima, que explorava areia no Norte do Espírito Santo, foi um grande empresário paulista, criador de uma rede de supermercado e firmas industriais. Ele também é criador do famoso slogan “50 anos em 5″, usado na campanha de Juscelino Kubitschek para a construção de Brasília. No entanto, o fato mais curioso é que Schmidt é um dos poetas mais conhecidos da segunda geração do Modernismo brasileiro, com três livros publicados. Assim como Boris Davidovitch, morreu após um infarto fulminante.

 

Fonte: Jornal A Gazeta, A bomba atômica de Guarapari, 30/08/2015
Autores: Aglisson Lopes e Natália Bourguignon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2016

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