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Memória Capixaba o Arquivo e a Biblioteca - Por Gabriel Bittencourt

Prédio onde funcionou o Arquivo Público de ES - Fonte Foto: Memória Capixaba, 1981

Dos muitos empreendimentos arquitetônicos criados no governo do presidente Florentino Avidos, 1924-1928, um se destaca pelo formidável acervo que encerra para a Memória e cultura capixaba — o prédio do Arquivo e da antiga Biblioteca Pública.

Situa-se, segundo Elmo Elton (Logradouros antigos de Vitória), onde existiu o largo da Caridade, ao lado da igreja da Misericórdia, que acabaram dando lugar à Assembleia Legislativa e à Rua Pedro Palácio, depois das demolições avassaladoras na cidade alta.

O prédio foi inaugurado em 1925, realizando-se, também ali, de 24 a 30 de novembro desse ano, o 8º Congresso Brasileiro de Geografia, sob a presidência de honra do futuro marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

O edifício, agora tombado como patrimônio histórico estadual, já não abriga mais a Biblioteca Estadual, transferida que foi para o aterro da Condusa, na Praia do Suá, local totalmente inadequado ao serviço a que se destina. Mas o Arquivo continua ali, sendo este, como a Biblioteca, repositório dos mais notáveis da memória espírito-santense. A instalação destas duas entidades culturais, porém, em muito transcende a construção do velho sobrado da Rua Pedro Palácio.

A primeira biblioteca pública de que se tem noticia, no Espírito Santo, data de 16 de julho de 1855, inaugurada em sala do palácio do governo.

Sua origem deve-se ao historiador capixaba Braz Costa Rubim (1812-1871), que doou os 400 primeiros volume enviando-os do Rio de Janeiro para o presidente da província, Evaristo Ladislau da Silva.

Pouco antes dessa data, em 1852, o presidente Nascente de Azambuja afirmava ao Ministério do Império que, no Espírito Santo, "não havia nenhuma associação literária, nem periódico literário ou científico, nem se publicam outras obras", no que complementava, em 1856, o barão de Itapemirim — "não há jardim botânico, nem teatro, nem museu".

Daí a importância da iniciativa de Rubim, para o que se designou comissão organizadora da biblioteca, votando a Assembleia Legislativa auxílio da ordem de cem mil réis por três anos. Em 1859 já computava 2.000 volumes.

Paradoxalmente, teve curta duração o empreendimento. Em 1861, segundo o presidente Costa Pereira, raros curiosos a frequentavam e, em 1872, seu acervo já estava bastante limitado, corroído de traça e abandonado numa sala da Secretaria do Governo.

Vitória, porém, não mais poderia prescindir de um salão de leitura, sendo uma nova biblioteca reinaugurada em 1880, com 2084 obras, na gestão do presidente Eliseu de Souza Martins. Naquela época, a biblioteca de Vitória só encontrava rival no Grêmio Bibliotecário de Cachoeiro de Itapemirim, que, em 1883, abrigava 2.000 volumes em suas estantes.

Com o passar dos tempos sofreu a Biblioteca Pública formidável incremento, sendo de destacar-se a doação que recebeu do livreiro Francisco Alves, do Rio de Janeiro, de 1447 volumes, a 5 de setembro de 1889.

O governo dinâmico de Jerônimo Monteiro, 1908-1912, trouxe novo incremento ao setor, empreendendo formidável reforma administrativa, extinguindo a antiga Secretaria Geral, substituída pela Secretaria de Governo, como parte do Departamento do Interior, que, por sua vez compreendia, ainda, o Protocolo Geral de Administração, o Arquivo Público Estadual (dec. de 18 de julho de 1908) e a Biblioteca Pública.

Jerônimo Monteiro assumiu o governo quando a Biblioteca, que fora anexada à Diretoria da Instrução Pública, em 1897, se encontrava desorganizada, com suas coleções desfalcadas e abandonadas em uma das salas daquela Diretoria. Por isso, resolveu pela sua reorganização, confiando-a a uma equipe de funcionários, chefiados por Ubaldo Ramalhete, adaptando-se para seu funcionamento o antigo prédio da Diretoria de Terras.

Os trabalhos tiveram início em julho de 1909, sendo seus 5.073 volumes organizados em catálogo geral, com método de organização e consulta análogo ao da Biblioteca Nacional. Com confortável sala de leitura, a obra foi solenemente inaugurada em 27 de setembro do mesmo ano de 1909.

A união da Biblioteca Estadual ao Arquivo Público data de 1910 (5 de março), quando o presidente do estado cria nova regulamentação dos diversos ramos da administração pública, passando o Arquivo para a Diretoria do Interior e Justiça. Também, por decreto governamental, em 1914, fica consolidada esta ligação, não se cogitando mais da separação das duas entidades.

É, na sequencia desta tendência que, na administração Florentino Avidos, foi construído o prédio especialmente destinado à Biblioteca e ao Arquivo Público, na rua Pedro Palácios. A Biblioteca inaugurada em 23 de maio de 1926 e o Arquivo, em dezembro de 1926.

Infelizmente, no governo Élcio Alvares, transferiu-se a Biblioteca para o prédio onde hoje se encontra, na Praia do Suá. De fato, meio século após sua localização, na cidade alta, o velho prédio já não atendia aos anseios de seus usuários. No entanto, foi adotada a pior solução possível. Hoje, dada sua posição excêntrica, os poucos leitores que conseguem localizá-la, convivem, em espaço exíguo, com o odor que exala das peixarias vizinhas, e o desfalque de que foi vítima, ao longo dos anos, de seu centenário acervo, sobretudo das obras vitais para a reconstrução da memória capixaba.

A Tribuna — Vitória (ES), 14 de agosto de 1987

 

Fonte: Notícias do Espírito Santo, Livraria Editora Catedra, Rio de Janeiro - 1989
Autor: Gabriel Bittencourt
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2021

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