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Na chefia da redação – Por Vinícius Paulo de Seixas

Capa do Livro: O Diário da Rua Sete – 40 versões de uma paixão, 1ª edição, Vitória – 1998

Eu comecei em jornal no Rio, em 1958, com 18 anos. Parei um ano para servir o Exército e voltei para o jornalismo, tendo completado apenas o Segundo Grau.

Em 1970, o Grupo João Santos já havia comprado A Tribuna, naquela época um pequeno jornal que eles queriam transformar numa grande empresa. Um jornalista antigo, bem mais velho que eu, Antenor Novaes, trouxe um amigo dele (que também era meu amigo) pra cá. E este amigo me trouxe para ajudar a transformar A Tribuna em um jornal mais competitivo. Quando eu vim para cá, em 1969, me licenciei da Última Hora.

A imprensa em Vitória, naquela época, era muito pequena e atrasada. O Antenor morreu num desastre de carro, e esse meu amigo, Merival Lopes, voltou para o Rio, mas eu fiquei. A Tribuna fechou durante esse tempo para comprar máquinas novas e a idéia de ficar parado, sem trabalhar, mesmo recebendo, não me agradava.

Nessa época, um amigo que tinha trabalhado comigo nA Tribuna e que também era do Rio, Cláudio Bueno Rocha, estava nO DIÁRIO e me chamou para lá. Fui. Cláudio era o diretor responsável, e eu fui ser chefe de redação, o mesmo cargo que eu tinha nA Tribuna. Fiquei até novembro de 1971, quando comecei a sentir falta do Rio e resolvi voltar, inclusive porque tinha filhos lá. Fui trabalhar nO Globo.

Fiquei pouco mais de um ano nO DIÁRIO. Mas foi justamente numa época de especial efervescência, quando por exemplo pela primeira vez um jornal capixaba fez contrato com agências de notícias nacional e internacional, assinando também o serviço de radiofoto. Nem por isso A Gazeta perdeu sua liderança. Mas nisso ela não foi pioneira. Cláudio Bueno Rocha é que transformou o jornal da Rua Sete numa escolinha, com pessoas que tinham interesse em trabalhar.

O DIÁRIO tinha pouca gente e uma estrutura pequena: tinha o pauteiro, o chefe de reportagem e duas ou três máquinas de escrever para os repórteres, que se revezavam nelas. Mas não dava muita confusão, porque tinha repórter de manhã e de tarde. E tinha a sala da diagramação, onde ficava o redator, com o editor orientando. Na época, estavam despontando Paulo Maia, que já não era mais foca, Rubinho Gomes, que tinha 17 anos, José Casado, todos começando. Ninguém com formação em jornalismo. Não havia curso de comunicação.

Quando comecei, a imprensa brasileira já havia copiado a americana no que se refere ao lead e sublead, através do Diário Carioca. Tinha acabado com o nariz de cera, aquela novelinha que se escrevia antes da matéria em vez de ir direto ao fato. Mas o Diário Carioca adotou este estilo e o resto da imprensa acompanhou. No Espírito Santo foi mais ou menos assim: primeiro, o pessoal estava começando e havia muitos vícios. Tinha nomes conhecidos, bons, mas eram poucos, e geralmente não estavam na reportagem. Eram editores ou estavam em cargos de direção.

Quando cheguei a Vitória, em 1969, tudo era muito atrasado tanto profissional quanto tecnologicamente em relação aos grandes centros, onde todos tinham teletipo. Aqui, o primeiro foi O DIÁRIO. De repente, em poucos anos, a imprensa daqui deu um grande salto. Hoje em dia não fica nada a dever aos jornais do Rio e São Paulo. Talvez a0 Globo, que tem uma rotativa 10 vezes maior que a dA Gazeta. Mas em relação à informatização da redação, nem todos os jornais do Rio e de São Paulo são tão informatizados como A Gazeta e A Tribuna.

Quando cheguei a Vitória, não se diagramava jornal. Fazia-se um título livre. Depois descia-se a matéria para a oficina, os gráficos colocavam no corpo e nas linhas que desse, e aí diagramavam. Modestamente, fomos nós que trouxemos a diagramação para Vitória, inicialmente nA Tribuna. Como eu entendo um pouco de diagramação, comecei a esboçar o jornal, sugerindo a contratação de diagramadores cariocas, o que foi feito.

A Vitória daquela época era muito mais provinciana. Todo mundo conhecia todo mundo. Então o dono do jornal vivia sempre sob pressão de amigos, de políticos. Houve um fato engraçado - eu não vou dizer o nome - numa coluna social. Saiu uma nota dizendo que certa dama da sociedade daqui costumava vender seus vestidos usados. Usava uma vez e vendia. Mas que pararam de comprar por causa do... - a nota não falou em cecê, falou em cheiro do corpo. Isso deu o maior bode, um bode tão grande que o dono do jornal teve que mandar flores para a tal senhora...

O maior problema, no entanto, era com a Polícia Federal, que sempre aparecia com uma lista de assuntos cuja divulgação era proibida. Essa lista até que tinha sua utilidade, pois muitas vezes era através dela que a gente tomava conhecimento de determinadas fatos.

O jornal não chegava a ser especializado em polícia, embora desse muito destaque aos assuntos policiais e aos assuntos de interesse popular em geral. Para conseguir um número expressivo de leitores, teve que adotar essa linha. O DIÁRIO buscava ser popular. Não policial, mas popular. Assuntos populares, para competir com A Gazeta nessa faixa de público. Embora nós não tivéssemos pretensão de derrubar A Gazeta, mesmo porque não tínhamos meios para isso. No entanto, acho que se Edgard dos Anjos tivesse continuado nO DIÁRIO e se tivesse dinheiro, O DIÁRIO poderia ter se transformado num grande jornal inclusive competindo com A Gazeta.

 

Fonte: O Diário da Rua Sete – 40 versões de uma paixão, 1ª edição, Vitória – 1998.
Projeto, coordenação e edição: Antonio de Padua Gurgel
Autor: Vinícius Paulo de Seixas
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2018

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