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Na rota dos tesouros

Ilha da Baleia e a baixa onde o galeão afundou

Matéria de sonhos, aventuras e muitas loucuras, os tesouros escondidos no interior da terra ou nas profundezas do oceano até hoje instigam a imaginação e mobilizam o esforço de várias pessoas. E estes esforços, muitas vezes, são frutíferos. Que o diga o inglês Mel Fisher, que passou metade da vida caçando as joias do Atocha, galeão espanhol afundado no século XVII, no trajeto entre Havana e Flórida. Em 1986, seu sonho se tornou real: ele conseguiu localizar a embarcação perto das ilhas Marquesas. O galeão e imensas barras de ouro e prata, joias das mais diversas, reunindo uma fortuna de valor incalculável.

O próprio príncipe Charles da Inglaterra já participou em 1982, do resgate de uma nau do Reino Unido afundada em 1545 por invasores franceses. E, no Rio de Janeiro, desde o início da década, o arqueólogo americano Robert Frank Marx procura um navio fenício, do século II, supostamente afundado na Baía da Guanabara. De concreto, conseguiu encontrar duas âncoras, mas acredita que o navio – e várias riquezas – estão enterrados no fundo do mar.

Também no Espírito Santo, a “caça a tesouros” tem sido uma atividade bastante comum, embora um tanto camuflada. “É que quem se apossa de alguma dica, não a revela para ninguém para não ter concorrência na busca”, explica Flávio Pavan, 36 anos, 24 de mergulho. Uma coisa para ele é certa: “Qualquer mergulhador persegue algum tesouro”, o que torna a população de caçadores de riquezas antigas considerável. Só Flávio Pavan, através da empresa Flamar, já formou mais d Emil – e, por baixo, o número de mergulhadores no Estado deve chegar a dois mil. No verão, segundo ele, chega até a haver “congestionamento submarino”. Isto, fora o contingente de pessoas que procura tesouros na superfície.

Outra certeza de Flávio Pavan é de que algum dia vai encontrar um tesouro só seu. E não é sonho, é certeza, ele sabe disso. Já comprou até todo o equipamento necessário para buscas submarinas e guarda em segredo mil dicas. Até agora, já achou dois galeões antigos afundados, além de diversos outros navios. De um galeão, provavelmente inglês, encontrado com parte do casco submerso na área do fundo da boca da barra de Vitória, retirou cinco canhões de ferro fundido pesando de 500 a 600 quilos cada, além de torneiras e outras peças do mesmo material. Isto aconteceu há cerca de dez anos e Flávio fez até um flutuante especialmente para retirar estes pequenos “tesouros”.

Outra vez achou um galeão no além mar. Ele tinha cerca de 30 metros de comprimento e estava carregado por torrões de pólvora e canos de chumbo. As escavações nas proximidades do casco revelaram dezenas de balas com um desenho meio primitivo procedentes da Inglaterra – provavelmente as primeiras fabricadas no mundo – e muitas garrafas vazias. Dentro do navio, cacos de objetos de porcelana, mas o único tesouro encontrado foi cerca de 200 quilos de lagosta.

Na barra de Vitória, Pavan já encontrou várias carcaças de navios, algumas delas com objetos interessantes, como as cinco garrafas de Martini localizadas num navio brasileiro afundado perto da Ilha da Baleia, os doces embalados localizados num outro e uma carcaça cheia de placas de ferro fundido. Com equipamento específico para buscas submarinas – uma sonda que custa dois mil dólares, um sistema de sucção para cavar com preço semelhante, além de equipamento de mergulho e uma boa lancha – Flávio Pavan continua investigando as profundezas do mar, com a certeza de que a hora da sorte grande está próxima.

 

Mistérios

 

Os tesouros, especialmente no Espírito Santo, são um assunto bastante ingrato para o historiador Levy Rocha, devido a quantidade de incertezas que os envolver. O certo é que, no Estado, poucos se aprofundaram nas pesquisas e encontraram evidências. Ele citou o livro de Balestrero sobre um tesouro antigo dos jesuítas escondido numa igreja na fazenda de Araçatiba (município de Guarapari). Citou também o livro de Adelpho Poli Monjardim, sobre o tesouro da Ilha da Trindade e, pessoalmente, acredita que o rio Marinho foi construído por braços escravos para ligar uma fazenda jesuíta à baía de Vitória e que esta região pode conter alguma preciosidade.

As incertezas em torno do assunto também são muitas para o professor do Departamento de História da Ufes, Gabriel Bittencourt. As especulações em torno da existência de riquezas na costa capixaba esbarram com argumentações favoráveis e desfavoráveis. Entre estas últimas está, para Bittencourt, o fato do Espírito Santo ter sido uma capitania muito pobre, fora da rota das grandes expedições marítimas. Tanto que quando Saint-Hilaire passou por aqui no século XIX, escreveu que a população ficou surpresa ao ver uma embarcação tão grande como aquela em que ele viajava.

Os argumentos favoráveis referem-se ao ouro de Minas Gerais sempre embarcados pelo Rio de Janeiro, mas provavelmente contrabandeados pelas bandas de cá. Além, é claro, do fato de a navegação na baía de Vitória ter sido considerada por séculos tarefa muito difícil devido à grande quantidade de ilhas, ilhotas e arrecifes e à precariedade da iluminação, pois o farol de Santa Luzia só foi inaugurado em 1871.

Isto, fora o de se ter sido constatada a presença de piratas por estas paragens em pelo menos três ocasiões. A primeira delas no Governo de Luiza Grimaldi, em 1592, quando esteve aqui o inglês Thomas Cavendish, que teve sua frota destruída pelo exército local, coma ajuda do cacique Jupiaçu. Depois, houve o ataque holandês em 1625, que gerou o episódio de Maria Ortiz e sua água fervente. A última foi o também holandês Koin, que veio assaltar as terras capixabas em 1640.

Em relação à riqueza perdida da Companhia de Jesus, as controvérsias são grandes. É certo que por ordem do Marquês de Pombal eles foram expulsos quase à bala em 1759. Certo também que todas as igrejas da ordem possuíam relíquias e riquezas, mas para onde foram, ninguém sabe. Há quem diga que os jesuítas do Espírito Santo, ante a expulsão, se refugiaram na fazenda mais próspera de sua Companhia – onde fica a Barra do Jucu – que tinha uma casa com colunas falsas.

Também interessado em tesouros, o artista plástico Kleber Galvêas tem pesquisado estas histórias e reunido relatos da população local, que já encontrou na região, após chuvas de enxurrada, talheres de prata e até um colar de ouro com um dente de jacaré. Kleber, até agora, só achou cacos de louças portuguesas com seu detetor de tesouro importado da China, Mas as buscas continuam, assim como os sonhos e as aventuras. Para os caçadores de tesouros é isto que importa.

 

Autor: Andréa Curry
Fonte: Jornal A Gazeta, de 6 de agosto de 1989
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2012 

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