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O Acervo Histórico da Província

Braz Rubim - Capixaba

A biblioteca Pública do Espírito Santo está completando 157 anos. Quem promoveu sua criação foi o escritor Brás Rubim, capixaba de nascimento, que ofereceu ao governo provincial um conjunto de 400 volumes como núcleo inicial do acervo, cabendo ao governo, em contrapartida, criar, instalar e manter a instituição. Maiores detalhes em dois artigos publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico (ns. 59 e 64): “Biblioteca Pública Estadual do Espírito Santo: memória administrativa, 1855-2005” de Rogério Coimbra, e “O intelectual Brás da Costa Rubim a fundação da Biblioteca Pública Estadual em 1855”, de Getúlio Pereira Neves.

Os relatórios dos provinciais (consultados na página do Arquivo Público) dão conta das imensas dificuldades de funcionamento nos primeiros 25 anos. Diz Leão Veloso em 1859: “Não passa a biblioteca pública de, talvez, novecentos volumes, inclusive muitas brochuras, atirados a esmo sobre uma mesa, e pelo chão, entregues a voracidade das traças, e ao estrago da poeira”. E fez apelo, como fariam muitos de seus sucessores, à assembleia (apelo, à mesma fonte, que ainda hoje convém e é preciso que se faça): “Se entendeis que a província deve ter uma livraria pública, cumpre que a doteis dos meios de que há mister o núcleo que já temos, para que se possa desenvolver. [...] consignando-se, anualmente, alguma quantia por pequena que seja, ir-se-á gradualmente fazendo novas aquisições e assim acrescentando-se a livraria”.

Mais dramático, o bibliotecário refere que se chegou “a comprar 30 tábuas de diversas qualidades para mandar fazer uma ou duas estantes, embora toscas, mas nem assim puderam ser feitas por falta de dinheiro para o pagamento da mão de obra”.

Só na década de 1880 as coisas começam a melhorar. O relatório de Eliseu de Souza Martins, de julho de 1880, já traz uma nota de otimismo. “A Biblioteca vai tendo grande desenvolvimento pela continuada oferta de livros; sua frequência, que excede em muito as previsões ordinárias, demonstra que ela veio satisfazer uma grande necessidade do espírito público nesta capital.” Até a linguagem oficial muda: a Biblioteca torna-se “utilíssimo estabelecimento” e “civilizadora instituição”. Os relatórios passam a ser mais detalhados, incluindo informações do número de leitores e de obras consultadas, estas por área de conhecimento e até por idioma.

Em 1882 o acervo conta 2.942 volumes. Para ter uma estimativa do total no fim do período monárquico adicionamos a esse número as aquisições por compra e doação (quando) discriminadas nos relatórios subsequentes, e chegamos à soma de 4.353 volumes, É um cálculo grosseiro, pois não leva em conta números ausentes dos relatórios, como perdas por dano e furto e volumes não devolvidos, coisas então, como hoje, corriqueiras.

Nenhum dos relatórios contém lista ou catálogo dos 400 títulos doados por Brás Rubim nem das incorporações posteriores, Quem sabe uma busca nos arquivos do Estado não exumaria documentos contendo essas informações preciosas para a história da nossa cultura no século XIX?

No entanto, uma noção, embora parcial, da fisionomia desse acervo provém de pesquisa que fizemos, como escritor residente, no setor comercial da BPES conhecido como Coleção Província, que reúne 8.000 títulos do período entre 1800 e 1950. Aí encontramos 275 sobreviventes do acervo provincial, ou seja, incorporados entre 1855 e 1889. Foi fácil identificá-los: todos eles exibem o carimbo Biblioteca Pública – Província do Espírito Santo.

É um acervo histórico e documentalmente precioso e, devido às encadernações mandadas fazer na época, em, sua maioria em bom estado de conservação. Dá-nos uma boa amostragem do material de leitura disponível e consumido pelos leitores provinciais. Exemplo: lia-se muito em francês, como se vê pela estatística de obras consultadas por idioma em 1886: 867 em português, 551 em francês, e outras em inglês, latim, italiano e espanhol. Não é pois de admirar que, dentre os 275 volumes hoje remanescentes, 137 sejam em francês, 112 em português, e 26 em outras línguas.

Mas quais dentre essas obras poderíamos mencionar aqui como especialmente raras e curiosas? A mais antiga delas data de 1793-1807 e é uma tradução portuguesa em onze volumes (de que restam cinco) da História do Cristianismo no seu estabelecimento e progressos”. E mais: “Variedade sobre os objetos relativo às artes, comércio e manufaturas, consideradas segundo os princípios da economia política” (1814); “teoria do direito penal aplicada ao código penal do Brasil, leis pátrias, códigos e leis criminais dos povos antigos e modernos” (1856), em quatro volumes; “Manual dos juízes de direito ou Coleção dos atos, atribuições e deveres destas autoridades”, do capixaba Pereira de Vasconcelos (1861); “Estudos práticos sobre a administração das províncias do Brasil” (1865); “Breve notícia sobre a coleção das madeiras do Brasil” (1867); “Catálogo suplementar dos livros do Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro” (1870); “teses sobre colonização do Brasil: Projeto de solução às questões sociais que se prendem a este difícil problema” (1875); “Apontamentos sobre o abaneênga também chamado de guarani ou tupi ou língua geral dos brasis” (1876); e “O Rio de Janeiro: sua história, monumentos, homens notáveis, usos e curiosidades” (1877).

 

“Os Lusíadas”

 

Em francês destacamos uma tradução em verso de “Os Lusíadas” (1876); e (traduzindo os títulos): “Quadro das revoluções da Europa”, de Koch, em três volumes (1823); “Dicionário racional dos termos de botânica”, de Le Coq (1831); “Dicionário de medicina, cirurgia, farmácia, ciências auxiliares e arte veterinária”, de Nysten (1840); “Biografia universal: Dicionário histórico contendo a necrologia dos homens célebres de todos os países, artigos consagrados à história geral dos povos, às batalhas memoráveis, aos grandes acontecimentos políticos, às diversas seitas religiosas, etc, etc, desde o começo do mundo até os nossos dias” (1841), da qual restam três de seis volumes; quinze volumes da “Enciclopédia moderna: Dicionário abreviado das ciências, letras, artes, indústria, agricultura e comércio” (1846-60); e vários números da década de 1840 do “Journal des Economistes”, revista mensal de questões agrícolas, industriais e comerciais.

Todo esse relicário de 275 volumes, e muito mais, pretende a atual gestão, comandada pela diretora Nádia Alcure Campos da Costa, reproduzir na Biblioteca Digital que integrará o futuro portal da BPFS. São antigos tesouros de conhecimento que, graças aos novos mecanismos da tecnologia da informação, podem e devem ser recolocados ao alcance de leitores e pesquisadores no mundo inteiro.

 

Fonte: A Gazeta – Pensar, de 14 de julho de 2012
Autor: Reinaldo Santos Neves, escritor-residente da Biblioteca
Comílação: Walter de Aguiar Filho, julho/2012
 

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