O caçador de Forno Grande – Por Maria Stella de Novaes

Forno Grande é um Monte, no Município do Castelo.
Diziam, antigamente, que, em tempos remotos, antes de ser o lugar habitado pelas tribos indígenas, o dominavam gênios infernais que, ali, estabeleceram uma comunicação com as entranhas da Terra.
Posteriormente, vieram os puris firmar-se, na região; foram, porém, afastados, pelos bandeirantes mineiros, cobiçosos das famosas minas de ouro e pedras preciosas.
Segundo relatos diversos, na fase inicial do desbravamento, quando chegaram os primeiros povoadores brancos, havia ainda quem fizesse tratos com o demônio, com o saci, o curupira, etc., ou procurasse vencê-los. Por isso, um caçador, desejoso de penetrar nas matas de Forno Grande, e chegar até o lugar encantado, a fim de apoderar-se do ouro e das pedras preciosas, apostou com amigos: Havia de vencer o saci, representante do Príncipe das Trevas, naquele temido lugar. Em caso de vitória, seria eleito chefe do povoado.
Partiu, numa madrugada. Subiu. Venceu cipós e espinheiros. E, quanto mais andava, mais distante se lhe apresentava a cratera fantástica. Passou o dia, andando...
Aproximava-se a tarde e nem sinal de caça, — jacutingas, veados, pacas, etc.
Exausto, sentou-se, numa pedra, junto a uma extensa laje, coberta pela fronde de um mulembá. Repousou; mas, na hora da Ave-Maria, sentiu ligeiro estremecimento da terra. Aprestou a espingarda. — Seria o momento de vencer o mistério? Não. Jamais voltaria ao povoado, sem, ao menos, um saquinho de ouro, no bolso.
Súbito, em saltos característicos, sobre a laje, que se levantara, parcialmente, surge o saci, a fazer-lhe trejeitos. Presa do pavor, o homem larga a espingarda, para fazer um esconjuro e traçar o Sinal da Cruz; ágil, porém, o negrinho descarrega a arma e atira-a distante.
Em disparada, sai o homem, seguido pelo gênio das estradas desertas. Corre, corre... passa correndo, no povoado, onde as luzes já estavam apagadas e os moradores dormiam! Nem uma porta aberta, porque todos receavam o desfecho da aventura e não queriam envolver-se com o saci.
E o homem continua correndo, até hoje. Corre, corre, para que outros possam viver, em paz, salvos do perigo do lugar, ainda chamado Forno Grande, embora extinta a cratera do saci.
Fonte: Lendas Capixabas, 1968
Autora: Maria Stella de Novaes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2016
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