O Jantar de Deus
Depois de rematada, em 1660, a obra de construção do Conventinho da Penha, segundo a planta traçada por Frei Sebastião do Espírito Santo, longos anos decorreram sem constar de algum fato extraordinário. Representa este lapso de tempo um grande hiato na história desta Casa conventual, por nos faltarem quaisquer documentos referentes à vida e atuação de seus religiosos.
É porque tudo se desenrolava nos trâmites normais: exercícios ascéticos, administração dos Sacramentos aos romeiros, assistência religiosa aos colonos portugueses e catequese dos índios. Por algum tempo, todavia, houve perturbação da paz nos dois Conventos da Capitania, ocasionada pela explosão do nativismo em todo o país, e foi nos primeiros decênios do século XVIII.
Sobre o movimento de romeiros escreve Frei Apolinário que no seu tempo (1730) Nossa Senhora continuava a operar prodígios e acrescenta piedosamente que por este motivo "concorrem os habitantes de todos os estados a visitar a sua sagrada Imagem, uns a pedir, outros a agradecer; e nenhum deixa de se elevar na sua presença, parecendo-lhe estaria já de posse da bem-aventurança e que quem logra esta, não tem mais que apetecer: quem chegou a gostar da assistência neste devoto Santuário parece-lhe que no mundo não há mais que desejar".
Como não consta o ano em que se deu, sendo, porém, certo que foi antes de 1730, inserimos aqui um fato edificante.
Mandara o Guardião da Penha dois Religiosos à Vila da Conceição de Guarapari a tratar de um negócio importante que não permitia demora. Os frades puseram-se a caminho e andaram em jejum todo o dia ao longo da praia. Cedo caiu a noite, por causa de grande tempestade, com horrível trovoada. Chegando perto da vila, não encontraram quem os quisesse levar por uma passagem que só a canoa se podia atravessar. Um dos companheiros, então, mais prático do lugar, sugeriu a idéia de irem por outro caminho, que na distância de um quarto de légua encontrariam a casa de um pobre, mas caridoso homem. Caminharam, pois, todo molhados, e fuzis e relâmpagos serviam-lhes de farol e guia. O pobre homem recebeu-os caridosamente, mas significou-lhes com grande pesar que nada tinha para oferecer, e os dois tinham andado quase dez léguas sem comer. Acudiu a Providência Divina. Ainda estavam dando graças a Deus pela fome que sentiam quando escutaram reboliço nas palhas do telhado e uma coisa caiu pesadamente no chão da casa. Chegaram-se com luzes, era o jantar que Deus lhes enviou, um bom dourado. Prepararam-no e fartaram-se eles e o homem pobre, mas hospitaleiro.
Voltando ao Convento e ouvindo os Religiosos o acontecido, todos deram muitas graças ao Senhor.
Fonte: O Convento de N. Senhora da Penha do Espírito Santo, ano 1965
Autor 1: Frei Basílio Rower
Autor 2: Frei Alfredo W. Setaro
Compilação: Walter der Aguiar Filho, abril/2015
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