O milagre da seca

Maria Santíssima é a auxiliadora dos cristãos em todas as necessidades. Os numerosos ex-votos, as ofertas em ouro, prata, pérolas e pedras preciosas e, enfim, outras doações feitas ao Santuário e ao seu Convento atestam exuberantemente quantos se confessam agradecidos.
Não admira tenha ela sido invocada também nas calamidades públicas e é justamente um caso dessa natureza que vamos contar, conforme se guarda na memória dos espírito-santenses.
Uma grande seca assolava toda a Capitania no ano de 1769. Nem nos rios havia mais água. Morria o gado de sede e outra conseqüência foi uma extraordinária carestia de víveres. Fizeram-se preces públicas, mas as nuvens não derramaram o desejado líquido.
Fato curioso. Enquanto as matas em redor da vila perdiam o frescor, só pouca diferença se notava na vegetação do morro da Penha. Avisados por este fenômeno, lembraram-se os moradores de recorrer à intercessão de Nossa Senhora. Resolveram organizar uma procissão, trazendo a imagem da Penha à Igreja de São Francisco de Vitória. A este fim tomaram uma lancha, pintaram-na de novo e enfeitaram-na com colchas de seda, ricamente bordadas, e com flores em profusão. As autoridades militares e civis, as Ordens religiosas, as Irmandades, toda a população, enfim, foram ao cais e quando viam afastar-se da montanha a lancha de Nossa Senhora, acompanhada por muitas outras de Vila Velha, prorromperam em manifestações de júbilo à excelsa Mãe de Deus e de fervorosas súplicas, pedindo que fizesse cessar o terrível flagelo por sua poderosa intercessão. Ouviam-se as salvas da fortaleza e os sinos a bimbalhar festivamente.
Ao chegar a Imagem ao cais de Vitória, foi recebida com todas as demonstrações de piedade e devoção e colocada debaixo de um rico pálio adrede preparado. As ruas por onde passava a procissão estavam juncadas de folhagens aromáticas, pelas janelas pendiam colchas de fino lavor e a multidão ia rezando, rezando, pedindo chuva. Mas os raios do sol pareciam ainda mais abrasadores e o céu sem misericórdia.
Não tardou, porém, o milagre; Maria mostrou-se também desta vez a poderosa intercessora. Apenas a procissão entrou na igreja de São Francisco, o céu anuviou-se e mais e mais escurecia. Desfizeram-se as nuvens em água e caiu chuva em abundância. Os rios encheram-se, brotaram de novo as fontes e a natureza ia cobrir-se de gala, rejuvenescida.
Chega a Senhora a terra, e recebida
Em rico pálio de ouro traspassado,
Da turba acompanhada é conduzida
A santa casa de Francisco amado.
Inda não bem no templo é recolhida,
Já todo o céu de nuvens carregado,
Encobrindo do sol a formosura,
Transforma o claro dia em noite escura.
Apenas entra a Virgem, quando os ares
As nuvens vomitando sobre a terra,
Parece com dilúvio, que nos mares
Quer a água vingar do fogo a guerra.
Não deixaram os habitantes das duas vilas e dos arredores de dar solenes graças a Nossa Senhora com devota novena, e acabada esta foi a Imagem reconduzida ao seu trono no Santuário.
Fonte: O Convento de N. Senhora da Penha do Espírito Santo, ano 1965
Autor 1: Frei Basílio Rower
Autor 2: Frei Alfredo W. Setaro
Compilação: Walter der Aguiar Filho, abril/2015
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