Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

O Nascimento de uma imprensa moderna – Por Paulo Makoto

Paulo Makoto

Vinte e um anos de existência. Sintetizar em poucas linhas os 5 anos de trabalho em O DIÁRIO não é tarefa muito fácil. Iniciei em 1968 e deixei o jornal de 1972.

Posso afirmar sem erro de dúvidas que vivi as duas fases mais importantes da vida do jornal: a da formação de uma nova elite de jornalistas, hoje grande parcela deles atuando nos principais setores dos jornais da capital e outros brilhando na imprensa de São Paulo, Rio e Brasília; e o nascimento da moderna imprensa capixaba, que deveu-se à coragem e ao pioneirismo de O DIÁRIO, criando o departamento de foto-reportagem, a reportagem móvel, teletipo, radiofoto etc.

A primeira deveu-se ao idealismo de Marien Calixte criando a escolinha de repórter e a segunda de Edgard dos Anjos, que num arrojo de coragem tomou em 1969 duas providências essenciais: contratou um bom chefe de reportagem e uma boa equipe de repórteres. Segunda providência também essencial: um corpo de redatores de primeira grandeza para sintetizar e reviver, através dos ângulos emocionais, a matéria prima vinda da reportagem. Terceira providência: um novo conceito de paginação para elaborar a "embalagem" do produto.

A filosofia geral era tratar assuntos sérios com leveza e assuntos leves sem pieguice e com dignidade. Títulos e manchetes em termos coloquiais, e, quentes quando fosse necessário. Um jornal novo, ágil, no ritmo da cidade.

Predominância de assuntos que afetam a cidade. Concentração de todo o jornal num assunto principal, fosse ele a eleição da miss, a campanha de um vereador contra os buracos da cidade, os crimes do Esquadrão da Morte ou a decisão do campeonato estadual.

Não havia lugar para matérias sem interesse. Explorava-se o assunto a fundo, com seus antecedentes e conseqüências, examinava-se "por trás da notícia".

Perguntar-se-á, porque estacionou esse jornal tão bom? Resposta óbvia: dificuldades financeiras. Os investimentos não pagaram os dividendos. Os frutos da experiência no entanto foram proveitosos, pois outras empresas colheram os profissionais jovens, mas bastante amadurecidos e, acompanhando a arrancada de O DIÁRIO, implantaram também a nova mentalidade, ou seja, jornalismo voltado fundamentalmente para a "notícia". Modernizaram as redações igualando-se às melhores do país.

Com Edgard dos Anjos veio também a valorização profissional. O meu setor, foto-reportagem, foi criado por Edgard e Rogério Medeiros em fevereiro de 1968, foi o primeiro da imprensa capixaba. O rebolado da Mimi, passista da Unidos da Piedade, foi o maior responsável pelo meu ingresso no jornal. Todos deliraram com as fotos que consegui fazer da garota e assim fui levado para o jornal. A educação de um Rogério Medeiros, os argumentos honestos de Fernando Jackes "Jakaré" quanto ao meu salário e a garantia de Edgard dos Anjos quanto ao recebimento do salário em dia, com o aval de Jorcel Garcia, foram o bastante para decidir ficar aqui. Resumindo, fui raptado pelo trio e jogado na redação: "Você tem que trabalhar conosco". Você se negaria?

Assim com o departamento fotográfico montado com o laboratório de máquinas de Rogério Medeiros, montamos um esquema de cobertura fotojornalística. Atendendo a todas as editorias, política, esportiva, policial, cidade e também sociedade, o jornal ganhou novas dimensões. Os clichês já gastos pelo uso constante foram encostados no arquivo e fotos do dia eram publicadas nas edições seguintes furando os demais concorrentes. Clichês, alguns centenários feitos com fotos do saudoso Pedro Fonseca.

Hoje, passados 4 anos, ainda sinto-me com se nunca tivesse deixado aquele velho casarão na Rua Sete. Tenho saudades de todos e de tudo, do Adam Emil, Dalton Martins, Jorge Luiz, Geraldinho de Paula, Renato Dias, Torre, Rubinho, Mariângela Pellerano, Ewerton, Hesio Pessali, Casado, Hélio, Erildo e Tinoco, Vinícius, Bonates, Amylton e tantos outros bons companheiros.

 

Fonte: O Diário da Rua Sete – 40 versões de uma paixão, 1ª edição, Vitória – 1998.
Projeto, coordenação e edição: Antonio de Padua Gurgel
Autor: Paulo Makoto
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2018

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

Jornalistas - Os 10 mais antigos e Os 10 ainda atuantes

Plinio Marchini. Escritor e publicista. Dirigiu vários jornais no Estado, estando atualmente à frente do matutino “O Diário”  

Ver Artigo
Jornais, Revistas e Publicações (Jornais) - Os 10 mais antigos

2) “Correio de Vitória”. Editado pela Tipografia Capitaniense. Primeiro número em 17-1-1840. Proprietário e Redator Pedro Antônio de Azevedo. Era bissemanal

Ver Artigo
Lembranças de O Diário – Por Plínio Martins Marchini

Velho O DIÁRIO de jornalismo político. Aqui construímos nossa glória de papelão

Ver Artigo
Alfredo, o homem que vendia jornais – Por Marien Calixte

Um homem que ajudou os amigos e deles nada cobrou em troca, não pediu retribuição, quando é este o ato mais comum nas relações humanas

Ver Artigo
O mais importante jornal da Rua Sete – Tinoco dos Anjos

Seria bom que um grupo de estudantes do curso de Comunicação da UFES se dispusesse a levantar e a contar a história de O Diário, sem esquecer o lado folclórico

Ver Artigo