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O papel dos tropeiros

Não era o fim dos tropeiros, com mais caminhos para trilhar e muitas funções a cumprir

Foi principalmente graças à expansão da lavoura cafeeira e à necessidade de escoamento da produção que se impôs a utilização de tropas de burro para o transporte de café. Foram utilizadas desde meados do século XIX, crescendo em número no início do século XX, principalmente nas décadas de 20 e 30, entrando pelos anos 40, quando foram aos poucos cedendo lugar aos caminhões.

As tropas de burro partiam para longas jornadas diárias, vencendo picadas e caminhos mal abertos, atoleiros e estradas lamacentas, esburacadas ou cheias de poeira, em dias ensolarados e quentes, enfrentando a chuva, o frio, o vento ou o calor. Os tropeiros ajudavam também a conservar os caminhos, principalmente as trilhas abertas nas matas, facilmente obstruídas pelo crescimento da vegetação. Naqueles anos, o Espírito Santo carecia de estradas e pontes. A travessia de um rio era, na maior parte das vezes, muito trabalhosa, pois freqüentemente só se encontravam pontes nos pequenos cursos d'água. Os tropeiros deviam então descarregar os animais e deixar que atravessassem a nado, enquanto a carga era colocada em canoas.

Até a década de 30, Santa Leopoldina foi um ativo centro de comércio. Seus ricos comerciantes negociavam diretamente com a Europa. Em contraste, no traçado aproximado da estrada que liga atualmente Santa Leopoldina a Santa Maria de Jetibá, existia um caminho que, em vários trechos, se transformava em trilha, imprensado entre a montanha e vales profundos. Não poucas vezes tropeiros perdiam animais, que despencavam pelo precipício. Não eram diferentes as trilhas de tropa em toda a região de montanha.

As tropas faziam a conexão entre as fontes produtoras e as cidades, os portos marítimos ou fluviais, as estações das estradas de ferro, percorrendo todo o Estado. Levavam a produção agrícola e transportavam de volta para o interior produtos ali inexistentes, como o sal, o açúcar, querosene, ferramentas, bebidas, peixes salgados, tecidos, calçados, utilidades domésticas.

A tropa era formada por dez animais de carga (burros e bestas) e, às vezes, mais um burro de cozinha e cama que conduzia alimentos, utensílios de cozinha, agasalhos. Havia ainda a madrinha da tropa, égua miúda, sempre bem enfeitada, que, com um cincerro pendurado ao pescoço, mantinha a tropa reunida, inclusive nos pousos e paradas, ajudando também a reunir os animais soltos no pasto. O chefe da tropa era o arrieiro, que podia ser o dono da tropa ou um empregado dele. Viajava sempre montado. O tropeiro devia tocar a tropa, ajudado, às vezes, por um menino. Viajava a pé, com o cozinheiro.

Cada animal carregava 120 quilos divididos em três cargas: duas penduradas em cada lado do costado e outra em cima do lombo. Percorria de 20 a 25 quilômetros por dia, numa jornada que dependia das condições do caminho, subida de serra ou ao longo de baixadas, das condições do tempo, podendo ser encurtada ou alongada.

Tropeiros e arrieiros passaram a exercer outras funções, além de conduzir burros: levavam e traziam encomendas, correspondência, valores, compravam remédios, traziam e levavam notícias, chegando a gozar de certo prestígio na sociedade pela seriedade e honestidade com que, de modo geral, desempenhavam essas funções. A chegada da tropa no interior era cercada de certa alegria e movimentação: todos procuravam saber das notícias das cidades.

As tropas motivaram o aparecimento de várias atividades lucrativas: a produção de selas e cangalhas, ferraduras, freios e cabrestos, estribos, lamparinas, cincerros, tachos e a compra e venda de animais.

 

Fonte: Jornal A Gazeta, A Saga do Espírito Santo – Das Caravelas ao século XXI – 18/11/1999
Pesquisa e texto: Neida Lúcia Moraes e Sebastião Pimentel
Edição e revisão: José Irmo Goring
Projeto Gráfico: Edson Maltez Heringer
Diagramação: Sebastião Vargas
Supervisão de arte: Ivan Alves
Ilustrações: Genildo Ronchi
Digitação: Joana D’Arc Cruz    
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2016

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