Morro do Moreno: Desde 1535
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O Sítio Pedra Dágua

Vista aérea da Baía de Vitória, ao fundo a Pedra DÁgua

PEDRA D’ÁGUA.

 

O Sítio.

Segundo Levy Rocha, o Sítio Pedra d’Água (onde se situa a penitenciaria), fica distante meia légua de Vila Velha e é formado por uma colina em cujo alto havia uma casa solitária. Neste sítio se descortina o panorama que se estende à esquerda, no estreito prolongamento da baía. Pedra d’Água origina-se da grande pedra isolada, que aflora na água...

No período  imperial o sítio “Pedra d’Água” foi parada obrigatória dos viajantes que a caminho seguiam com destino ao sul ou norte do país.

Em 1848, o vice-presidente da Província lamentava os graves problemas dos viajantes que ao chegarem a Pedra d’Água ficavam aguardando por longo período a canoa para a travessia da baía, e, sugeria que se colocasse à disposição uma embarcação do tipo da que faz o serviço no rio Paraíba.

 

Viajantes ilustres que estiveram no sítio:

  • O renomado naturalista-zoólogo do mundo de antanho, o príncipe alemão Maximiliano de Wied Newied esteve na Pedra d’Água no dia 19 de dezembro de 1815. Enquanto aguardava ser transportado no dia seguinte com a sua comitiva, pernoitou numa pequena cabana de um idoso morador.
  • Em 10 de outubro de 1818, passou pela Pedra d’Água o famoso naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire. O naturalista observou ao longe o Morro do Moreno, as ilhas da baia de Vitória e o morro do Convento da Penha. Nas imediações de Pedra d’Água divisou o pequeno sítio de Santinho na encosta do morro de Jaburuna. (jaburu - espécie de pássaro; una - preto). Continuando a descrição do que via pode divisar a embocadura do Rio Aribiri, a Pedra dos Olhos, o morro do Mestre Álvaro na Serra, algumas choupanas do outro lado da baia e uma bela residência do Capitão-Mor em Jucutuquara, local para onde devia seguir. O capitão mor Francisco Pinto o recebeu bem, prometendo alojá-lo em sua casa, porém, sugeriu que retornasse para o Sitio de Santinho e que no dia seguinte mandaria buscá-lo com sua gente e bagagem. O proprietário do Sitio demonstrou grande ódio aos Botocudos, dizendo: "são como os franceses, só gostam de guerra". Até então não conhecia a identidade do seu ilustre hóspede.

 

Hospedaria dos Imigrantes

A imigração no Espírito Santo teve início em 1813 com a chegada dos Açorianos que se estabeleceram em Viana. A seguir imigraram para o estado os alemães, italianos, poloneses, americanos, etc. Para recebê-los, o governo construiu a hospedaria de Pedra d’água. Mais tarde a hospedaria foi adaptada para alojar a guarda nacional. Remodelado pelo artista André Carloni recebeu a 7ª Companhia de Caçadores Isolada. A luz elétrica no edifício foi inaugurada no dia 15 de julho de 1910 para abrigar o Contingente da Força Federal comandada pelo engenheiro Jaime da Silveira.

Reformada no governo do Dr. Nestor Gomes (1920-1924) e administrada pelo Diretor de Obras Doutor. Florentino Ávidos, o edifício foi transformado em Penitenciaria Estadual, conservando esta finalidade até os dias atuais.

 

MORRO DA MANTEIGUEIRA.

Por se tratar de área do governo, a situação Pedra d’Água teve uma parcela de sua área medida e desmembrada a favor do senhor Charles Darcell conforme planta datada de 10 de outubro de 1892.

Deve, portanto, remontar do final do século XIX a construção do imóvel que pela sua forma ficou conhecido como Manteigueira, cuja toponímia está assinalada na referida planta.

Em 1925 esta propriedade já constava como pertencente à firma Hard Rand & Cia. conforme plantas topográficas da época.

 

Zeladores da propriedade.

Reportando aos fatos vivenciados pelo professor Jofre Abreu nascido em 1928 na Gloria, filho do comerciante senhor Manoel Martins de Abreu, casado com dona Maria Lucas de Abreu (ambos falecidos), estabelecidos  na esquina da rua Santa Terezinha com a avenida Jerônimo Monteiro.

Em entrevista informou que o morro sempre foi conhecido como Morro da Manteigueira. Quando criança brincava nos arredores da antiga casa em forma de manteigueira e na adolescência algumas vezes a visitava. Quando menino conheceu como moradores e zeladores do imóvel, o senhor João Gomes e sua esposa dona Lola. Eram amigos e fregueses da venda do seu pai, o senhor Abreu.

O morador seguinte de nome Messias, chegou do Rio de Janeiro com a esposa e dois filhos para trabalhar na firma Hard Rand & Cia., proprietária do imóvel.

O último administrador do imóvel foi o senhor Henrique Marques que residiu em uma casa ao lado da caieira do senhor Joaquim Freitas na enseada da Gloria.

Por último, sem grande responsabilidade sobre o imóvel, o senhor Queiroz, avô de dona Aracy, esposa do ex-combatente da FEB, o senhor Manoel Correia. O Queiroz foi administrador da fábrica de cal (caieira) e quando notava algum movimento estranho no morro dava ciência à firma Hard Rand & Cia.

 

As lendas.

  • As lendas que se prendiam a casa eram passadas pelos pais das crianças para evitarem suas idas a um local isolado sujeito a mordida de cobra ou mesmo acidentes causados por quedas uma vez que o lugar é cheio de precipícios, pedreiras e o estuário de rio onde há correnteza.
  • Falavam em luzes vistas à noite, o que deve ter acontecido alguma vez por alguém deste mundo. Jofre Abreu desconhece esta afirmativa porque nunca as viu.
  • Dizem que a construção era do tempo dos jesuítas, fatos não verídico porque os viajantes que embarcavam em Pedra d’Água falam somente em uma cabana num morrinho donde via o rio Aribiri. O material usado na construção parece ser o usado no final do século XIX ou início do século XX, e os jesuítas deixaram o Espírito Santo em 1759, em observância ao alvará passado em Lisboa no dia 19 de janeiro deste ano para a expulsão dos padres da Companhia de Jesus do reino de Portugal como de suas possessões. Mais tarde foi cumprida a Carta Régia ou do Prego para o mesmo fim expedida ao vice-rei do Brasil em 21 de julho.
  • Conta a historiadora Maria Stella de Novais.

Houve no inicio da colonização, segundo uma lenda capixaba, um grande amor transformado em tragédia entre um português e uma índia filha de um grande guerreiro Goitacá chamado Iuramatã.

A bela índia Iara, filha do cacique aguardava conforme o costume tribal, a decisão do conselho dos pajés, em escolher um pretendente para desposá-la.

O português João-Maria (este era o seu nome) tinha por costume pescar no estuário do rio Aribiri, celeiro de alimentação dos robalos e demais peixes que subiam o rio para a piracema.

Um dia, ao contornar o Penedo e se aproximar da margem do sítio Pedra d’Água, divisou uma bela e jovem índia banhada ao luar, estirada sobre uma laje à margem do rio. Encantado, João se aproximou e ao ser visto pela índia, esta fugiu e embrenhou-se na floresta. O jovem português, intrigado, fez da aventura, um hábito, e toda à tarde para lá se dirigia em busca da bela jovem. A freqüência fez com que Iara se aproximasse nascendo assim o primeiro grande amor entre as duas raças. Subiram a encosta do morro e de lá Iara mostrou o domínio do seu povo e a aldeia com suas malocas.

Este amor às escondidas um dia foi descoberto, e em uma cilada foram capturados e levados ao conselho tribal, sendo julgados e condenados à morte.

Os índios da aldeia armaram um amontoado de troncos e galhos e sobre eles colocaram os corpos abraçados e crivados de flechas dos dois amantes. No local de suas cinzas mandou o pajé construir uma palhoça.

 

Diz Maria Stella:

Desse romance entre a mulher índia e o colono luso, resultou a lenda de uma “assombração” para a Casa da Manteigueira, assim denominada um antigo solar, erguido em Jaburuna, sobre uma colina fronteira ao mar. Era um elegante sobrado que, segundo a mesma lenda, não podia ser habitado, porque alta noite, os espíritos de João-Maria e Iara fechavam e abriam portas ruidosamente, andavam pelos corredores e salões..., gemiam, profundamente, conforme os ciclos da lua.

A casa desapareceu, há pouco tempo. Constituía uma curiosidade, para os viajantes, na passagem dos barcos, pelo canal de acesso ao Porto de Vitória.

 

Esta lenda foi confirmada e romanceada pela mestra das escritoras de nossa terra, a extraordinária Maria Stella de Novais em “Lendas Capixabas”, publicada em 1968 pela Editora F. T. D. SA. – São Paulo.

 

Pesquisa: Edward D'Alcântara
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2011

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