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Pedro Palácios – Por Adelpho Monjardim

Gruta onde Frei Pedro Palácios morou

Leigo franciscano, Pedro Palácios, natural de Medina do Rio Seco, em Espanha, chegou ao Espírito Santo, em 1558. Desconhecido, aportou humilde e anônimo. Todavia animava-o força sublime e misteriosa. Era um destino em marcha, artífice de uma divina missão. Modesto, autêntico asceta, desprezava os bens materiais, fiel às palavras de Cristo, no Sermão da Montanha

Naquela cálida tarde de sol poente ele chegou ao vilório do Espírito Santo. Ninguém dele se apercebeu. Caminhando ao longo da praia, junto à montanha, que se tornaria sagrada, deparou com a lapa que o iria abrigar. Não chegava a ser gruta, mas razoavelmente espaçosa e acolhedora. Atapetava-a finíssima areia. Arrimado ao bordão, aproximou-se. Ali, sem que suspeitasse, seria a sua verdadeira morada. No surrado alforje portava as viandas para o frugal repasto. Não era propriamente velho, entretanto as penitências, as agruras de uma vida austera, eivada de renúncias, agiram como um cilício naquele corpo bastante alquebrado.

Apenas um cão vadio testemunhou a sua chegada. Ao vê-lo entre assustado e curioso, latiu; mas ao primeiro aceno amigável aproximou-se, sacudindo a cauda alegre e submisso. Conquistava Palácios o seu primeiro amigo no Brasil.

Só na manhã seguinte o vilório tomaria conhecimento da sua presença, quando os curiosos se acercaram da lapa. Entre os muitos se encontrava o preto João, escravo do Sr. Pimenta, um dos importantes da terra. João tornou-se amigo do anacoreta, a quem passou a servir, com permissão do amo. Ao escravo e ao cachorro juntou-se uma gata, completando a corte do franciscano. Logo os da terra cercaram-no de atenções e carinho, olhando-o com respeito e devoção.

Aos domingos, diante da tela da Virgem, exposta em um nicho, em cima da lapa que lhe servia de abrigo, celebrava o ofício divino, assistido por todos. Assim conquistou Palácios aquela boa gente.

Numa luminosa manhã de abril, a Santa Imagem desapareceu do nicho. Dado o alarma alvoroçou-se a população, saindo todos à sua procura. Lembrou-se Palácios de procurá-la na montanha. Lá no alto, no cimo do cabeço granítico, foram encontrá-la entre duais gentis palmeiras.

Impressionou-se o povo com aquilo que julgava um aviso. No sucesso via o propósito da Virgem de ali erguer a sua morada. Assim também pensava Palácios. Dúvidas que se dissiparam ao sonhar com a Virgem, ordenando-o a construir ali a sua morada.

Com o auxílio da população, e não poucos sacrifícios, iniciou a construção da capela, orago de São Francisco, que seria conhecida por Ermida das Palmeiras. Fora construída no Campinho, espaço relvado, hiato entre a floresta e o cume rochoso da montanha, onde vicejavam as palmeiras.

Terminada a Ermida, Palácios providenciou a escadaria de acesso à rocha, onde, no vasto platô, edificaria o Santuário. Todavia as fadigas e os janeiros o assoberbaram e a sua débil saúde inspirava cuidados. Certa manhã, muito cedo, ele foi à Ermida, sem mesmo esperar o João, companheiro inseparável. Apenas o cachorro o seguiu. Palácios pressentia o fim. Na humilde capela, ante a imagem sagrada, ajoelhou-se e rezou. Seria a última oração. Na piedosa postura rendeu a alma ao Criador. Dizem que no transe derradeiro a Virgem o conduziu ao céu, tão perto estavam.

Misteriosamente o sino da Ermida dobrou finados, despertando a sua voz plangente os moradores da Vila, que, aflitos, correram à montanha. Na pequenina capela foram encontrar o piedoso eremita. Ajoelhado, as mãos cruzadas sobre o peito, ante o altar da Virgem, parecia orar. Cautelosos se aproximaram, temendo perturbá-lo. Sereno, os seus olhos fixavam a Santa. Só então perceberam que ele estava morto.

Ao seu lado, consciente do trágico momento, o cão vadio montava guarda. Gania baixinho, como choram os cães.

A morte do piedoso anacoreta consternou a todos. Morre um santo. No pobre e humilde cemitério, em sepultura rasa, descansou das fadigas da Terra.

Terminada a cerimônia fúnebre, sobre as flores esparsas, na terra ainda fofa, o cão vadio, o fiel companheiro, deitou-se para não mais se erguer.

A vida de Pedro Palácios foi a de um santo. A loca em que viveu, no sopé do morro, junto à subida para o Convento, transformou-se em monumento histórico mui caro aos capixabas. Pedro Palácios deve ser canonizado, e não é sem tempo. Já houve, nesse sentido, em Vila Velha, nos meados do século passado, um movimento promovido pelos franciscanos do Convento da Penha, quando saíram, em procissão, pelas ruas da cidade.

 

Fonte: O Espírito Santo na História, na Lenda e no Folclore, 1983
Autor: Adelpho Poli Monjardim
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2016

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