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Pietro Tabacchi

Pietro Tabacchi e a mulher, Anna Antonieta Fontoura Tabacchi - Foto: Acervo Gabinete do Prefeito de Aracruz; quadro pintado por Yvana, em 1975; reprodução fotográfica de Benvindo Devens (Foto Musa)

Em geral, as obras que tratam da imigração italiana citam Basílio Carvalho Daemon (autor do livro “Província do Espírito Santo – Sua Descoberta, História, Cronologia, Sinópis e Estatística”, de 1879) como principal fonte para informações sobre Tabacchi, por ter sido seu contemporâneo.

Daemon escreveu que Tabacchi era natural de Trento, na Itália, tendo vindo para o Brasil ainda muito moço e aqui tendo morrido, com mais de 50 anos. Como a morte de Tabacchi aconteceu em 21/6/1874, vê-se, portanto, que ele nasceu por volta da década de 1820. Ainda segundo Daemon, os desgostos sofridos, com os conterrâneos que trouxe da Itália precipitaram sua morte, pois agravaram a doença do coração de que sofria.

Segundo o livro de Lucílio da Rocha Ribeiro, Daemon afirma sobre Tabacchi: “Tratava-se de homens muitíssimo instruído, de vistas largas e empreendedor, tendo, inclusive, estudado Medicina em seu país. Mas não concluiu o curso por ter-se envolvido num movimento revolucionário”.

E mais: “Supõe-se que Tabacchi tenha-se envolvido, em sua terra natal, em algum movimento revolucionário, tão freqüentes no Norte da Itália anteriormente à unificação desse país, e que objetivava libertar essa região do domínio austríaco. Mas, tendo esse movimento fracassado, tivera que se evadir”.

Renzo M. Grosseli supõe que Tabacchi tenha fugido da Itália em 1851, baseado na informação de que neste ano começou um processo de cobrança de juros sobre altas dívidas que ele tinha por lá. Assim para Grosseli, Tabacchi se evadiu “devido a questões econômicas e provavelmente a uma falência”.

Assim, é provável que Tabacchi já estivesse na região da Vila de Santa Cruz por volta de 1852, adquirindo várias propriedades, entre elas a Fazenda Morro das Palmas, em Córrego Fundo. Apesar de ser o pivô do malogro do maior dos projetos de Tabacchi, a Fazenda das Palmas se tornaria depois o centro de triagem das sucessivas levas de italianos que chegavam para as diversas outras colônias da Província e sediaria o maior empreendimento industrial capixaba da época: o Engenho Central Guaraná, fabricante de açúcar.

 

Importador de Crise

 

Tabacchi trouxe para o Espírito Santo, em 1874, a primeira leva de famílias de imigrantes italianos, procedentes do Tirol. A escritora ibiraçuense Virgínia Tamanini, de ascendência italiana, usa traços negros, na primeira parte de seu romance “Karina, para contar a estratégia de aliciamento que Tabacchi usou com seus conterrâneos.

O objetivo dele era estabelecer estas pessoas em uma colônia particular, que batizou de “Nova Trento”, na região onde hoje está a cidade de Fundão. Ele estava entusiasmado com as possibilidades de progresso próprio e dos colonos italianos, por isto propôs ao governo imperial brasileiro fazer seu próprio assentamento particular.

Pelo contrato que apresentou em meados de 1871, Tabacchi se propunha a trazer 30 famílias de colonos ou 150 pessoas adestradas nos trabalhos da lavoura, assumindo as responsabilidades da acomodação destas pessoas em suas terras. O governo só aprovou a proposta em 31/5/1873, através do Decreto Imperial número 5.295, que renovou o contrato e aumentou o número de famílias para 70. Tabacchi partiu para a Itália em meados do mês de junho.

As primeiras 386 famílias italianas saíram do Porto de Gênova em 3/1/1874, a bordo do navio francês “Sofia”, que também trouxe várias caixas de equipamentos agrícolas importados por Tabacchi. O navio chegou à Baía de Vitória em 17 de fevereiro e encalhou, de modo que o desembarque completo só aconteceu dia 27. Em 1º de março, as pessoas foram embarcadas para Santa Cruz no vapor “Presidente”, enquanto máquinas e bagagens dos imigrantes seguiram no patacho “Nossa Senhora da Penha”.

Os italianos chegaram a Córrego Fundo no dia 3 de março e de imediato se desentenderam com Tabacchi, principalmente quando perceberam que a sonhada Colônia Nova Trento ficava muito longe do ponto onde suas famílias foram instaladas (Córrego Fundo). Eles gastavam cerca de duas horas no percurso entre os dois pontos.

A crise foi se agravando e, por volta do dia 13, Tabacchi, se sentindo ameaçado, pediu proteção ao governo do Município de Santa Cruz. Quatro dias depois, o governo da Província enviou para o local um destacamento de 15 soldados, para garantir a ordem. Os imigrantes insatisfeitos foram sendo alojados nos núcleos coloniais oficiais, como Santa Leopoldina, Rio Novo, Antônio Prado (Santa Teresa), Pau Gigante (Ibiraçu), entre outros.

Decepcionado com o malogro de seu projeto, Pietro Tabacchi perdeu o entusiasmo, o que fez sua doença se agravar, morrendo em 21 de junho de 1874. Foi sepultado em Santa Cruz, onde morava com sua família, levando consigo o rancor de seus conterrâneos, que encontraram uma realidade muito diferente da que lhes foi oferecida e se consideraram enganados por ele.

Tabacchi deixou viúva Anna Fontoura Tabacchi, então com 33 anos, e órfão um casal de filhos: Maria Tabacchi de Leon, com 17 anos, e Bartholomeu José Tabacchi, com 12 anos. Maria era casada com Alfredo de Leon, que já tinha sido nomeado por Pietro procurador dos interesses da família. Esses familiares de Pietro ainda passariam alguns apertos com as insatisfações dos imigrantes, destacando-se um novo levante em dezembro de 1874.

 

Mal entendido

 

Tudo leva a crer que a crise da instalação das primeiras famílias italianas numa colônia particular nasceu de um grande mal entendido da parte daqueles primeiros imigrantes, de seu desinteresse em tentar dialogar com o responsável, Pietro Tabacchi. Afinal, apesar das notórias vantagens que ele levava nos contratos, também ficava evidente a preocupação com que seus contratados tivesse bons retornos.

Confirma isto uma providência que nem o governo teve ao trazer outras famílias italianas para seus núcleos coloniais: entre as 386 famílias que Tabacchi trouxe, ele teve o cuidado de incluir o padre Domênico Martinelli; o médico Pio Limana, que relatou em cartas vários episódios da aventura; e o “administrador da Colônia Nova Trento”, Pedro Casagrande, que foi contratado pelo governo para exercer a mesma função em Rio Novo. Os três intervieram nos conflitos, embora de modos diferentes, conseguindo evitar que as conseqüências fossem piores ainda.

O escritor Lucilo da Rocha Ribeiro sintetiza, na página 37 de seu citado livro: “(...) Tabacchi permaneceu entre os imigrantes italianos e seus descendentes como uma figura meio lendária e muitos fatos contados a seus respeito não correspondem à realidade. Alguns imigrantes italianos que aqui chegaram muitos anos depois de sua morte, quando entrevistados, declararam que foram por ele trazidos da Itália e o responsabilizaram por todos os seus infortúnios.”

E o livro de Renzo Grosseli reforça: “Pietro Tabacchi não teve tempo de demonstrar quais eram as suas reais intenções e como aqueles lavradores poderiam ter continuado a seu serviço. O que impediu foi a imediata rebelião dos camponeses.”

 

Fonte: Faça-se Aracruz! (Subsídios para estudos sobre o município), 1997
Organizador: Maurilen de Paulo Cruz
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2012

Nota do Livro: Foram obtidas informações nos livros " Subsídios à História da Imigração Italiana nos Municípios de Ibiraçu e João Neiva" de Lucilo da Rocha Ribeiro, e " A Expedição Tabacchi e a AColônia Novo Trento", de Renzo M. Grosselli.

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