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Praia da Costa – Por Seu Dedê

Praia da Costa, anos 50

Conhecida como Fazenda da Costa, dividia-se com o Rio da Costa e abrangia desde os Morros do Moreno e Farol Santa Luzia até a Fazenda Guaranhus em Itapoã.

Hoje, poucos conheceram a Praia da Costa da década de 1930.

Para chegar lá era necessário atravessar o Rio da Costa por uma ponte de madeira, que ficava no final da Rua 15 de Novembro, onde hoje está a Rua América do Sul (Ponte Velha). Era seguindo e passando por baixo das cercas de arame farpado que separavam as propriedades do Izidoro Silva (pai dos doutores Dório Silva, Demócrito e Tarquínio) até os terrenos da família Motta, e daí, por areal, se chegava a praia.

Chegando à praia, deparava-se com os “quitungos”, onde o pescador guardava sua canoa e apretechos de pescaria. Em um deles residia um senhor idoso, alegre, já curvado pelos anos, conhecido de toda a Vila Velha pelo nome de João Rita.

Conheci alguns desses pescadores da época, como o Augusto Sergipano, Maria Bonita, Dadaia, Chico Tarugo e outros.

A Praia da Costa compreendia toda a orla que vai da Praia do Chavão (Governador), Sereia e a propriamente conhecida Praia da Costa até a Ponta de Itapoã.

A vegetação era de restinga, com abundantes frutíferas, tais como pitangas, mupês, murtinhas, cajus, perinhos, araçás, pitombas, bacuparis e outras mais.

O progresso da região foi incentivado por dois vultos importantes que se destacaram: Lúcio Bacelar e Gastão Roubach.

Lúcio Bacelar construiu bem próximo à praia, no final da atual Av. Gil Veloso, um botequim de taipa com duas portas na frente e um balcão onde ele e seu filho Djalma vendiam café, aguardente, refresco, rapadura, fumo de rolo e outras coisas do ramo. Para atrair quem passava pelo local, principalmente pescadores fim de semana e alguns banhistas, construiu um grande painel, em madeira, no alto da fachada e nele pintou a imagem sorridente e atraente de uma linda sereia com os seguintes dizeres: Gosta de mim? Visite-me.

Esta é a razão pela qual a praia daquele recanto recebeu o nome de “Sereia”.

Gastão Roubach fundou o Clube dos Quarenta e edificou sua residência na orla da Sereia e nela residiu. Como trabalhava em Vitória, para tomar o bonde fazia a pé o trajeto da Praia até o Centro de Vila Velha.

A primitiva estrada para a praia foi aberta após a construção da ponte de concreto armado sobre o Rio da Costa (Ponte Nova), e veio a facilitar o seu desenvolvimento. O senhor João Motta, proprietário de uma área considerável de terreno remanescente da Fazenda da Costa, adquiriu um ônibus para facilitar o acesso das pessoas à praia.

Acreditando no desenvolvimento, surgiram as residências dos senhores Gastão Roubach e Francisco Rocha na Praia da Sereia.

Na ponta da Sereia foi construído o Clube dos Quarenta. Na primeira curva da Praia, após a rebentação, havia a casa do doutor Dório Silva conhecida de todos como a Casa Branca.

A famosa Casa do Navio (Boate Pelicano) foi construída nos anos 60 pelo seu proprietário, o engenheiro Campanelli. Campanelli, empreiteiro do Estado, executou o asfaltamento ligando Vila Velha à residência do Governador, na Praia da Caiçara.

Quem conheceu ou frequentou a orla da Praia da Costa nos anos 50, pôde presenciar a pesca de cardumes de peixe da altura da Sereia até o pontal de Itapoã. Dizíamos: “Pescado na Praia da Costa”.

A pesca da manjuba em Itapoã e Itaparica era farta e muitas vezes as redes rompiam com o peso do pescado. Na safra, saíam muitos caminhões lotados de peixe para Vila Velha e seus arredores, inclusive, para os mercados da Capixaba e Vila Rubim de Vitória.

Residiam em Itapoã famílias de pescadores que os auxiliavam na lida da puxada das redes. Povo humilde, batalhador e muito admirado e querido por todos.

Os moradores de Vila Velha corriam à Praia para encherem o embornal. Na fartura, as manjubas apareciam também na Prainha de Vila Velha.

Jocosamente, os moradores de Vitória diziam que os de Vila Velha eram pobres e naqueles dias, com a fartura de manjubas, ironicamente falavam “Vila Velha está falando grosso...”.

 

Nota: O autor era carinhosamente conhecido por Seu Dedê

 

 

Fonte: Memória do Menino... e de sua Vila Velha – Casa da Memória Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha-ES, 2014.
Autor: Edward Athayde D’ Alcântara
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2020

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