PRESENÇA, Lição de Vida - Por Theomar Jones
Elmo Elton Santos Zamprogno é o novo ocupante de cadeira nº 27 da Academia Espírito-Santense de Letras.
Intelectual com expressiva bagagem literária, cerca de doze livros, o novel imortal capixaba, ora organizando um trabalho sobre escritores espírito-santenses, ao ter em mãos o material referente à Sra. Judith Leão Castello Ribeiro, resolveu, inteligentemente, publicar PRESENÇA, justa homenagem a uma das mais altas inteligências do ES, personalidade marcante no meio sócio-cultural da terra de Maria Ortiz, obra que apresenta, em excelente e feliz seleção, parte da produção literária da escritora Judith Leão Castello Ribeiro;
Emocionou-me, de início, a dedicatória da Mestre ao ex-aluno, aposta no exemplar a mim dedicado, com estas preciosidades, “Presença é um pouquinho do muito que deixarei em testemunho do meu bem querer ao próximo. Presença é a utópica ânsia de sobrevivência.”
Trechos de períodos, que destaco curtos, pequenos: a alma em pedacinhos, na sublimidade de uma espontânea oferenda – dar sem idéia de receber.
Depois, a reprodução do belo soneto “A Serra”, de Kosciuszko Barbosa Leão, cuja presença vive em minhas recordações, professor e amigo, ao lado de sua esposa, Dona Laura, “Tia Laurinha, alma-ternura”, como a chama a autora de PRESENÇA, a tratar-me com especial carinho, quando de minhas visitas à casa, hoje sede da Academia Espírito-Santense de Letras, e que, a exemplo da Academia brasileira de Letras, caracterizada como Casa de Machado de Assis, deveria, apropriadamente, com unânime aprovação dos acadêmicos capixabas, ser a Casa de Kosciuszko Barbosa Leão.
Adiante, página 47, o capítulo “Não Cantamos Parabéns”, antológico, pela forma e pela essência, o registro de uma sensibilidade em outra sensibilidade – “Este é o meu último beijo”, disse, e silenciou para sempre, Kosciuszko Barbosa Leão, despedindo-se da esposa, a 20 de maio de 1979. – Parabéns pra você, que soube viver e morrer! , exclama com os olhos úmidos de lágrimas Dona Judith.
Páginas Serranas, a primeira parte de PRESENÇA, é um hino à terra natal.
A linguagem, a falar de emoções, a contar histórias, a criar belezas, aliada ao encanto do estilo, que se espraia por toda a extensão do livro, caracteriza a força criadora de Judith Leão Castello Ribeiro. É uma escritora na exata significação da palavra.
No garimpo de seu vocabulário há cintilações, irradiações, brilhos. Daí, por certo, a magnificência de suas idéias.
Em sua virtuosidade, a autora de PRESENÇA mais se revela com o conhecimento do simples, do humano, através da grandeza de sentimentos superiores, como, por exemplo, quando fala de folclore.
É bom lembrar que Judith é nome de origem hebraica e significa a que louva. Assim, a escritora sente os anseios populares, vê as angústias de muitos, apresentando o sentir de sua gente, que também é o seu. Falo, não apenas com inteligência e perspicácia. Falo na vivência de uma sensibilidade especial, de uma formação própria, que a faz escrever, à página 89: "Sejamos fortes na defesa do espiritualismo, única força capaz de manter a hierarquia social, pois são seus princípios primeiros a colocar-se acima do mecanismo dos reflexos condicionados, como seres superiores da criação".
Em Crônicas, segunda parte do livro, um mundo encantador é descrito, em nuanças extraordinárias, autêntico caleidoscópio, tal a coloração de imagens que se apresentam sob matizes variados.
A presença constante do irmão querido, Rômulo Leão Castello - "De Alegria Também se Chora", é a tônica de PRESENÇA.
Os capítulos subseqüentes revigoram a autenticidade da escritora Judith Leão Castello Ribeiro, a situar-se na mesma plana, em sua arte de bem dizer, a Helena Morley, "Minha Vida de Menina", e a Lia Corrêa Dutra. "Memórias de um Saudosista".
Em suas evocações de pessoas, entre tantas, Parente Frota, Irmã Josefa Hosanna de Oliveira, Wilson Martins Moreira, lembranças revestidas de intenso carinho. "não é que tive a impressão de ver, no primeiro banco, à cabeceira, em pé, de braços cruzados, o já falecido diretor do Ginásio São Vicente de Paulo, meu tio, meu diretor, meu mestre, meu amigo, o Professor Aristóbulo Barbosa Leão?"
Não resisto, no despretensioso registro de minhas impressões, provenientes da leitura de PRESENÇA, belo e grande livro, de reproduzir: "Na madrugada da vida, aos quinze anos, as velas brancas da crença de um coração ingênuo abriram-se ao sopro da esperança./ O barquinho do seu coração fez-se ao largo. - O barquinho de velas cansadas à espera de monções."
"Sentadinha na cadeira de rodas, amava a vida e tinha horror à separação. Falava sorrindo: - Rezo para ter coragem para morrer, deixar tudo e todos. Quero os sacramentos e sua mão na minha mão. Não largue a minha mão. Assim, terei coragem."
A autora fala em sua mãe (pag.40) e conclui o capítulo: "Assim aconteceu. Um sorriso, olhos azuis, dois pedaços de céu cravados nos meus olhos, nem um estremecimento. Um aperto mais forte de mãos e Deus a levou. Mamãe, a senhora está me ouvindo, responda ao meu pedido: Benção, mamãe!"
E vêm os Discursos, parte final da obra, entre os quais "Deveres e Direitos Políticos da Mulher", "Olavo Bilac e sua Atuação Cívica", "Rui - o Gigante Intelectual", "Amor com Amor se Paga - Educar Amando a Criança", dignos de leitura, sobretudo pelo conteúdo de impressionante atualidade.
Eu diria mais, muito mais.
Por ora, a Elmo Elton meus cumprimentos pela realização de PRESENÇA.
A autora, o meu muito obrigado pelas revelações de PRESENÇA, o livro, pela lição de vida, em sua alta significação, que é a presença de Judith Leão Castello Ribeiro na vida de seus amigos, de seus ex-alunos.
Fonte: Jornal A Gazeta - 26/09/1980
Autor: Theomar Jones
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2014
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