Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

Rebeliões permanentes de escravos

Escravo no Brasil

Queimado é o mais bem documentado levante escravo da história capixaba. Isso contribuiu para torná-lo famoso. Não foi, porém, o primeiro nem o último a ocorrer no Espírito Santo no século XIX.

Na Serra, em 1822, aconteceu uma rebelião com objetivo idêntico: a conquista da liberdade. Foi o prenúncio da revolta de 27 anos mais tarde.

A mesma motivação conduziu os negros de São Mateus ao motim, em 1823. A repressão foi brutal e sanguinária. Quem a descreve é o historiador capixaba Gabriel Bittencourt: “Ali, em diferentes pontos da vila, quatro cabeças de escravos, espetadas em estacas, serviam de exemplo àqueles que buscassem o direito à liberdade”. Tamanha demonstração de força e poder parece não ter adiantado, haja vista que, em 1827, 90 escravos foragidos das fazenda ameaçaram invadir e controlar a sede de São Mateus. Mais uma vez a reação do governo provincial foi enérgica. Uma guerrilha policial foi organizada, prisões e castigos foram aplicados aos insurretos.

A revolta da escravatura registrada em Itapemirim, em 1831, foi ousada. Os negros planejavam assassinar todos os brancos da região. Os cabeças do movimento, qualificados de “horroroso plano”, foram capturados e severamente penalizados.  A mesma sorte não teve a elite branca de Guarapari, dois anos mais tarde. Famílias inteiras foram chacinadas por negros rebelados. Mataram e fugiram em massa para as matas e florestas do interior.

A reivindicação das Cartas de Liberdade também foi o motivo principal para um pronunciamento de escravos das fazendas próximas a Cachoeiro de Itapemirim, em 1871. A manifestação foi pacífica, não resultando em conflitos armados ou mortos, mas foi a exteriorização de insatisfações acumuladas.

Em São Mateus, foi catalogado um elenco de líderes negros que, por diversos meios, desafiavam a ordem escravocrata. A história transmitida oralmente preservou o nome de alguns deles: Zacimba Gaba, Negro Rugério, Viriato Cancão-de-Fogo, Constância d’Angola e Maria Clara do Rosário dos Pretos. Vale destacar, além desses, Benedito Meia-Légua que, por utilizar táticas espetaculares, virou “lenda viva” e adquiriu a aura de invencibilidade. Com seu bando de negros foragidos, durante 60 anos Benedito Meia-Légua “aterrorizou os grandes fazendeiros de São Mateus, deixando um rastro de heroísmo, sangue, coragem e aventura”, conforme relata o pesquisador Maciel de Aguiar. Os bandoleiros investiam contra as fazendas e “libertavam os escravos dos castigos nos instrumentos de suplício”. Em 1885, Benedito foi capturado por capitães-do-mato e queimado vivo.

O refrão de uma canção portuguesa ajuda-nos a entender o rancor e a revolta do escravo: “Quem quiser tirar proveito de seus negros, há de mantê-los, fazê-los trabalhar e surrá-los melhor”.

Não é para menos que, ao caracterizar a escravidão, o historiador José Honório Rodrigues tenha sido taxativo ao escrever que:

 

“(...) o capítulo das relações de senhores e escravos não é, como se tem escrito na história oficial, isento de luta e sangue (...). Como reação ao sistema escravocrata, a rebeldia negra, insurreição racial, foi um processo contínuo, permanente (...)”.

 

Foi a própria desumanidade da escravidão que gerou movimentos como a Insurreição do Queimado. Enquanto ela não foi extinta, a classe dominante permaneceu assustada e insegura. Nas senzalas, nas plantações, nos terreiros de café, nas fábricas de farinha e açúcar, ou no interior das residências senhoriais, podia estar sendo orquestrada uma nova conspiração. As tragédias sociais não são obra do acaso.

 

Fonte: História do Espírito Santo – Uma abordagem didática e atualizada, 1535-2002
Autor: José P. Schayder
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2012 

Especiais

Luiz Buaiz - Preparação para ser médico

Luiz Buaiz - Preparação para ser médico

O irmão mais velho, José, já estava no Rio quando Luiz Buaiz foi para lá, para estudar como interno no Colégio São José, dos Irmãos Maristas

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

Movimento Negro e Educação no ES - Por Gustavo Henrique Araújo Forde(12)

Nas últimas duas décadas do século XX, o Espírito Santo foi palco de uma efervescência política negra com a criação de um conjunto de organizações

Ver Artigo
Memória Capixaba o Arquivo e a Biblioteca - Por Gabriel Bittencourt

Florentino Avidos construiu o prédio destinado à Biblioteca e ao Arquivo Público, na rua Pedro Palácios

Ver Artigo
Viagem ao Espírito Santo (1888) - Princesa Teresa da Baviera (PARTE VI)

Um pouco mais tarde, ouvimos a voz exótica de uma saracura, isto é, de um raleiro que poderia ser uma Aramides chiricote Vieill

Ver Artigo
A possível verdadeira história da tragédia da Vila Rubim - Adilson Vilaça

Bernardino Realino pode ser invocado como protetor de certas categorias de cidadãos, que julgam poder contar com poucos santos

Ver Artigo
Bibliotecas - As 10 mais importantes

1) A Biblioteca Pública do Estado. Fundada em 16-6-1855, pelo Presidente da Província Dr. Sebastião Machado Nunes.

Ver Artigo