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Rua Duque de Caxias - Miguel Depes Tallon

Rua Duque de Caxias com o seu calçamento em pe-de-moleque, 1926

Quem hoje passa pela Rua Duque de Caxias, sequer imagina que aquela rua calma e tranqüila já foi o coração da boêmia desta ilha, na época em que esta era, lembrando Carmélia, “uma delícia”. Contam, inclusive, que num de seus casarões antigos, quando ainda os havia, esteve preso por algum tempo o Padre Diogo Antônio Feijó, em virtude de sua participação na fracassada Revolta Liberal de 1842.

A rua era calçada a pedra, desse tipo  de calçamento que se convencionou chamar de “pe-de-moleque”. Como as pedras, na chuva, ficavam escorregadias, um alcaide expedito as mandou substituir por uma pavimentação mais segura e moderna. Devagarinho, muito devagarinho mesmo, a velha rua foi mudando.

Quando Vitória ainda era uma “cidade de funcionários públicos”, com poucos fogos e casario baixo”, como costumavam dizer os visitantes, a Duque de Caxias era a rua das desordens, das arruaças, da prostituição e de todo o lúpen que a cerca.

Nos setenta, havia na rua três restaurantes muito bons: o “Brasil”, o “Globo” e o “Marrocos”. O lagarto assado com couve e tutu à mineira, do “Brasil” e o filé a Marrocos, do “Marrocos” eram imperdíveis. Primeiro, fechou o “Globo”; depois, o “Brasil”. Só o “Marrocos” resistiria, chegando aos noventa.

Durante algum tempo, entre os setenta e os oitenta, os inferninhos de Vitória se concentravam na Duque de Caxias. Havia o “Belle Star”, o “Annelise”, o “Mona Lisa” e, numa transversal, na escadaria, onde depois seria o “Caldo Lira”, o melhor de todos, o “Farolito”.

Com o fechamento do “Globo” e do “Brasil”, os boêmios passaram a se concentrar no “Marrocos”, que quase como o saudoso “Mar e terra” também não fechava. O “Marrocos” foi uma legenda na história etílica desta ilha, com dois dos maiores garçons de todos os tempos: Cariacica e Arlindo.

A verdade é que com o passar do tempo, não só a rua, mas também a cidade foi mudando. E, muito lenta, muita lentamente mesmo, foi tomando corpo um processo de esvaziamento do centro. Aos poucos, foram se reduzindo as residências. As famílias se transferiam para a Praia do Canto e, depois, para Jardim da Penha, e suas primitivas moradias eram convertidas em lojas, em pontos comerciais. Em seguida, foi a vez dos bares e restaurantes. A “Cantina Florença”, de Mário Canginni, saiu da escadaria Maria Ortiz e foi para Bento Ferreira, onde virou o “Mários”, O “Britz”,após uma tumultuada pendência judicial fechou. Outra sorte não teve o “Da Luigi”. Fechou também o “QG dos Esportes”, ao lado do Carlos Gomes. O “Esplanada” ainda resistiria algum tempo, antes de serrar as portas. Com o fim do “Beco da Miséria”, sumiu o “Bar do Rall”.

Passada a febre das lanchonetes, sucumbiram, uma a uma, a “Cipó”, a “Petrópolis”, a “Rio Doce” e a “Domani”. O “Sagres” há muito deixava de existir, com suas mesinhas e cadeiras do lado de fora. Mas o pior de tudo foi o “Menezes”, o incrível “Bar e Bilhar Menezes”, que um incêndio levou para sempre. Tudo isso para lembrar como o centro foi mudando na capital que crescia.

É claro que a Duque de Caxias não poderia resistir e, quase no mesmo ritmo, também foi mudando. E o “Marrocos”, que antes quase não fechava, passou a fechar cada vez mais cedo: Primeiro, à meia-noite; depois, às 23:00 horas; em seguida, às 22:00 e, logo-logo, às 21:00. Agora, coisa de alguns meses atrás, o “Marrocos” fechou de vez, depois de ter conseguido fingir, por um bom tempo, que só ele não passava, na rua que mudava. Não, meus amigos, a velha Duque de Caxias passou. Eu a vi passar.

 

Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, nº 44, 1994
Autor: Miguel Depes Tallon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2012

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