Rua Thiers Veloso (ex-rua da Lapa)

Com referência a esta antiga artéria, leia-se o que escreveu o professor Amâncio Pereira em seu livro Homens e cousas espírito-santenses (1897):
“Pelo seu nenhum valor, teve por primitivo nome o de rua da Pabulagem, dado pelo governador Rubim.
Possuía mangue e mato, existindo estreito caminho que dava passagem para o Campinho, havendo, no fim dela, uma ponte de madeira e uma cancela.
Formava uma curva, que terminava próximo ao local onde está edificado o quartel da polícia.
Quem primeiro edificou aí uma casinha de esteios, com cobertura de palha, foi Lourença Corrêa de Sant’Anna, avó falecida de Dª. Inácia Martins, tendo para sua feitura tirado madeira do próprio morro do Campinho.
Estava Dª. Lourença amarrando a cumeeira, quando passou o governador Rubim, que lhe perguntou o que estava fazendo, e, respondendo ela que se ocupava da feitura daquela casinha, para residir com seu filho, Rubim prosseguiu seu itinerário e, com pouca demora, mandou dois caboclos auxiliarem-na na construção da referida casa.
Cremos que fora nessa ocasião que o governador Rubim chamou a rua, que se formava, - rua da Pabulagem.
A segunda foi feita por Maria dos Santos. As habitações, que nela se edificaram, eram de esteios, com a cobertura e portas de palha.
Dois tecelões existiram nessa rua, um de nome Frederico e outro chamado Joaquim Rodrigues, que chegaram a exportar pano para o Rio de Janeiro, além de vender aqui em Vitória para velas de embarcações e ainda para confecção de lençóis, camisas de trabalhadores e de sacos próprios para o comércio de farinha, sendo que toda a matéria-prima, o algodão, obtinham aqui mesmo, em Vitória.
Esses dois pequenos engenhos eram instalados na própria casa em que residiam Frederico e Joaquim, que se mantinham exclusivamente desse ramo da indústria, sendo que seus teares jamais deixaram de funcionar, em virtude da grande extração, que os comerciantes davam aos panos por ele fabricados, pois, até então, bem pouco se usavam os sacos de aniagem.
Houve aí, um curtume, que depois foi retirado, indo se instalar à ladeira, que ainda hoje é conhecida por muitos pelo nome de ladeira do curtume e próximo a ela um poço, a que davam o nome de buraco da mãe Teresa.
Seus moradores, em maioria, viviam de extração de lenha no mangue aí existente, da pesca e da fabricação de cal, não só em suas proximidades, como na praia da ilha do Príncipe.
Imaginemos o que fosse esta rua em outras épocas, se, ainda em 1833, lê-se na Província do Espírito Santo, de 25 de abril, a pergunta de que se tal rua existia, ou se era um mito, acrescentando que “as casas, uns pardieiros sem conforto, estavam quase todas em ruínas e a viela, por onde transitavam os viajantes e os costumados ao giro burguês, à tarde, em direção ao Campinho, achava-se eriçada de mato – quase uma floresta e que pedia uns beijos das enxadas”.
Na lei do orçamento, a Assembleia Legislativa Provincial, em 1860, autorizou o presidente da província a mandar fazer o aterro dessa via pública, a fim de impedir que, nas grandes marés, fosse inundado o caminho em direção ao Campinho, tendo o engenheiro da província orçado os serviços indispensáveis com o aterro e um pontilhão em 238$240 réis.
Cremos que um novo aterro aí fora levado a efeito, pois do relatório do presidente Dr. Costa Pereira Junior evidencia-se ter sido concluído o aterro desta rua em 1862, ou então o caso de não ter sido levado a efeito o que havia autorizado aquela lei do orçamento.
De vez em quando, sofria uns simples reparos no seu calçamento, sendo que, além de outros que têm havido, em 4 de dezembro de 1887, a firma Guerra & Cia concordou em calçá-la pela quantia de 4:200$000.
Quando autoridade policial desta cidade, o alferes Antônio Aires de Aguiar, tendo ciência de que duas famílias deserdadas da fortuna habitavam em uma gruta situada no morro do Convento São Francisco, pois bem escassos eram os proventos que, para subsistência, obtinham da venda de cestos e arupembas feitos com matéria-prima tirada das matas adjacentes, para lá se dirigiu, a fim de reconhecer a verdade.
Condoído pelo estado em que as encontrou, mandou edificar nessa rua, à sua custa, uma modesta casa, que dividiu em dois lanços, os quais entregou ele a estas pobres criaturas para residirem sem remuneração de espécie alguma, e onde permaneceram até que se extinguiram dentre os vivos.
Com o caminhar dos tempos, esta rua, que foi retificada pelo engenheiro Antônio Francisco de Athayde, é a completa antítese do passado.
Nela encontraram-se prédios, que lhe dão outro valor e novas construções se fazem em honra do embelezamento da cidade.
Quando conheci a antiga rua da Lapa já a mesma se chamava Thiers Veloso. Não tinha, porém, o aspecto de hoje, era estreita, com várias construções fora do alinhamento. Depois ganhou outra largura, teve calçamento de paralelepípedos, ora substituído por asfalto.
O patrono, Luiz Adolpho Thiers Veloso, baiano, nasceu a 14 de junho de 1872, tendo falecido em Vitória, a 27 de agosto de 1930. Brilhante advogado, escritor e jornalista, publicou: A Constituição e o Júri (1920); Desconto da prisão preventiva no cômputo da pena (1908); Abuso de Direito (1912); Observações sobre o projeto da reforma do Código Comercial brasileiro (1916); O Divórcio (1908); O Habeas-corpus (1908); O dote da afilhada, romance, (1923); O sobrinho do cônego, idem, (1922); O Português, tese, 1924, além de outros trabalhos. Fundador de A Gazeta, atualmente o mais importante órgão da imprensa do Estado. Patrono da cadeira nº 28 da Academia Espírito-santense de Letras.
Fonte: Logradouros antigos de Vitória, 1999
Autor: Elmo Elton
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2012
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