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Teatro no Espírito Santo: a arte eterna - Por Francisco Aurélio Ribeiro

Paulo De Paula Teatro da Barra do Jucu

Beth Caser deve estar com a alma lavada e enxaguada depois do sucesso do II Festival de Teatro Cidade de Vitória: casas lotadas, gente querendo mais, artistas e espetáculos aplaudidos de pé. Um bravo! Caloroso para ela, que é a cabeça e a alma do Festival. E uma coisa é certa: o teatro, ao lado da música, são as artes mais apreciadas pelos capixabas. E isso deve vir de longe, desde quando os colonizadores portugueses aqui chegaram trazendo os jesuítas. Esses, tendo Anchieta como guia, usaram a atração de nativos e de colonos por esta arte milenar, para falar de Deus, das doutrinas de sua religião, dos conflitos entre o espírito e a matéria. Paulo de Paula e o grupo da Barra do Jucu revivem esses conflitos com a montagem simpática de Anchieta: Depoimentos.

Muitos anos depois, o teatro deixou de ser catequético e se tornou lazer; na época do Romantismo, quando foi a principal diversão da burguesia. O Teatro Melpômene, um esplendor para a época, foi o palco para os folhetins de Amâncio Pereira, Aristides Freire e Ernesto Guimarães. Virgínia Tamanini, já no século XX, liderou o movimento teatral capixaba, no Carlos Gomes, com suas peças que falavam de rainhas, druidas, dramas e fantasias da classe média e popular. O mesmo Carlos Gomes, além de outros espaços alternativos, foi o palco preferido para o teatro universitário, nos conturbados e saudosos anos sessenta e setenta. Milson e Carmélia, Amylton e Gobbi, Oscar Gama e Gilson Sarmento, Ana Lúcia Junqueira e Verônica Gomes, Elieser e Eleazar, dentre tantos, pisaram os palcos sagrados do teatro para representar, mostrar, criticar, atuar.

Mais do que nunca, o teatro está vivo na terra dos Coutinho, e não só em Vitória. Cresci assistindo à paixão de Cristo, sempre representada pelo povo na Semana Santa; à coroação de Maria, espetáculo teatral religioso que se encenava nos meses de Maio, em todos rincões capixabas; no ginásio Salesiano, passávamos todo ano representando no teatrinho do prof. Agostinho Bastianello, o criador do presépio de Jaciguá; na faculdade, o teatro literário encabeçado pela profa. Marina Coelho rendeu frutos e muita saudade. Tanto no norte quanto no sul capixaba, o teatro se manifesta de várias formas. Wilson Coelho traz e leva o teatro latino-americano em mostra internacional em Colatina. César Huapaya o associa às fontes afro-ameríndias e o revive em Vitória. Carlos Ola agita o teatro de Guaçuí. São Mateus e a Barra são o próprio teatro negro, com o jongo, o ticumbi, o alardo. Alfredo Chaves, terra de Haydée e Mendes Fradique, tem, hoje, uma Francisca Mota, que recria com os alunos um teatro de busca das origens. Cachoeiro, terra dos Braga, respira teatro, pios e sabiás, mesmo às margens poluídas do Itapemirim.

O Espírito Santo já é um cenário natural esculpido por Deus, para que o teatro não morra jamais. Dos Pontões ao Itabira, do Frade e a Freira à Pedra da Ema, do Moxuara ao Mestre Álvaro, das montanhas eróticas do Caparaó às de Nova Venécia e Pancas, não há só granito subterrâneo que traz riquezas e mortes, mas todo um povo que sabe ser a vida não uma, mas duas: uma para ser vivida e outra para ser sonhada. Todos somos artistas, estejamos no palco ou na plateia. Fazemos parte do grande espetáculo da vida que se encena a cada dia. Drama e comédia, farsa ou musical, a vida é vivida, cotidianamente, em atos e performances. Choramos ou rimos, calamos ou aplaudimos. Nós somos o espetáculo, que estreia quando se nasce. Somos todos artistas, ao mantermos, constantemente, em cartaz, o maior espetáculo da Terra: a vida.

 

Fonte: Adeus, amigo e outras crônicas – Editora Formar, 2012 - Serra/ES
Autor: Francisco Aurélio Ribeiro
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2020

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