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Triângulo da Fumaça – Por José Carlos Mattedi

A Praia do Suá, num diálogo de açougues e bares, inventou o Triângulo da Fumaça

Todo esse crescimento e desenvolvimento vivido pela Praia do Suá moderna, porém, não fez apagar aquilo que talvez mais orgulha os nativos: a maioria ainda se conhece, e muitos mantêm parentesco sanguíneo, como em cidades pequenas. Essa união familiar e de amizade, leva a crer que todos foram embebidos pelo idealismo dos velhos marujos, que sempre buscaram preservar a irmandade entre aqueles que tinham no sangue a água salgada do mar. É por isso que ninguém arreda pé dali, ou, quando o fazem, sempre procuram ficar por perto. Um exemplo é o conhecido Triângulo da Fumaça, uma transversal entre as ruas Almirante Tamandaré e Ferreira Coelho, lugar frequentado pelos membros da antiga "galera da praia".

O apelido do local vem da fumaça provocada pelas churrasqueiras, fornecidas pelos donos de bar aos clientes que, invariavelmente, compram dos açougues vizinhos a carne para assar, numa perfeita comunhão do comércio praiano. Esse "fumacê" atrai gente de fora, mas, principalmente, muitos dos antigos e atuais "filhos do Suá", que não esquecem suas raízes. Quem viveu naquelas ruas sempre tem uma boa anedota para contar, afinal, todos cresceram juntos, seja brincando nas águas da ex-prainha, seja correndo nas areias do aterro que um dia apagou a beleza natural do bairro.

Edificações

O Suá conta com algumas edificações conhecidas no Estado, como o prédio da Biblioteca Pública Estadual, a Colônia de Pescadores Z5, e mais o restaurante, a igreja e o hospital, cujos nomes homenageiam o padroeiro do bairro: São Pedro.

Restaurante São Pedro

Sem dúvida, é o ponto da Praia do Suá mais conhecido no Espírito Santo e além de suas fronteiras. Se a moqueca capixaba hoje é famosa em todo o país, é graças também — ou muito — às mãos mágicas de dona Almerinda, esposa de Ercílio Alves, fundadores do restaurante e já falecidos. Inaugurado em novembro de 1952, era uma pequena casa com apenas cinco mesas. Começou servindo uma apetitosa vitela ensopada com legumes, até que um dia descobriram o prato que daria destaque ao estabelecimento. Assim conta Délio Grijó de Azevedo, em sua obra A Ilha de Vitória que Conheci e com que Convivi:

“Certo dia, perguntamos a dona Almerinda se havia possibilidade de preparar uma moqueca. Ela ponderou que seria impróprio servir tal prato, devido ao espaço. Então propusemos que ela preparasse no sábado. Ela aceitou, e lá estávamos comendo uma maravilhosa moqueca papa-terra, e que seria o início do serviço de moquecas no restaurante. Dali em diante, começamos a propagar o prato. Certo dia, lá estavam: Dr. Beleza, Mário Pretti, João Miranda, Pedro do Rosário, Mário Tavares e outros. Estes, ao invés de jogarem suas canastras no Bar Glória, passaram a jogar à sombra de uma árvore ao ar livre. O Ercílio, que tinha um armazém de secos e molhados, já passava a olhar a possibilidade de aumentar a área física. Primeiro fez uma puxada tipo meia-água e mais tarde ampliou a área do quintal. A fama foi correndo, e o local passou a funcionar pela parte da noite".

Autoridades e artistas nacionais que visitavam a capital capixaba, tinham, obrigatoriamente, que conhecer o tempero de dona Almerinda. Nos cadernos de autógrafos do restaurante, há assinaturas ilustres. Alguns nomes — política: Juscelino Kubstichek, Magalhães Pinto, Carlos Lacerda, Jones dos Santos Neves, Carlos Lindenberg, Ademar de Barros, Ulysses Guimarães e Lula; escritores: Rubem Braga e Dias Gomes; músicos: Nelson Gonçalves, Alternar Dutra, Ataulfo Alves, Jamelão, Ari Barroso, e os grupos Ultraje a Rigor, Engenheiros do Hawaii e Titãs; comediantes: Chico Anysio e Os Trapalhões. Não se sabe quantos autógrafos os livros guardam, são muitos, principalmente de atores. Entre as dedicatórias, destacam-se a de Luiz Gonzaga ("Viva São Pedro, o pescador das escrituras") e a do cartunista Ziraldo ("A alegria já começa pelo cheirinho bom").

Meio século depois, o São Pedro continua sendo urna referência capixaba em termos de culinária de frutos do mar. Ainda é ponto de reuniões políticas, apesar de já não ter a fama de antes devido também ao crescimento da cidade. Em maio de 1977 faleceu dona Almerinda, e seu Ercílio em julho de 1995, ele que era conhecido como "Pirão", apelido ligado ao prato de acompanhamento da moqueca. Hoje, tomam conta do restaurante três filhas do casal: Ruth, Janete e Ivonne. "Considero o São Pedro um cinqüentão que honra a nossa culinária, tendo como carro-chefe o nosso prato mais consumido e. mantendo urna linha de cocção impecável para o nosso orgulho", derrete-se Grijó. 

 

Fonte: Praia do Suá – Coleção Elmo Elton nº 9 – Projeto Adelpho Poli Monjardim, 2002 – Secretaria Municipal de Vitória, ES
Prefeito Municipal: Luiz Paulo Vellozo Lucas
Secretária de Cultura: Luciana Vellozo Santos
Subsecretária de Cultura: Joca Simonetti
Administradora da Biblioteca Adelpho Poli Monjardim: Lígia Mª Mello Nagato
Conselho Editorial: Adilson Vilaça, Condebaldes de Menezes Borges, Joca Simonetti, Elizete Terezinha Caser Rocha, Lígia Mª Mello Nagato e Lourdes Badke Ferreira
Editor: Adilson Vilaça
Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Cristina Xavier
Revisão: Djalma Vazzoler
Impressão: Gráfica Sodré
Texto: José Carlos Mattedi
Fotos: Raquel Lucena
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2020

Bairros e Ruas

Escadaria São Diogo - (ex-ladeira da Pedra)

Escadaria São Diogo - (ex-ladeira da Pedra)

O local da escadaria era chamado originalmente de Ladeira da Pedra, por ter na época uma precária escada esculpida diretamente na pedra bruta. Em 1942, foi construída uma nova escadaria e, com seu estilo eclético

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