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Vida Capixaba - O Retrato de uma sociedade (Parte I)

Capa do Livro: Vida Capichaba: O Retrato de uma Sociedade - 1930

Introdução

A imprensa não é um produto natural de uma sociedade, mas é o resultado da necessidade do homem em expressar seus sentimentos, suas opiniões, suas atitudes, sua postura diante da vida e da realidade social. Qualquer meio de comunicação sempre está impregnado pela "posição social" dos seus interlocutores, pois o autor nunca está ausente da obra que produz. Segundo Prost (1992:142), a imprensa "sendo uma janela aberta para o mundo, ... é ao mesmo tempo a expressão de um espaço de convívio ampliado", desencadeando efeitos e influências sobre a vida social. Neste sentido ela funciona como um espelho onde as pessoas podem se reconhecer ou não. Para que este reconhecimento seja o mais próximo possível da realidade, busca-se conferir das informações uma garantia aparente de autenticidade, obtidas geralmente pela introdução de técnicas jornalísticas e objetos de interesse e conhecimento do público. As ilustrações (desenhos ou fotografias), os artigos específicos (moda, decoração, turismo, esporte, etc.), a publicidade (propagandas), juntamente com as informações de fatos e acontecimentos contribuem para a construção de novos valores e novas formas. Prost (1992) argumenta ainda, que um novo modo de vida e talvez de ética esteja sendo modelado pela imprensa e os valores e as ideias da sociedade se transformam a partir dela. As pessoas julgam que estão pensando por suas próprias cabeças, mas acabam repetindo as opiniões dos cronistas contemporâneos. Encenar o real, produzir textos em que os fatos se apresentem como "fantasias do real", onde a informação é sempre construída de maneira essencialmente mágica, é a análise que Serra (1980) faz da imprensa. O fato não deve ser apenas noticiado, mas sua redação deve conduzir o leitor a fazer parte dele. O texto ou as imagens não nos passam pura e neutra informação.Os meios de informação buscam então, produzir um "efeito de apresentação da realidade", isto é, colocam-se como o "meio" através do qual os fatos reais são transmitidos ao público. Serra (1980) acredita que os leitores passam a enxergar a realidade pelos olhos da imprensa (o meio), tendo em vista que a partir de seu próprio olhar não conseguiriam enxergá-la. A autenticidade e a credibilidade do "meio" se sobrepõe ao próprio real, demonstrando a amplitude e a onipresença dos meios de comunicação. A maneira como os fatos reais são transmitidos pela imprensa à população, esta indiscutivelmente vinculada aos interesses de grupos ou individuais, geralmente ligados as classes dominantes. No Espírito Santo esta postura ficou latente na análise de Muniz (1997), que problematiza a distância entre o poder e o povo na imprensa capixaba. Em suas considerações a autora esclarece que, apesar do meio de comunicação transmitir problemas cotidianos da população, ele se reserva o direito de "escolher" quais problemas devem ser divulgados, distorcendo claramente o caminho da imprensa, que deve ser o de abordar a sociedade como um conjunto e não de forma excludente. A imprensa desta forma funciona como reprodutora e não como objeto de reflexão da sociedade. Esta postura conservadora perante a linha editorial de uma publicação conduz a uma visão reducionista da sociedade, produzindo o efeito de "desmobilização política". A sociedade capixaba, no início da década de 30, não tinha quase nenhuma expressão nacional e refletia em grandes proporções os acontecimentos do eixo Rio-São Paulo, na busca de uma sociedade civilizada primeiro mundista. Pacheco (1998) esclarece que a história da cidade de Vitória, reflete ações ocorridas no eixo dominante do país, na busca de compartilhar os acontecimentos locais com ideais de uma vida civilizada, identificada com as maiores cidades do país e do mundo, numa visão de dependência e subordinação. A sociedade capixaba em 1930 se caracterizava como tradicional machista e conservadora e seguia uma postura, segundo Pacheco (1998), oligárquica-agrária-tropical-exportadora. Predominavam os funcionários públicos, os comerciantes e alguns profissionais liberais, além dos coronéis produtores de café. A imprensa sofria censura da nova ordem política e a vida intelectual vitoriense influências do Rio de Janeiro. Apesar da forte influência intelectual do Rio de Janeiro, a imprensa capixaba consegue através da Revista "Vida Capixaba", atuar como um elemento de construção da sociedade local. Lançada no ano de 1923 se manteve como a revista de maior circulação em Vitória até 1954, foi um instrumento de reprodução das ideias da elite local e, por estar inserida em um contexto multifacetado vivido pela sociedade capixaba, se tornou o veículo de influência mais atuante da imprensa no final da década de 20 e início da década de 30.

 

Sobre o Autor: Graduado em História (Bacharelado e Licenciatura) pela Universidade Federal do Espírito Santo, Mestre em Economia pela mesma Universidade. Doutor em História Social pela FFLCH/USP. Atua nas áreas de História do Brasil; História do Espírito Santo; Gestão e Políticas Públicas; Economia Brasileira. Professor; Pesquisador; Orientador; e Gestor. Experiência em EAD.

 

Fonte: “Vida Capichava”: O Retrato de uma Sociedade – 1930. Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo - 2007
Autor: Jadir Peçanha Rostoldo
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2019