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Vila Rubim

Vila Rubim

Assinalam os registros que a Cidade de palha, trecho seguinte à Vila Moscoso, ocupado, quase todo, pelo sítio do Dr. Leopoldo Cunha, era composta de casas de sapé. Talvez a primeira favela de Vitória. Em junho de 1895, o Governo Municipal, o primeiro da República, que tinha as mesmas atribuições das atuais Câmaras Municipais, sob a presidência de Cleto Nunes, que foi sempre eleito para executar o grande plano de obras municipais no governo Moniz Freire, aprovou a planta do arruamento, nos morros anexos à Vila Moscoso, pertencentes a Companhia Torrens. Essa importante Empresa chegou assinar um contrato com o Governo Municipal para realizar diversos trabalhos urbanos, inclusive o abastecimento de água à população, dando início a construção dos alicerces do grande reservatório no morro de Santa Clara. A 16 de setembro do mesmo ano, Cleto Nunes propôs então que a “Cidade de palha” se denominasse Vila Rubim, em homenagem ao governador da capitania, de 1812 a 18190, e que deixou nome nas letras e no campo administrativo do Espírito Santo.

Francisco Alberto Rubim da Fonseca e Sá pereira desde 5 de outubro de 1812, governava a capitania, nomeado a 12 de junho do mesmo ano, em condições especiais, pois de acordo com o decreto de 13 de setembro de 1810, a capitania ficara independente da Bahia. Passou o governador a entender-se diretamente com o governo geral. A data de 5 de outubro está assegurada pelo ofício dirigido ao Conde de Galveas, no dia 8, pelo próprio governador, que chegava no dia 1º ao Espírito Santo. Sua nomeação foi feita pelo Príncipe Regente, que já estava no Brasil.

Rubim abriu estradas e incentivou o povoamento, incansável marujo a serviço do Espírito Santo, pagou 16.000$000, cota estipulada pelo Governo Geral, como contribuição do Espírito Santo para fundação do Banco do Brasil, o primeiro criado no país, pelo alvará de 1º de outubro de 1808, importância apreciável na época. Alguns historiadores distinguem-lhe o merecimento profissional da paixão política. Apresentam-no como digno de benemerência, de princípios sadios, medindo o seu valor pela diferença positiva entre os seus bons e maus atos, durante os sete anos de governo. Enumeram-lhe as realizações na vila de Vitória, e anotam-lhe o saldo credor, muito maior do que os do que precisava, pois seu antecessor Manoel Vieira de Albuquerque Tovar fizera mau governo: proteção contra o ataque dos índios aos lavradores, que procuravam novas terras incultas; estímulo à agricultura mais rendosa, que não fosse algodão, milho e farinha de mandioca; abertura de estradas de penetração para o sertão. Entusiasta da instrução pública, funda escolas de ler, contar. Inicia a fundação da povoação de Viana, colonizando o antigo sertão de Santo Agostinho, com trinta casais açorianos que chegam a 13 de fevereiro de 1812, trazidos por Paulo Fernandes Viana, e recebem glebas para desenvolver o antigo Pau Gigante, atual município de Viana em homenagem ao Intendente Geral de Polícia do Rio de Janeiro, protetor do Espírito Santo e da colônia, que se fundaria sob seu patrocínio. O problema assistencional o preocupa.

Era necessário construir-se um hospital de caridade porque a casa de misericórdia não tinha sede adequada. Instalada na venerável igreja do Rosário, em Vila Velha, transferida depois para Vitória, não teve onde pudesse realizar seus objetivos, não obstante os favores obtidos com o alvará do 1º de julho de 1604, passado por Felipe III, que a equiparara à de Lisboa, fundada por D. Leonor de Áustria, que dedicou o fim de sua vida a instituições de caridade. Luiz Antônio da Silva, proprietário, associa-se a Alberto Rubim, na nobre tentativa de promover a construção do hospital.

Realizam-se, em 1813, as providências preliminares. Além de promover subscrições entre comerciantes, amigos e parentes no Rio de Janeiro, Luiz Antônio da Silva doa uma casa à nova instituição. D. Maria de Oliveira Subtil, acometida de cegueira total quando ainda jovem, além de doar a sua fazenda “Campinho”, concorre ainda com dinheiro para a aquisição de equipamentos e pertences. Inicia-se então a construção do hospital no alto da colina fronteira à Ilha do Príncipe, porque todo baixo era constituído de mangue e pontas de mar. O governador Rubim alcança, junto ao Príncipe Regente o decreto de 23 de dezembro de 1817, que permite além da construção, filiá-la aos favores e cuidados da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, confirmando-lhe doações e privilégios para “cobranças de taxas sobre vendas de taboas e gêneros alimentícios”. Alberto Rubim fundou escolas e construiu igrejas, lançando ele próprio a pedra fundamental da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, de Viana, a 15 de dezembro de 1815. Concedeu sesmarias e dispensou tributos. Abriu estradas ligando o colono ao centro consumidor e organizou a Companhia de Navegação Rio Doce. A Vila de Vitória mereceu cuidados especiais, em favor dos moradores insulados: os mangais, as fontes de água potável, o aspecto das casas, os cais de atracação de barcos, os alagadiços do caminho do “porto dos padres” ao hospital em construção, os banhados do Pelames, designação do antigo, adjacente ao Convento do Carmo, onde havia um cortume que lhe deu o nome Pelames; as lagoas de águas pluviais e pontas de mar do Largo da Conceição, atual praça Costa Pereira, receberam os primeiros lenções de terra, facilitando a caminhada dos pedestres a pé enxuto. Pequenas calçadas nas ruas da cidade baixa e reparo nos quartéis, igrejas e fortes, foram obras de caráter urbano. Torna obrigatória a limpeza e reconstrução das fachadas, manda levantar a planta da zona urbana e faz novo censo da população da capitania: 24.587 almas, incluindo-se 12.100 escravos, em 1817. O estudioso Cesar Marques anota: “Embora considera-se arbitrário e déspota, por alguns atos cometidos, mas força confessar que foi o que mais trabalhou”.

O historiador Heribaldo Lopes Balestrero, membro da Academia Espírito-Santense de Letras, anota na sua proveitosa pesquisa “O povoamento do Espírito Santo”, pág. 88 “Quando as funções militares, foi ele o primeiro governador independente quer tivemos, tendo encontrado a capitania apenas com seis vilas, inclusive a da capital, a algumas aldeias de pescadores espalhados ao longo da costa, todas na mais completa pobreza”. Válido da corte, amigo do conde de Linhares, sobrinho de Paulo Fernandes Viana, Intendente Geral de Polícia do Príncipe regente, depois D. João VI, cargo equivalente ao de ministro de Estado, Rubim, homem de letras, escreveu “Memória Estatística da Capitania do Espírito Santo”. Realizou intensa propaganda da capitania, atraindo a atenção de cientistas e naturalistas da Europa, despertando-lhes a curiosidade de trilhar as palgas espírito-santenses, alguns deles citados pelo festejado historiador Levy Rocha, em “Viajantes Estrangeiros no Espírito Santo”.

Alberto Rubim, ao deixar o governo do Espírito Santo, a 23 de dezembro de 1819, foi nomeado para a capitania do Ceará, cujo governo assumiu a 13 de julho de 1820. Ali, sua administração não foi menos vigorosa. É de sua autoria “Memória da Revolução do Ceará”.

Capitão de mar e guerra, da marinha portuguesa, ganhou todos os postos por distinção, no serviço das esquadras lusas no Mediterrâneo, de 1790 a 1799 e na costa da África, quando veio para o Brasil. Nascido em Lisboa a 27 de janeiro de 1768, faleceu a 14 de novembro de 1842, aos 74 anos de idade, era Comendador da Ordem Militar de Cristo.

Filho da Vila Rubim, bairro sumamente poético por ruas tortuosas, lembrando o conjunto inspirado pelo trabalho de cenografia, ali passei a minha infância, E só depois de ter lido tudo quanto escreveu sobre o valoroso cabo de guerra lusitano, compreendi os motivo da homenagem sentimental que em nome de Vitória lhe tributou Cleto Nunes, que depois brilharia como deputado federal e senador da República.

 

Nota da Site: Supomos que houve uma troca de nomes, quando o autor se refiriu ao lugar "Pau Grande" como o atual município de Viana e não o de Ibiraçu, que assim chegou a ser chamado.

 

Autor:José Higyno de Oliveira - Taneco - Vitória, maio de 1991
Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. 1991/ 1992. Nº 41
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2012

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