Carnaval antigo de Vila Velha
Fonte:
Vila Velha de Outrora
Autora: Maria da Glória de Freitas Duarte
Esta
festa tão antiga vem através dos tempos, predominando
na preferência do povo brasileiro. O brasileiro tem
o Carnaval no sangue e nos três dias dedicados ao Rei
Momo, pobres e ricos, pretos e brancos, velhos e moços,
não resistem ao som das suas belas marchas e sambas.
O Carnaval de Vila Velha também tem a sua tradição.
Logo no seu início as mulheres não se fantasiavam,
porém os homens caprichavam para apresentar fantasias
caras ou extravagantes, mas com o rosto coberto para que não
fossem reconhecidos. Isto era muito importante.
Dentre as fantasias mais sugestivas do Carnaval antigo, podemos
destacar o PARAFUSO: homem vestido com saias brancas engomadas,
de tamanhos diversos, diminuindo de baixo para cima. Estas
saias eram amarradas na cintura e no pescoço. Na cabeça
trazia um enorme cone de um metro de altura, fazendo a ponta
de um parafuso. O bico do cone era enfeitado com frutas naturais.
Acompanhado
por harmônica (sanfona e violão), saía
cantando:
“Quem
quiser ver o bonito
Venha bem devagarinho,
Venha ver o Parafuso
Na rua Ferraz Coutinho.
Quem
quiser ver o bonito,
Com prazer no coração,
Venha ver o Parafuso
Lá na rua do Torrão.
Quem
quiser ver o bonito
Saia fora e venha ver,
Venha ver o Parafuso
Até o dia amanhecer.”
Outro tipo interessante do nosso Carnaval do século
passado era o MANDU – um homem com uma enorme peneira
na cabeça, coberta por um lençol amarrado na
cintura, fazendo uma grande cabeça. Da mesma época
são as NÚVEIS. Provavelmente esta figura carnavalesca
era uma cópia, um pouco alterada, da “nuvem artificial”,
referida pelo Padre Antunes Siqueira, no seu livro Esboço
Histórico dos Costumes do Povo Espírito-Santense.
Uma grande armação de cipó ou arame,
coberta de tarlatana branca forrada de azul, fazendo fofos
aqui e ali, presos com pequenas estrelas de papel prateado.
Esta espécie de saia ia até o chão de
modo a não serem vistos os pés da pessoa. Da
cintura saíam duas pernas postiças, dando a
impressão de que a pessoa estava sentada sobre as nuvens.
Tocando clarim e tambor, passeava pelas ruas com grande acompanhamento.
Havia ainda o BATE-MOLEQUE, distribuindo vinténs e
sequilhos para a molecada que, com ele alternava:
- Ora bate moleque – Bate sim senhor
- Minha barriga é grande – é de samburá
- Ora bate que bate – Bate sim senhor
- Ora bate na mão (Todos batiam palmas)
- Moleques vocês querem sequilhos? – Queremos
sim senhor
- Vocês querem dinheiro? – Queremos sim senhor
- Então aí vai...
E jogava vinténs, sequilhos e biscoitos para a garotada
que se embolava no arcal na disputa do seu quinhão.
Os MACACOS – que batiam nas crianças com sua
grande cauda e assobiavam, dando a impressão de que
o assobio era na cauda.
ENTRUDO - bacias d'água eram atiradas em quem passava,
bem como “limões de cheiro” feitos de uma
camada de cera muito finas e cheio de perfume. Atirados sobre
a pessoa escolhida, rebentavam o perfume era derramado.
Já no sábado de Carnaval, às 4 horas
da madrugada, saía o ZÉ PEREIRA. Batendo um
grande bombo cantavam:
“Viva o Zé Pereira
Viva o Carnavá,
Numa bebedeira
Não deixo ninguém brincá.”
Trá... lá... lá... lá... trá...
lá... lá... lá...
Trá... lá... lá... lá... lá...
lá...
Trá... lá... lá... lá... lá...
lá... lá... lá... lá...
E batia no bombo: bum... bum... bum... Zé Pereira!
Bu... bum... bum... bum... Carnavá!
No domingo à tarde, saía a bandinha da cidade
tocando pelas ruas; na frente dançavam os máscaras
e as “manjubas” (assim chamavam as crianças
fantasiadas).
No último dia faziam o “enterro dos ossos”
(do carnaval). Carregavam uma espécie de ataúde
feito de uma barrica e, dentro desta, um mascarado com uma
garrafa na mão, e já “embriagado”,
representava a despedida.
Isto era o Carnaval do século XIX na minha querida
terra.
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