Nossa Senhora da Penha – Vitória, 4º Centenário de fundação
Aproximavam-se as comemorações de outra efeméride extraordinária da terra espírito-santense, — o Quarto Centenário da fundação desta Cidade, primitivamente, Vila Nova, depois Vila da Vitória e, finalmente, Cidade da Vitória.
Projetou-se um programa festivo de trinta dias, estendido portanto a todo o mês de Setembro de 1951, embora dados históricos indicassem o dia 2 de Abril, como o certo, da passagem de real importância, na evolução social e histórica do lugar. Justificava-se, porém, o fato pela supremacia da tradição, ligada à vitória dos colonizadores sobre os silvícolas e conseqüente consolidação da vida administrativa, na Ilha de Duarte de Lemos.
Voltou-se, muito justamente, o pensamento das autoridades civis e religiosas para Nossa Senhora da Penha, — a Padroeira do Espírito Santo, e uma viagem triunfal da estátua que, desde 1570, representa a jóia mais preciosa do nosso relicário histórico, foi incluída, em destaque, no programa comemorativo.
Assim, pela terceira vez, Nossa Senhora da Penha veio à Cidade da Vitória, conduzida pela Fé e pelo Amor do povo capixaba. Dia inesquecível! À tarde, enquanto espocavam os fogos, repicavam os sinos e vibravam, no ar, as exclamações jubilosas do povo, surgia, ao longe do Penedo, o barco embandeirado, festivo, capitania da procissão marítima, portadora da imagem. Delírio da multidão apinhada em todos os cais, praças, ruas marginais e outros pontos acessíveis à visão do grandioso espetáculo de Amor e Confiança! ...
Viva Nossa Senhora da Penha! ...
E o barco avança lentamente e belo! ...
Lanchas rápidas singram a baía, em todos os sentidos.
Evoluções graciosas! Bandas de música rompem marchas, que eletrizam o entusiasmo da multidão! Vozes se elevam! Hinos a Nossa Senhora da Penha!
Ela vem. E o povo comprime-se para recebê-la, no cais fronteiro à Praça 8 de Setembro.
Brotam ali e aqui, lágrimas de júbilo, de gratidão, de todos as vibrações, nos recônditos do coração humano!
Forma-se a procissão até a catedral. Procissão comovente e bela, nunca presenciada, em Vitória, acompanha o carro-monumento.
Durante uma novena de preces, Nossa Senhora da Penha recebeu, no primeiro templo do Estado, a visita contínua do seu povo estremecido. Velhos, moços, pobres, ricos, doente e crianças, em desfile ininterrupto, foram prestar-lhe suas homenagens. Quanta gente, impossibilitada de subir a montanha, em Vila Velha, hauriu o conforto inefável de ver Nossa Senhora da Penha.
No dia 8, realizou-se a coroação da imagem, na Praça da Catedral. Houve, em seguida, a procissão pela Cidade.
Finalmente, o regresso de Nossa Senhora ao seu templo tradicional, no rochedo, assinalou o apogeu das comemorações relativas ao Quarto Centenário de Vitória. Um adeus comovido do povo acompanhou o carro até a ponte, até a estrada, até longe, muito longe! ...
Cessaram, então, os Vivas! ... porque a saudade, na despedida, repontava e diluia-se, nas lágrimas que brotavam em milhares de órbitas. "Que pena! Ela vai-se embora"! ... era a exclamação geral.
Sim. Nossa Senhora da Penha regressou ao seu templo sagrado; mas, o sentimento puro e sincero do seu povo guardará imperecível a recordação daqueles dias venturosos da sua visita; e as gerações futuras hão de ler sempre, com enlevo, este soneto inspirado naquele dia de deslumbramento e de Fé: —
A VISITA DE NOSSA SENHORA DA PENHA A VITÓRIA
Augusto Lins
Quando chegastes, os que em Vós confiam
A Virgem Milagrosa ovacionavam,
Foguetes, entre nuvens, espocavam,
Lábios e olhares, sem querer, sorriam...
Festas de igual fulgor jamais haviam
Constado, entre as que as crônicas narravam,
Os habitantes da Ilha vos saudavam,
Muitos, em Vós, a Hóspede Insigne viam.
Então, horas de dor já nos rondavam
E um oceano de prantos escondiam.
Quando voltastes, novamente atroavam
Foguetes no ar e bombas estrugiam,
Mas, só preces, que os lábios balbuciavam,
E adeuses, entre as lágrimas, se ouviam...
Fonte: O Relicário de um povo – O Santuário de Nossa Senhora da Penha, 2ª edição, 1958
Autora: Maria Stella de Novaes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2018
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